24.1 C
Juruá
sexta-feira, abril 19, 2024

Artigo: Era uma vez, uma cidade cor de rosa II

Por

- Publicidade -

por Leandro Altheman

O recém-formado advogado entra no gabinete da pantera cor de rosa, apresentando a conta da fatura: 192 mil reais.

-Essa é a verba de gabinete a que o vice tem direito. Ilderlei mandou que eu viesse até aqui buscar.

Versada em caminhar em seus elegantes tailleur pelo Itamarati, Zila teve a paciência de explicar ao jovem advogado que a verba destinada ao gabinete tratava-se de uma rubrica. Ou seja, não existia enquanto numerário em um cofre, da qual ele pudesse sair dali com em uma mala.

-Tá vendo aquela parede ali? Então. O dinheiro está ali. Você consegue ver? Não, né? Pois é. Do mesmo jeito é essa verba que o Ilderlei está cobrando.

Mesmo que as negativas de Zila em atender às solicitações de Ilderlei fossem resultado principalmente da necessária responsabilidade fiscal- exigência mínima que se faz a um gestor público- foram interpretadas pelo seu vice como manobras para evitar que ele pudesse usufruir de sua parte do bolo. Afinal, ele pagou para isso.

Foi pela TV Gazeta de Rio Branco que a equipe da prefeitura ficou sabendo do rompimento de Ilderlei.

– A prefeita Zila não quer me dar espaço. Tirou até meu gabinete.

Contam os partícipes de sua administração que tratava-se de uma reforma na prefeitura, a que teria desalojado, a própria prefeita. Os gabinetes de cada um deles passaram a funcionar em uma sala alugada na catedral.

Mas já não havia mais clima para o diálogo.

O vice prefeito continuou aprontando das suas. Ao regresso de uma das muitas viagens de Zila, em que ele por direito havia tornado-se o prefeito da cidade, foi lhe apresentada a fatura: 30 mil litros de combustível. Gastos em um único fim de semana. Sem prestar contas de onde o combustível havia sido gasto, Zila viu-se obrigada a pagar a conta feita em nome da prefeitura de Cruzeiro do Sul.

Da vez seguinte, mais um acinte: um empresário local apresentava-lhe a nota de um rolo de arame comprado em uma loja de ferragens.

-Arame? A prefeitura não tem fazenda…

Mas Ilderlei tem suas terras e sua granja. Suas e seus apaniguados.

Essa ela não pagou. E encaminhou o empresário ao gabinete do vice para que a cobrança fosse feita diretamente ao comprador.

A pantera viu -seem maus lençóis. A possibilidade de uma boa gestão vinha alicerçada com a expectativa de que a mesma conseguiria, ela mesma liberar os recursos em Brasília, sem a necessidade de apoio direto do governo.

Sobre isso, abre-se um parênteses, para explicar o quanto da proposta de Zila vinha embasada no sentimento autonomista. Tanto que sua coligação denominava-se: ‘Movimento Autonomista Cruzeirense. Era de seu marido, o ex-prefeito Aluísio Bezerra, a proposta de criação do Estado do Juruá. Mesmo diante da dificuldade constitucional de fazer a proposta avançar, a simples possibilidade de não depender da corte rio-branquense para as obras em Cruzeiro do Sul fazia todo sentido naquele momento.

Fecha parênteses.

Contudo, como ir a Brasília buscar recursos e liberar emendas quando se tem um vice agindo com uma irresponsabilidade nessas proporções em sua ausência?

Zila encaminhou então à câmara, por meio de seu líder Estevão Silva, uma proposta bizarra: Se a prefeita viajar por menos de 15 dias, o vice não assume. Quem assume é o presidente da câmara. Apesar da bizarrice, a proposta passou. Primeiro porque Zila pôde contar com uma câmara subserviente. Segundo, porque mais bizarras e imprevisíveis eram as ações desastrosas e irresponsáveis do vice Ilderlei Codeiro, o que justificava a medida.

Um dia, um atraso provocado em sua agenda, fez com que Zila ultrapassasse os quinze dias de ‘trégua’. Foi o suficiente para que Ilderlei assumisse a cadeira, levado para dentro da prefeitura carregado nos braços de seus apoiadores. De imediato, demitiu todo o secretariado de Zila e nomeou o seu próprio. Só mais trabalho para a pantera, que além de ter que reestruturar a prefeitura, ainda teve de convencer seus secretários a abrirem mão do valor da recisão contratual a que teriam direito por lei, a partir do ato administrativo de Ilderlei.

A crise institucional somente se agravou. Ao longo dos quatro anos, Cruzeiro do Sul amargou uma administração em que a prefeita estava a maior parte do tempo ausente da cidade, buscando recursos em Brasília, e um vice ressentido e disposto a dar o bote na coisa pública ao menor vacilo da pantera. O feijão-com-arroz da administração municipal foi feito pelo então presidente da câmara, Francisco Cariri, com poderes e autoridade bastante limitados para fazer a máquina administrativa caminhar.

PS: A série da ‘pantera cor-de-rosa’ esta fazendo um grande sucesso, obtendo um número de visualizações recorde e isso não seria possível se não fossem por aqueles que nos detestam mas continuam a ler-nos. A vocês os meus mais sinceros agradecimentos. E ela não pára por aqui. No próximo capítulo, a pantera cor-de-rosa conta sobre a ameaça de morte que recebeu do seu vice, Ilderlei Cordeiro.

Leia mais: Era uma vez uma cidade cor de rosa parte I

 

- Publicidade -
Copiar