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quinta-feira, abril 25, 2024

Servidores: os maiores vitoriosos do debate do SISEM

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Uma pergunta comum que se faz ao fim de um debate é: Quem o venceu?

No caso do encontro promovido pelo Sindicato dos Servidores Municipais, o SISEM na última quinta-feira entre os candidatos à prefeitura de Cruzeiro do Sul, a resposta é óbvia: quem venceu o debate foi o servidor.

E este era o principal papel da sabatina promovida pelo SISEM. Estão certíssimos ao demonstrar que não estão dispostos a se satisfazerem apenas com promessas. Sejam elas azuis ou vermelhas.

Por esta razão, sem dúvida os maiores vitoriosos do debate são os servidores. Saem com compromissos dos três candidatos. Tudo devidamente registrado para que ninguém possa depois escapar dos seus compromissos.

Mesmo em caso de vitória do candidato continuísta, o mesmo agora sabe que não poderá tocar a administração municipal do mesmo modo que Vagner Sales.

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‘Três meses sem receber’. Realidade dos servidores municipais de Cruzeiro do Sul

Aliás, Vagner foi o maior derrotado do debate. Sua administração não foi poupada de críticas tanto pelas duas candidaturas de oposição; Henrique Afonso e Carla Brito, quanto pelos próprios servidores que relataram dezenas de situações vexatórias, constrangimentos, descumprimento de acordos e legislações, ameaças de toda sorte, além do caos que se instalou no pagamento dos servidores provisórios, alguns dos quais estão próximos dos quatro meses sem receber.

Ao candidato da continuação, Ilderlei Cordeiro, não restou outra alternativa que não tentar se desvincular totalmente daquele que não é apenas o seu principal apoiador, mas o verdadeiro construtor de sua candidatura. Todas as respostas que vieram do candidato peemedebista foram na verdade, uma só: ‘Meus irmãos: o que está bom eu vou melhorar e o que não está eu vou mudar’.

‘Quinze pra todo lado’

Entre um pigarro e outro, um gole d’água e uma tosse entrecortada por uma coceira no pescoço, Ilderlei não foi capaz de esconder o seu desconforto de estar diante de um dos públicos mais prejudicados pelo modelo de gestão coronelista. Justamente o modelo da qual se coloca como continuador.

Sua saída foi repetir “Eu não sou Vagner Sales”, quinze vezes. Cinco vezes mais que Pedro teria negado a Jesus, segundo as escrituras.

Contudo, a propaganda do candidato o desmente. Uma parte do tempo a que tem direito na TV é usado para mostrar quão boa é a prefeitura de Vagner. E a outra parte, para dizer que Ilderlei vai continuar. Fica até a dúvida se Ilderlei é apoiado por Vagner, ou se Vagner é que é o candidato.

É difícil até de mensurar se Ilderlei Cordeiro está mentindo quando diz que ‘não vai fazer da prefeitura cabide de emprego’, ou se simplesmente é incapaz de perceber que esta promessa não é possível de ser cumprida quando ele afirma, na gravação que: ‘vou reconhecer todos aqueles que estão me apoiando’.

De qualquer modo, Ilderlei não será capaz de dar continuidade ao mesmo modo de fazer política de Vagner.

Palmas Compartilhadas

É claro que o público de Carla aplaudiu a fala de Henrique. E que o público de Henrique, aplaudiu a fala de Carla. Se tivessem mais candidatos de oposição, eles seriam aplaudidos também. Isso porque um único candidato não seria capaz de mencionar sozinho, todo o descalabro que é a administração municipal. E é claro, que para os servidores que estão comendo o pão que o diabo amassou com o coronel, as palmas só podem ir para a oposição.

Mas não, não se trata de ‘aliança’ entre a FPA e o PSDB como querem fazer crer alguns. Ainda que do mesmo modo que uma aliança entre EUA e URSS se justificou contra os nazistas, uma ‘aliança’ entre PSDB e FPA para derrotar as trevas do coronelismo em Cruzeiro do Sul seriam igualmente justificáveis.

Mas não se trata disso. Trata-se que são duas candidaturas de oposição. Henrique teve dois mandatos de deputado federal e foi candidato a prefeito duas vezes pela FPA. É lembrado ainda com respeito pelos seus ex-militantes, que encontraram em Carla Brito, um amor mais recíproco e mais constante.

Há mais pontos em comum entre os perfis de Carla e Henrique do que com Ilderlei. Este um político profissional, já um tanto quanto falido, nascido em berço de ouro, sem qualificação técnica, que desconhece o serviço público, a ponto de comparar com ‘funcionários’ de sua granja. É por aí que a banda toca.

Mas, em que pese os pontos em comum, há também diferenças entre as propostas de Carla e Henrique, que vale a pena mencionar.

‘Meritocracia’

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Carla: político tem que servir e não ser servido

Foi um experiência inusitada ver Henrique Afonso defendendo – com sua peculiar maneira enfática de defender – a ‘meritocracia’.

Defendeu a ‘meritocracia’ com a mesma ‘ênfase’ com que inicialmente defendeu o ‘socialismo’ no início de sua carreira, no PCdoB. E que passou a defender com a mesma ênfase o meio ambiente e os povos indígenas, durante sua aproximação com as causas ambientais que o levaram até o PV. E com a mesma ênfase com que defendeu os ‘princípios cristãos’ que o levaram a romper com o PT. As causas mudaram, mas a ênfase é sempre a mesma.

Uma ‘meritocracia’ em Cruzeiro do Sul, certamente já seria anos luz melhor do que a ‘privilegiocracia’ em que vivemos. No modelo coronelista não importam as qualidades profissionais e técnicas tanto quanto importa a subserviência – aqui chamada erroneamente de ‘lealdade’. Isso porque ‘lealdade’, implica em coragem. As relações coronelistas são pautadas sobretudo pelo medo, pelo constrangimento e pela subserviência mais pusilânime possível.

Contudo, não é possível se alcançar uma ‘meritocracia’ plena, sem antes passar por uma ‘oportunidadeocracia’. Se não formos capazes enquanto sociedade, de fazer com que oportunidades cheguem até os jovens talentos hoje perdidos na falta de horizontes e de perspectivas de nossas periferias, ramais e seringais, também não seremos capazes de conhecer o ‘mérito’ de ninguém. A não ser daqueles que já são privilegiados.

Criar oportunidades é algo que a prefeitura pode sim fazer, mas não sozinha. Parcerias com empresas da iniciativa privada, instituições de ensino e etc podem ser feitas de maneira positiva desde que tenhamos uma prefeitura moderna, antenada na crista da onda dos avanços tecnológicos, científicos e sociais pela qual passa o mundo. De outro modo, Cruzeiro do Sul, cidade com potencial para ser uma referência inclusive em produção de conhecimento, continuará sendo ‘uma esquina qualquer’, perdida no tempo e no espaço.

O sentido de oportunidade é também um diferencial entre as campanhas de oposição de Carla Brito e Henrique Afonso. Henrique repete a velha fórmula de pedir uma oportunidade para que ele possa governar Cruzeiro do Sul e demonstrar seu amor pela cidade. Amor da qual aliás, eu mesmo nunca duvidei.

Carla Brito propõe algo novo. Não é para ela afinal que está sendo pedida uma oportunidade. A sua campanha é que se propõe a dar a oportunidade para que os cidadãos participem da gestão, valendo-se de instrumentos como a o conselho das cidades e o orçamento participativo.

É oposto do messianismo que tantas vezes se observa na política. É colocar o político no seu verdadeiro lugar: o de servir.

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