Ícone do site O Juruá Em Tempo

Artigo: Caso AC 24 Horas: políticos eram vítimas ou clientes?

por Leandro Altheman

A notícia da semana foi a condução coercitiva do proprietário do AC 24 Horas, Roberto Vaz, juntamente com o jornalista Ray Melo, à delegacia de polícia. Os dois, juntamente com o irmão do proprietário, Carlos Vaz, são investigados por extorsão e lavagem de dinheiro.

A polícia afirma ter recolhido desde 2012 provas suficientes que comprovariam a ação criminosa do grupo. Segundo o delgado responsável pelas investigações, o grupo atuava produzindo matérias negativas contra empresários e políticos acreanos e cobrava para não publicá-las.

A polícia afirma que o grupo teria movimentado meio milhão de reais por meio das extorsões. O esquema foi denunciado por um político não identificado que teria se recusado a pagar pela não-publicação. Para ler mais detalhes sobre a Operação Zero Hora clique aqui.

Desde então, foram ouvidas algumas manifestações de políticos, tanto da situação, quanto da oposição em defesa do órgão, e mais propriamente, em defesa da liberdade de expressão.

Bem, é verdade, que se setores da classe política pretendem anistiar e legalizar o chamado Caixa 2, por questão de coerência, a extorsão também talvez deva ser legalizada (ironia).

A fama de ‘achacador’ do AC 24 Horas já é conhecida até pelas pedras do cais.

Chamar de ‘vítima’ figuras como Vagner Sales, não parece apropriado. Melhor seria ‘cliente’. Afinal, os jornalistas não ‘achacavam’ qualquer um, e seus clientes, ou ‘vítimas’, preferenciais são obviamente os políticos mais profícuos em problemas com a justiça e falcatruas em geral.

É como se estivéssemos diante de um complexo ecossistema: políticos que roubam do povo por sua vezes são atacados, como aves de rapina, em pleno voo por pássaros menores.

Ou talvez seja mais instrutiva a figura de leões, hienas, e abutres disputando a mesma carcaça.

Afinal de contas o que são 500 mil reais para quem acumula patrimônio há décadas por meio de desvios de finalidade e outros expedientes?

Por outro lado, um exame minucioso do site deve ser muito revelador sobre quem paga, quem não paga e quem está atrasado no seu pagamento.

Não consigo identificar ‘vítimas’ entre aqueles que pagaram pela boa vontade editorial do jornal. Se há alguma vítima no caso, são apenas os leitores, que de algum modo ainda acreditaram que o caráter denuncista do meio (pelo jeito muitos não pagaram a extorsão), fosse movido por interesses cidadãos.

Contudo, o episódio talvez sirva ao menos para sepultar de vez o cadáver moribundo da antiga crença na ‘imparcialidade’: apenas um ilusionismo com a qual ainda pauta-se o olhar do leitor sobre os assuntos que o cercam.

Sair da versão mobile