A obra de construção da BR 364, no trecho que corta o território acreano, e que consolida a integração do estado, perpassa diversos governos. Sua fase mais recente, aquela que contou com a colocação de pavimentação asfáltica, teve seu inicio no governo de Orleir Cameli.
O projeto adotado por Orleir, ou seja, a solução técnica escolhida na época para a construção da estrada foi referendada pelo órgão responsável, o DNIT. Foi quando ocorreu então o asfaltamento dos trechos entre Rio Branco e Sena Madureira; Tarauacá em sentido à Cruzeiro do Sul – apenas 19 km, e Rodrigues Alves até Vila Santa Luzia.
Seguiram-se a Orleir, os governos petistas de Jorge Viana, Binho Marques e Tião Viana. Todos eles prosseguiram no trabalho de construção da rodovia da integração. Os governos do PT, além da pavimentação asfáltica que fizeram em diversos trechos, realizaram todas as obras de arte necessárias, desde bueiros, galerias, até as pequenas e grandes pontes – de Rio Branco à Cruzeiro do Sul. Esse investimento pôs fim às travessias de balsas em todos nos rios que cortam a BR.
Com a posse de Tião Viana no governo do Acre, ocorrida em janeiro de 2011, a BR 364 – que tinha o trafego de veículos suspensos todos os anos, no período de inverno, não fechou mais. Foi uma decisão pessoal do Governador. Para Tião, melhor seria manter a estrada aberta no inverno, mesmo com restrições quanto ao limite de carga transportada por eixo. A tonelagem permitida para o período invernoso era estabelecida pelo Deracre.
Em 2014 o DNIT assumiu a responsabilidade pela conclusão e manutenção de toda rodovia federal. Cessava assim a participação do Governo do Estado, através do Deracre, com a manutenção da BR 364.
Com o impedimento da presidenta Dilma Rousseff, que antes de sua saída havia atendido ao pleito do Governador Tião Viana para que tivesse garantido recursos necessários à reconstrução da BR a partir de Sena Madureira, indo até o Rio Liberdade, novos atores assumem a cena. Michel Temer, ainda na interinidade, contingenciou os 230 milhões já alocados para a obra.
O Senador Gladson Cameli (PP) passou a assumir o protagonismo politico no que se refere a BR 364. No mês que antecedeu a visita do Ministro dos Transportes à Cruzeiro do Sul, o jovem senador ocupou quase que diariamente os programas de noticias da RTV Juruá – de Cruzeiro do Sul, pertencente a sua família. Em longas ‘entrevistas’ repetia, feito um mantra, que a BR não iria fechar. Garantia fartura de recursos financeiros para uma intervenção que resolveria em definitivo os problemas da estrada: “agora, teremos uma BR de vergonha”, asseverava.
Realmente, conforme a máquina de propaganda de Gladson Cameli (PP) prometia, no dia 17 de novembro, às 18h00, na cabeceira da Ponte da União – em Cruzeiro do Sul, com a presença dos caciques do PMDB, PP e PSD, Maurício Quintela – Ministro de Estado dos Transportes, foi assinado a Ordem de Serviço para a tão propalada obra de reconstrução da BR 364.
“Agora será diferente. Os trabalhos iniciam amanhã e serão concluídos com a ajuda da bancada federal e do Presidente Michel Temer”, bradava Mauricio Quintela no inicio da noite do dia 17 de novembro. De certo que, transcorridos quase um mês desde aquele ato político – ocasião em que Vagner Sales – prefeito de Cruzeiro do Sul pelo PMDB, fez o lançamento público da candidatura de Gladson Cameli ao governo do Acre em 2018, nenhuma máquina trabalha em toda a extensão da BR 364.
Passado a euforia dos discursos e, silenciado o barulho dos rojões disparados por Gladson, Vagner, Jéssica e Petecão, começam a serem ouvidos os reclamos dos usuários da estrada. Comerciantes e empresários do Juruá denunciam que não podem mais rodar com seus caminhões trazendo gêneros de primeiras necessidades. Passageiros dos coletivos intermunicipais esbravejam pelo incomodo de uma viagem longa, demorada e incerta, visto que, em alguns trechos, os atoleiros fazem cessar o sonho de se chegar a algum destino.
Autoproclamado o “dono da bola”, no jogo da BR 364, o Senador Gladson Cameli, deve uma urgente explicação para o povo do Juruá. Precisa dizer se o ato oficial da cabeceira da ponte foi mesmo pra valer, ou se serviu apenas de palanque para que Sales fizesse seu lançamento como candidato a governador do Acre no pleito vindouro. Também não vale tergiversar. Não cabe aquele discurso desonesto de que a BR 364 é uma fraude, mas que seu tio Orleir Cameli, que trabalhou nela como governador e empreiteiro, e seu próprio pai – Eládio Cameli, que através de sua ETAM contratou dezenas de quilômetros de estrada, não tem responsabilidade por essa “fraude”.
Gladson Cameli precisa se decidir. Ou age de forma responsável, esquecendo a demagogia e reconhecendo que o que existe de BR 364 é fruto da execução séria e honesta de um projeto talvez inadequado para esse tipo de solo/região, ou parte para a insensatez politica passando a enlamear a honra e a dignidade de todos que trabalharam e lutaram pela consolidação do sonho de integração rodoviária do Acre, incluídos aí todos os governadores e empreiteiros. De todos os partidos… De todos os nomes e sobrenomes, inclusive os Camelis.
Da Redação
