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sábado, maio 18, 2024

Jorge Viana sobre crise política: ‘Queriam atingir o PT e acertaram o Brasil’

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Em visita ao vale do Juruá, o senador Jorge Viana (PT) concedeu entrevista exclusiva ao Juruá em Tempo, na qual falou sobre a alagação histórica, o cenário político nacional, a crise da segurança pública e a BR 364, confira.

Juruá em Tempo: O sr. veio ao vale do Juruá no momento dessa alagação histórica prestar o seu apoio à população, mesmo sendo o prefeito de oposição ao governo. Esse momento se configura uma união da classe política em prol do Juruá?

Jorge Viana: Essas horas nos ensinam muita coisa. Temos milhares de pessoas sofrendo na maior cheia da história do Juruá. Então toda bancada federal se uniu, o senador Gladson, Petecão, eu, os deputados federais: César, Jéssica, Angelim, Leo, Alan Rick, Sibá Machado, Rocha, Flaviano, enfim, todos. Todo mundo correu em cima do governo federal pedindo que o ministro viesse aqui. Fizemos reunião em Brasília. O governador Tião Viana veio imediatamente com a vice Nazaré, trouxe o aparato do estado, as pessoas daqui se mobilizaram, e o que a gente viu de resultado: uma união solidária com todo mundo. Eu estou aqui agora há três dias, porque na hora que as pessoas voltam para casa, eu como ex-prefeito e ex-governador sei que agora que começam os problemas. As pessoas às vezes dizem “não, tá resolvido, o rio já começou a baixar”. Na verdade é agora que começa o problema. As pessoas chegam em casa e esse é o momento mais triste, que está tudo destruído. Acho que a gente ainda não tem noção do estrago, do tamanho e da dimensão dos danos para esse beiradão, para os ribeirinhos. Estive com o prefeito de Rodrigues Alves, lá a produção de banana e mamão foi muito danificada. Em Mâncio Lima, na parte do Moa, também foi muito forte e aqui em Cruzeiro do sul, nem se fala. Mas eu também estou visitando, formalmente, no meu mandato, já são 14 prefeituras que em que estou me apresentando para o trabalho, independente do partido. Espero voltar no mês que vem para organizar: como é que eu posso trabalhar, sendo do PT, sendo senador da Frente Popular, com prefeitos de oposição sem causar prejuízos para a população. A eleição passou e eu tenho a obrigação de trabalhar com todas as prefeituras.

Juruá em Tempo: Está mais fácil manter essa relação com o prefeito Ilderlei Cordeiro do que era com o prefeito Vagner Sales?   

J.V. Com o Vagner eu sempre tive uma relação pessoal respeitosa. Mas o Ilderlei tá começando e já houve essa alagação e ele adotou uma postura que eu acho que é a correta: de receber todo mundo, de estabelecer relação com o governador e com todo mundo e isso é o certo. Nós não temos responsabilidade na eleição dele, mas ficamos na torcida que o povo não sofra. Tomara que ele siga tendo uma postura de conversar. Ele me recebeu muito bem na prefeitura e eu o recebi muito bem, no meu gabinete. A gente pode ter uma relação boa sem significar arranjos políticos. O que eu acho que a gente vive no Brasil e aqui no Acre, é uma intolerância, um ódio, que só prejudica. Eu não posso dar as costas para Cruzeiro do Sul. Eu tenho o maior carinho, fiz obras importantes aqui e me orgulho disso, e agora como senador minha obrigação é ajudar. Não posso dizer: agora temos prefeito A, B ou C. Não importa. Fiz a campanha da Carla, trabalhei, sonhei com ela prefeita para a gente fazer um trabalho bem bonito. Não deu? Não tem nenhuma condicionante. O prefeito é o Ilderlei, nós vamos respeitar e eu vou fazer o que puder para ajudar.

Juruá em Tempo: Além dessa ajuda emergencial, o que mais pode ser feito para essa população afetada pela cheia?

J.V: Algumas coisas são importantes. O Ministro veio aqui, isso foi bom, foi uma ação da bancada federal, Helder Barbalho ele foi muito gentil e prestativo, fez uma ação com o governador. Está chegando 900 mil para a prefeitura. Os kits de apoio também está vindo, o governador também com a Carla estão coordenando o programa Juruá Solidário para ajudar ás famílias atingidas. Acho que tem que ver a possibilidade de linha de crédito para os produtores, liberação de recurso de FGTS. A experiência para trás me aponta esse caminho. Mas uma preocupação grande que estou tendo é com relação à malária. Foram mais de duas mil notificações em dezembro, 1.600 em janeiro, o número um é Mâncio Lima, o número dois é Rodrigues Ales. Eu acho que tem que ter uma ação forte na área de saúde, da Fundação Nacional de Saúde para a gente não ter as consequências de uma cheia dessa. A situação já estava complicada e pode se agravar. Isso também requer uma união para a gente enfrentar esses riscos que uma alagação pode deixar.

Juruá em Tempo: Essa cheia remete à questão das mudanças climáticas?

Fiquei três dias aqui, e estive agira no velório do sr. Armédio Cameli, um patriarca de uma grande família aqui do Juruá. Conversava com os antigos, pessoas muito idosas, da idade do meu pai e da minha mãe, e as pessoas diziam: ‘eu nunca vi o Juruá com tanta força’. Acho que tem uma mudança acontecendo. E isso porque a chuva foi mais aqui. Choveu 600 mm no Moa e 400 mm no Juruá. Mas não choveu em Porto Valter e M. Thaumaturgo. Se tivesse concentrado também chuva lá, o desastre ambiental poderia ter sido ainda maior. A gente espera que isso não ocorra, mas pode ser que mais para frente a gente tenha ainda uma nova alagação. Os cientistas falam que estamos experimentando uma mudança climática sim, e nos que moramos na Amazônia, na cabeceiras dos rios, a gente vai sentir primeiro essas mudanças. Acho que essa frequência de alagações e mudança o regime de chuvas, pode ser já concretamente um sinal de que sejam mudanças no clima.

Juruá em Tempo: Sobre o cenário nacional, qual a avaliação que os sr. faz desse momento político no país?

Nunca gostei de ser pessimista. Mas o Brasil estava dando certo com Lula. Fez a inclusão  social de 40 milhões de pessoas, diminuiu a diferença entre ricos e pobres. Fez uma classe média. Pessoas que não tinham nada passaram a comprar seus carro, seus eletrodomésticos. Criaram-se 22 milhões de empregos. Depois nos deparamos com problemas de corrupção, de crise política. Trinta e poucos partidos, talvez a origem do problema seja esse monte de partido que ninguém consegue governar assim. E aí os algozes do PT, do governo Lula, resolveram botar a culpa no PT que tanto tinha feito e aí fizeram um impechmeant, o que para nós foi um golpe parlamentar, agora esses partidos todinhos estão no governo Michel Temer e o Brasil tá piorando, ao invés de gerar 20 milhões de empregos, gerou 20 milhões de desempregados. O número real é esse. O Brasil tem agora uma quebradeira geral das empresas, o comerciante não vende, o pequeno empresário também com dificuldade. Eles acabaram com o crédito. Ninguém mais tem crédito. E o desemprego para mim, é a doença maior. Queriam atingir o PT e acertaram o Brasil. E acho que o Brasil tem que sair dessa crise para um outro nível, fazer uma constituinte exclusiva para fazer a reforma política. Quem participar daquilo não pode ocupar cargo nenhum. Para que a gente possa fortalecer a nossa democracia representativa que está desmoralizada. Moralizar a atividade partidária que está desmoralizada hoje. Porque não acho que a gente possa resolver a crise econômica sem resolver a crise política. Acho que é um ciclo. Estamos chegando no fundo do poço. Todos nós, políticos, tempos que se explicar. Feliz daquele que puder se explicar, porque pediu ajuda em campanha. Estamos vendo caso de pessoas que recebiam mesada, que cobravam uma espécie de pedágio para poder ajudar as empresas. Isso aí tem outro nome. O Brasil precisa superar isso, ser mais forte e voltar a se reencontrar com políticas de inclusão social e de crescimento econômico, principalmente para a juventude. A juventude está se formando, com sacrifício da família e ficando desempregada. Qualquer um que a gente pergunta qual período que foi bom, a pessoa diz, – “ah, foi o período do Lula”. Qual foi o presidente que mais fez? “ah! Foi o tempo do Lula”. Ano que vem tem eleição. Acho que o Lula passa a ser um forte candidato diante do caos que o Brasil vive.

Juruá em Tempo: E com relação ao seu futuro político? Será candidato ao senado?

Fiquei quatro anos como vice-presidente do senado. Procurei honrar o nome do Acre, e continuar trabalhando aqui, mas também tinha a obrigação em Brasília. Eu pretendo andar o estado inteiro, uma profunda imersão no Acre, porque quanto mais eu conversar com ribeirinhos, seringueiros, moradores dos rios, colônias, do comércio, da indústria, jovens, mais forte eu vou estar para opinar sobre como é que o Brasil pode sair dessa crise. Quero atuar lá em Brasília, com as lideranças, ajudando a vencer a crise, mas eu quero fazer um trabalho muito pé no chão no Acre, principalmente nessa não que não tem eleição. E em 2018, a minha ideia é definir se eu serie ou não candidato à reeleição, só em setembro, depois de ter andado o estado inteiro. Pelo fato de ser irmão do governador Tião Viana, sou inelegível para qualquer outro cargo, A lei não permite que eu dispute nenhum outro cargo. Mesmo que ele se afastasse. O único cargo eu posso disputar é o que eu já tenho. Mas eu tenho que ver, se o povo do Acre acha que isso é viável, acha que isso é bom. Disposição para seguir na luta, eu tenho, mas Deus já me deu tanto, e o povo do Acre também. Já fui prefeito, governador, senador, mas eu tô vendo que o caos está estabelecido no nosso país. O governador Tião Viana tem se esforçado muito, mas ele pegou aí pelo menos dez grandes crises. A última delas foi o impeachmeant e a crise econômica. Ainda bem que ele está à frente do governo nesses tempos difíceis. Tem sido um governador dedicado com muito amor em tudo que ele faz pelo Acre.

Juruá em Tempo: Qual a sua avaliação da crise da segurança pública que estamos vivendo?  

J.V. A violência está interiorizada, inclusive no nosso estado. Estive com o secretário Emilson e sei do empenho do governador e deve anunciar agora em março e abril uma série de investimentos. Estamos vendo o caos nas ruas de diversos estados. No Acre a situação e grave, mas é bem diferente. Foram 40 assassinatos em janeiro, o que é muito grave. Tem que ter uma ação de todo mundo, não adianta um ficar culpando os outros.

Juruá em Tempo: E sobre a BR 364? Vamos ter que conviver com a necessidade de uma manutenção permanente?

J.V. Sei que alguns políticos parece que vivem disso. Quando não tinha um metro de asfalto, eles falavam. Depois que a gente faz a estrada, eles seguem falando. Se você olhar tem alguns políticos que mais falam e nunca ajudaram a fazer um metro de asfalto. Qual o maior ‘pecado’ da BR 364? Falta de manutenção. Sempre falei. É um solo ruim. Em alguns lugares é um solo podre, tabatinga. Se ficar um ano ou dois sem manutenção, acaba. Não importa se foi Orleir que fez, se foi Jorge Viana que fez, se foi Binho, se foi Tião. O número que falam são mentirosos. Esta estrada nós estamos fazendo há quase vinte anos. E ela tem que ter manutenção permanentemente. Trechos que o Orlei fez, eu já tive que refazer. Trechos que eu fiz, já tiveram que ser refeitos. E eu digo com tranquilidade: a cada seis ou sete anos, ela tem que ser refeita e vai ser assim, a vida inteira. Agora teve aí, um vácuo. O DNIT demorou para entrar, as licitações foram feitas quase no inverno e nós estamos em pleno inverno e a promessa agora, é de 250 milhões, o mesmo recurso que o governador tinha garantido ainda no governo Dilma. Com esse recurso é que serão tocados pelo menos cinco contratos de manutenção. Se fizer a manutenção direitinho agora, no verão e seguir todo ano fazendo, ela vai ficar trafegável. O que me preocupa é essa quantidade de carreta de 50, 60 toneladas no meio dela. Não tem como a BR suportar esse peso. E essa história de ficar passando carretões de pedra para vir aqui para Tarauacá e Cruzeiro do Sul: vai destruir tudo para trás. Por isso que eu usava os rios, para fazer ela de trás para frente. Porque era o único jeito de trazer. Tem que trazer a pedra pelo rio: para Feijó, Tarauacá, Cruzeiro, que é a parte mais pesada, para poder recuperar a BR todo ano. Esse é o jeito mais inteligente. Mas eu estou como senador e não abro a mão de lutar por estes recursos. Mas sem hipocrisia. Vou inclusive juntar todas as informações para enfrentar ações mentirosas de políticos de quinta categoria que quer tirar benefício na BR as custas do sofrimento das pessoas. A BR tem que nos unir, e não nos separar.

Juruá em Tempo: A oposição fala em dois bilhões de reais gastos na BR. Quais seriam os esses valores?

J.V. Um pouco mais de um bilhão ao longo de 20 anos. Compare por exemplo, com o reparo da pista do acesso do aeroporto, que dá menos de 2 km, são 7 milhões de reais. Multiplique isso por 640 km… Acho que são pessoas maldosas que estão levando instituições do estado brasileiro, seja MP ou PF, ao erro. Espero que nesse caso da BR, a verdade prevaleça. Fizemos as pontes todas. Foi um trabalho fantástico, iniciado pelo Orleir, que eu tive a honra de continuar, o Binho fazer a sua parte e o Tião a dele. Agora nesse momento, tem esse caos todo e o povo tem razão de reclamar, por falta de manutenção. Um dos menores trechos que eu fiz, entre Tarauacá e Feijó, foi feito há 16 anos atrás. Já era para ter sido feito pelo menos duas vezes. Tá lá sem fazer até agora. Então, o erro é esse: falta de manutenção. E aí sim, esta se dispensando dinheiro. Tem que manter. Cuidar do que foi feito, para gastar menos. Se não vai gastar mais, refazendo.

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