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sábado, maio 18, 2024

Viagem ao Peru: a Inevitável comparação com as estradas brasileiras

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Acabo de realizar uma viagem ao Peru e é inevitável a comparação das estradas brasileiras, BR 364 e BR317, com o trecho peruano da rodovia transoceânica desde a fronteira até Cusco. Não é apenas a BR364 que sofre com a falta de manutenção periódica, a BR 317, ainda que de maneira bem menos intensa, também deixa muito a desejar em termos de manutenção .

Material utilizado na cabeceira das pontes. Entre Iñapari e Puerto Maldonado.

No lado peruano, a rodovia construída pela Odebreacht, recebe a manutenção constante de dezenas de equipes. Mesmo nos trechos onde foi construída sobre rochas, os deslizamentos

Ponte na transoceânica. Entre Iñapari e Puerto Maldonado.

são constantes, mas tão constantes quanto são as manutenções na pista. No trecho amazônico, percebe-se que foram empregados materiais e tecnologias melhores e há uma intensa fiscalização de peso dos caminhões em balanças ao longo da estrada. A Odebreacht também caprichou nas obras de escoamento de águas pluviais, o que aumenta em muito a durabilidade da pista. Além é claro de pedágios com valores proporcionais à quantidade de eixos. Do lado brasileiro não existe pedágio, o que significa que pagamos pelo desgaste da rodovia da pior maneira possível. Ou seja, nem precisa ir para o ‘primeiro mundo’ para aprender como deve ser feito.

A Odebreacht enfrenta pesadas acusações de pagamento de propinas à classe política, envolvendo pelo menos, dois ex-presidentes. Mas nem por isso a rodovia foi abandonada, e a atual administração garante a trafegabilidade.

Mau estado do posto da PF

Também chamou a atenção o mau estado do posto da PF na fronteira. Um posto que já foi padrão em uma época em que do lado peruano, a fiscalização era bastante precária. Parece que a situação se inverteu. Hoje, há mais funcionários do lado peruano e as instalações também foram melhoradas. Duas interpretações são possíveis. A primeira, de que o governo peruano tem dado mais importância à região de fronteira que o Brasil ou também, que o Peru passa por um momento econômico, político e administrativo melhor que o nosso país.

Variedade agrícola

O setor ruralista brasileiro gosta de jactar-se de sua pujante produção agrícola, mas fica anos luz atrás do Peru quando o quesito é a variedade de produtos para consumo. Enquanto no Brasil, o modelo do agronegócio produz em larga escala alimentos transgênicos, o Peru parece reproduzir um modelo de agricultura mais tradicional, mas que lota as feiras e mercados com produtos que jamais sonharíamos em ver no Brasil. Um exemplo claro é o milho: do lado de cá, somos praticamente obrigados a consumir milho transgênico, não apenas em produtos industrializados mas em pratos tradicionais como canjica, cuscuz ou pipoca, enquanto no Peru, são comercializadas dezenas de qualidades diferentes de milho, produzidos em diferentes regiões do país. è claro que as chamadas ‘leis fitossanitárias’, impedem que estes milhos sejam comercializados do lado brasileiro, e o consumidor se vê obrigado a comprar milhos transgênico. A alta diversidade da produção peruana se deve muito às tradições que remontam ao Tawantinsuyo (mais conhecido como Império Inca) ou talvez até antes disso, quando se aprendeu a produzir em diferentes pisos ecológicos e comercializar entre as regiões, assegurando a variedade. Herança dos incas e de outros povos que já tinha uma organização de estado e de comércio antes da chegada dos europeus. Quando os espanhóis chegaram, as regiões da costa, os diferentes pisos produtivos andinos, e as selvas alta e baixa, já estavam completamente integradas ponto de se consumirem produtos do litoral na selva e vice-versa. Outro destaque são as CENTENAS de tipos de batata que é possível se comprar em qualquer mercado. Também surpreendem as frutas tropicas. Algumas completamente desprezadas no Brasil, como por exemplo, o sapoti, lá são cultivadas e possuem valor comercial. A produção de café e cacau também segue de vento em popa em várias regiões do país, especialmente nas de selva alta (entre 800 a 1.500 msnm aprox.).

Não é a toa que a culinária peruana é hoje considerada a segunda mais rica do mundo, ficando atrás apenas, segundo especialistas, da culinária francesa.

Acreanos em Pucallpa

Torre do relógio. Pucalpa.

Pelo menos 12 estudantes acreanos estão em vias de terminar o curso universitário em Pucallpa. Eles fazem parte de um intercâmbio firmado entre a UFAC e as Universidades Federais peruanas. Mas estão receosos quanto à volta para o Brasil. A UFAC enviou-lhes um documento em que afirma que não irá se comprometer com a revalidação do diploma dos mesmos.

Outra dificuldade é a não existência de um vôo direto entre Cruzeiro do Sul e Pucalpa. Ao invés de fazerem um trajeto de 270 km para reverem seus familiares, são obrigados a fazer o ‘vueltazo’, percorrendo mais de 3.500 km entre Pucalpa, Lima, Cuzco, Porto Maldonado e Rio Branco, para aí, virem para Cruzeiro do Sul e região. Empresas aéreas dos dois lados da fronteira afirmam estarem em vias de realizar voos entre as duas cidades. É necessária também a intervenção da classe política para questões burocráticas de fronteira.

De volta à BR 364

BR 364. Trecho entre o Purus e Feijó.
Trecho crítico da BR 364. Próximo ao Igarapé São João.

Em comparação a um mês atrás, a trafegabilidade da BR, ainda que continue muito precária, melhorou. Muita pedra foi colocada nas crateras abertas durante o inverno e a breve trégua das chuvas também contribuíram, tanto para o melhor tráfego, quanto para o serviço das empresas contratadas pelo DNIT que intensificaram o trabalho. Contudo, por razões que devem incluir, desde a maior intensidade das chuvas, quanto ao tipo de solo, o trecho do Igarapé São João segue como um dos mais críticos da estrada, com buracos ainda representando risco de atoleiros.

Roubo de Material

Também flagrei moradores furtando pedras destinadas à recuperação emergencial. O fato ocorreu há cerca de 10 km do município de Feijó por volta das 6 horas da noite. Não pude registrar em fotografia, sob o risco de alguma reação por parte dos moradores. Não há como saber se foi um episódio isolado, ou se está ocorrendo com intensidade. Mas é bom o DNIT ‘abrir o olho’, ou poderá ter dificuldade em fechar as contas.

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