por Leandro Altheman
Se há alguns meses atrás era dada como certa uma candidatura única de Gladson Cameli ao governo, unificando a oposição acreana, essa certeza começa aos pouco a se liquefazer.

Rumores nos bastidores indicam que torna-se cada vez mais viável uma segunda via dentro da oposição, capitaneada sobretudo pelo PSDB. O nome mais forte para esta ‘segunda via’ ainda é o do Major Rocha, mas Márcio Bittar também já deu sinais de que não abrirá mão de disputar, mais uma vez, a eleição.
Chega-se a cogitar até mesmo que Gladson não sairia mais candidato ao governo. Sem a unificação completa da oposição em torno de sua candidatura, o favoritismo de Gladson já não seria tão inconteste e o pleito poderia ter grandes chances de naufrágio.
A mudança no cenário deu-se sobretudo pela repetidas citações do envolvimento de Gladson em esquemas de propinas e financiamentos de campanha investigados pela Lava Jato. O PP de Gladson é o partido com maior número de indiciados (66). Fez parte dos mesmos esquemas de propina via Petrobrás, pela qual geraram denúncias contra o PT, PMDB e PSDB. Gladson foi ainda citado nominalmente no desdobramento da Lava Jato conhecido como ‘quadrilhão’. As investigações cessaram, ao menos temporariamente, após a morte do ministro Teori Zavasky.

Mais recentemente, a empresa de seu pai, Eládio Cameli, a ETAM, foi delatada como tendo sido usada em esquema da Odebrecht para repasses irregulares por meio de aditivos em valores da ordem de 68 milhões de reais à obra da ponte do rio Negro.
A ETAM, junto com a empreiteira Amazônida, também da família, foram os maiores doadores da campanha de Gladson. Segundo o site do TRE, teriam sido R$2,3 milhões de reais em valores declarados. O segundo voto mais caro do país, segundo o site Congresso em Foco (o primeiro foi Kátia Abreu, do PMDB-GO).
Uma campanha ao governo do estado, deixaria não apenas ele, mas a empresa de seu pai e família expostos ao escrutínio do eleitorado e de seus adversários políticos. Como fazer os repasses a ETAM para sua campanha, agora que a empresa está na mira das investigações? A torneira estará tão aberta como nas eleições anteriores?
É certo que, a Lava Jato, e mais propriamente, a Lista de Fachin revelou que todos os grandes partidos brasileiros estão envolvidos. Não sobrou para ninguém: PP, PT, PMDB, PSDB, DEM e é claro, PT e PCdoB. Contudo, existem diferentes ‘graus’ de envolvimento. Marcus Alexandre, por exemplo, pode ser questionado sobre o mau estado da BR e os valores gastos na mesma, mas não teve seu nome citado nos ‘grandes esquemas’. Já Gladson é citado nominalmente como suposto membro de de ‘organização criminosa’ (palavras do Ministro Teori Zavasky). O PSDB de Aécio Neves também não sai incólume nas acusações, a maior delas pesando nas costas de Aécio Neves. Mas o nome do Major Rocha também não aparece em nenhuma delação.
‘Ladrão de Galinha’

Em Cruzeiro do Sul chega-se a falar na hipótese de Vagner Sales sair como candidato ao governo no lugar de Gladson. Seria uma grande ironia, afinal o ‘ladrão de galinha’ Vagner Sales não está envolvido em nenhum dos grandes esquemas de corrupção, mas apenas o ‘bom e velho’ ‘usufurto’ de bens públicos para enriquecimento pessoal ilícito, crime pela qual também foi acusado pelo MPF.
Por enquanto, Vagner é declaradamente candidato ao senado. Quem sabe, sendo eleito senador possa trazer os holofotes da imprensa nacional para si e para seu descaramento como gestor público, já que a imprensa local não tem autonomia suficiente e prefere incensar o ‘coronel’ (‘já ajudei muita gente da imprensa’ – declarou durante coletiva, o que foi digerido com absoluta normalidade aqui em Sucupira).
As razões para a possível ‘implosão’ da candidatura de Gladson ao governo, no entanto, podem não estar totalmente vinculadas às circunstâncias políticas do momento, mas à própria composição política dos partidos de oposição. Sem uma proposta unificadora que não seja ‘tirar o PT do poder’, interesses e ambições pessoais tendem a prevalecer, trazendo instabilidade ao seu projeto político.

