Ontem assisti uma reportagem no Globo Esporte sobre o país que irá sediar a copa de 2022, o pequeno Qatar no Oriente Médio. Nem de longe o Qatar serve para o Brasil como exemplo de democracia, mesmo que tenha adquirido independência em 1971, o Qatar é um emirado absolutista comandado pela Casa de Thani desde então, sem espaço para contestações.
Porém, uma frase do Jornalista Marcos Uchôa que apresentava a reportagem ficou martelando em minha cabeça: “Ganhar na loteria da geologia permitiu ao Qatar acelerar”. Essa frase faz referência à descoberta no ano de 1976 da terceira maior jazida de gás natural do mundo, um vasto campo em alto mar que o governo no Qatar chama de Campo Norte e que responde por quase toda a produção de gás no país.
O motivo pelo qual essa frase ficou martelando em minha cabeça? Porque 40 anos depois da descoberta dessa jazida, mesmo sendo um pequeno país pobre, o Qatar se tornou o país com a maior renda per capta do mundo (US$ 105.091,42), um símbolo de desenvolvimento e tecnologia, além de oferecer aos seus cidadãos educação, saúde, garantia de emprego, auxílio financeiro para habitação, água e eletricidade gratuita.
Mas qual foi à decisão que permitiu ao Qatar tamanho crescimento e desenvolvimento? A resposta é simples: dois anos antes da descoberta da Jazida, em 1974, o governo do Qatar fundou a empresa pública “Qatar Geral Petroleum Corporation”, que assumiu absolutamente todas as operações de petróleo e gás do país. A empresa está diretamente ligada ao planejamento do Estado do Qatar chegando a contribuir com 60% do PIB do país. Ou seja, no Qatar o Estado explora os recursos naturais do país. Bingo!
Lembrei imediatamente da jazida do Pré-sal que segundo estimativas (que muitos acreditam especialistas subestimar o real tamanho dos campos) têm uma reserva de 80 bilhões de barris de petróleo e gás, o que colocaria o Brasil na posição de detentor da 6ª maior reserva do mundo, a frente de Estados Unidos, Russia, China, Índia e todos os demais países da União Europeia. O nosso bilhete da loteria da geologia.
Sempre que você perguntar a alguém na fila da loteria o que faria se ganhasse o prêmio, dentre as mais diversas respostas, umas criativas e outras mais centradas, certamente muitos escolheriam como prioridade a educação da família, a construção de uma casa para os pais e irmãos, investimentos (para fazer o prêmio render por varias gerações), alguns até doariam parte para as pessoas que não possuem nada, mas nunca você vai ouvir que o ganhador pretende entregar o bilhete para alguém que já tem dinheiro.
Fica a reflexão: Qual o motivo para privatizar a PETROBRAS e entrega-lá a quem já possui seus bilhetes de loteria premiados? Por que privatizar a exploração do Pré-Sal, O quê justifica as concessões para empresas de outros países explorarem o petróleo brasileiro? Por que não aprender com o pequeno Qatar?
Por Cesário Campelo Braga