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sexta-feira, abril 19, 2024

Temer, o impopular: o que mudou no país em dois anos e meio de governo

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Ruim ou péssimo para 74% da população, bom ou ótimo para somente 5%. O governo Michel Temer (MDB) chega ao fim como o mais impopular desde a redemocratização em 1985, de acordo com o Ibope — o Datafolha também registrou a rejeição recorde, mas verificou uma diminuição nos últimos meses –, e marcado por escândalos, denúncias contra o próprio presidente e também por reformas aprovadas no Congresso.

Na economia, o desemprego diminuiu, mas permaneceu alto; a inflação caiu; o PIB voltou a crescer, porém ainda timidamente; e a pobreza extrema aumentou.

Em maio de 2017, um ano após assumir o comando do país em função do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), Temer começou a enfrentar a crise mais grave. O jornal “O Globo” revelou a existência do áudio de uma conversa de Temer com o empresário Joesley Batista, gravada por este dois meses antes, em um encontro fora da agenda presidencial, no Palácio do Jaburu.

Em determinado momento, Joesley dizia ter zerado pendências com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e que estava bem com o parlamentar preso na Operação Lava Jato, jogando no ar uma possível referência à compra do silêncio de Cunha. “Tem que manter isso”, comentou Temer em seguida. A divulgação do áudio estremeceu Brasília, fazendo surgir a expectativa de que o presidente renunciaria.

Temer fez um pronunciamento para se defender e negar a renúncia, mas suas dificuldades aumentaram. Deste momento em diante, sua base de apoio no Congresso serviu mais para adiar investigações contra ele do que para dar sequência à aprovação de sua agenda de projetos. Ele não conseguiu levar adiante a reforma da Previdência.

“Desde que houve o ‘Joesley Day’, em maio de 2017, o governo Temer perdeu a capacidade de centralização das decisões e a capacidade de tocar a pauta legislativa”, afirma Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Como lembra Roberto Romano, professor de ética e filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o emedebista “assumiu o governo tendo metade do país acusando-o de golpe de estado”. Com a gravação de Joesley, prossegue o professor, Temer “perdeu o apoio da outra parte que não tinha antipatia por ele”.

“[O encontro com Joesley] Foi um desastre do ponto de vista do tratamento da agenda da presidência. Foi o erro mais clamoroso que ocorreu. E trouxe outros, como a liberação de recursos milionários para livrá-lo de investigações”, afirma Romano. Denunciado três vezes ao STF, o emedebista teve de agir para conseguir apoio suficiente na Câmara e impedir que as investigações avançassem durante o mandato.

As investigações podem ser retomadas a partir de janeiro. “Voltando à planície, ele se tornará atingível. Ele e outros líderes do MDB”, comenta o cientista político Cláudio Couto, professor do Departamento de Gestão Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas). 

Legado controverso 

O legado de Temer para o país é controverso. “Vai entrar para história como um governo muito conservador, mas reformista do ponto de vista do mercado. Dependendo do olhar, vai ser visto como positivo ou como nefasto. Para os conservadores, vai ter visto de forma positiva. Para outra parte sociedade, será visto de forma negativa, marcado pela corrupção e insensível a questões sociais”, diz Couto.

Para Roberto Romano, a marca de Temer é negativa e sua participação na história não terá grande destaque. 

[O governo Temer entrará para a história] Como um período de instabilidade política, incerteza econômica e ausência de um planejamento para o futuro e modificações estruturais na vida do estado brasileiro. Vai entrar para a história como o oposto do governo Itamar Franco (1992-1994). Enquanto Itamar assumiu o planejamento estratégico para a crise brasileira, inclusive implantando o plano Real, e definiu um padrão ético com o parlamento, Temer se mostrou um vazio político e com uma leniência muito grande com atos do próprio governo. Não vai aparecer [na história] senão como um lapso de governabilidade na vida política no Brasil, num pé de página.”

Doutor em economia pela USP, Samuel Pessôa pensa de forma diferente. Ele elogia as mudanças promovidas pelo governo Temer, principalmente na economia, como reforma trabalhista e a emenda que estabeleceu um limite, por 20 anos, para a taxa de crescimento do gasto público. 

O governo Temer vai ficar bastante bem nos livros de história. Se o governo Jair Bolsonaro for um sucesso, vamos entrar no ciclo mais longo de crescimento e o governo Temer vai entrar para a história como o governo que fez a ponte e preparou as condições para entrarmos nesse ciclo.”

Romano também diverge de Pessôa a respeito das reformas. “As reformas encaminhadas foram feitas de afogadilho, sem pensar no longo prazo, em setores envolvidos, sobretudo os trabalhadores. O que faz com que o próximo governo tenha que começar esse trabalho novamente”, avalia o professor de ética da Unicamp. Para Márcio Pochmann, professor Instituto de Economia da Unicamp, a gestão Temer mudou a trajetória que o Brasil vinha fazendo desde 1930. “A reforma trabalhista e a generalização da terceirização significam o rompimento com o sistema de relações de trabalho corporativo que havia sido instalado na década de 1930 com Getúlio Vargas e não havia sido alterado tão profundamente mesmo nos governos de Fernando Collor [1990-1992) e de Fernando Henrique Cardoso [1995-2002]”, observa. 

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