Quando recebi o gentil convite de integrar o time de colunistas do Juruá em Tempo, pensei nas contribuições que eu poderia dar aos leitores do informativo considerando as minhas condições enquanto mãe, esposa, filha, professora, cristã e cidadã. O conjunto dessas condições caracteriza o que sou e por isso, escolhi denominar esta coluna de “Ser”, uma vez que não serei capaz, como todo autor, de distanciar a minha escrita das ideologias que preservo. No entanto, julgo ser conveniente justificar a escolha do nome para que o leitor possa compreender melhor a proposta dessa coluna.
A gramática normativa classifica “ser” como um verbo de ligação, assim como “estar”; mas o que distingue esses dois verbos de ligação é sua representatividade quanto ao estado: o primeiro é permanente, enquanto o segundo é temporário.
Mas não foi essa característica verbal que motivou a minha escolha; pois se assim fosse, eu estaria fadada a considerar todas as coisas como imutáveis e permanentes. Esse pensamento, certamente, iria em desencontro de tudo o que eu acredito e defendo. Enquanto organismos vivos, os seres, as línguas, as culturas, as identidades estão, naturalmente, sujeitos às mudanças.
No entanto, convido o leitor para refletir sobre outra característica do verbo “ser”: a irregularidade. O verbo é considerado irregular quando há uma mudança quanto ao radical e desinência; ou seja, não possui uma estrutura fixa, tal como ocorre com os verbos classificados como regulares. Para melhor compreensão sobre esse argumento, exemplifico com a conjugação do tempo presente, modo indicativo, dos verbos cantar e ser: o primeiro regular, o segundo irregular.
Cantar – presente do indicativo | Ser – presente do indicativo |
Eu canto
Tu cantas Ele/Ela canta Nós cantamos Vós cantais Eles/Elas cantam |
Eu sou
Tu és Ele/Ela é Nós somos Vós sois Eles/Elas são |
Pelo quadro acima, compreendemos melhor os conceitos de regularidade e irregularidade verbal. Na verdade, foi o conjunto dessas duas características que motivaram a escolha do nome “Ser”; ou seja, ao mesmo tempo que é irregular, ainda é permanente. Em outras palavras, as atribuições familiares, profissionais e sociais exigem que nos adequemos aos meios, mas não nos distanciam daquilo que somos verdadeiramente.
A transitoriedade da vida nos permite estarmos ricos, pobres; sãos, doentes; alegres, tristes; empregados, desempregados etc., mas não nos retira a condição de seres humanos. A característica de ser (ter identidade, característica ou propriedade intrínseca) nos faz refletir sobre as nossas responsabilidades, as escolhas que fazemos, e do quanto desejamos contribuir para a melhoria das coisas que estão a nossa volta.
Espero de alguma forma “Ser”, por meio desta coluna, fonte de inspiração, reflexão, motivação, questionamento, instigação, dúvida, certeza ou até mesmo incerteza para o leitor atento; pois enquanto formos capazes de expressarmos reações diversas a partir do que lemos, ouvimos ou vemos, existimos e resistimos… e isso basta.