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sexta-feira, março 29, 2024

Alta pressão da Bolívia interfere diretamente na cheia dos rios no Acre, diz pesquisador

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O alto nível dos rios no Acre tem chamado atenção desde a última semana atingindo mais de 120 mil famílias em todo o estado. O geógrafo Claudemir Mesquita, que estuda os rios, explica esse aumento dos níveis tem a ver com a chamada Alta da Bolívia – um anticiclone que ocorre na alta troposfera no verão sobre a América do Sul – que faz com que aumento o volume de chuvas nas cabeceiras do rios que cortam o Acre.

“Mas, esse é um fenômeno previsível. Todo sistema meteorológico é previsível, mais precisamente de cinco em cinco anos e pode ser mais forte ou mais fraco. Nesse caso, é mais forte porque é um período entre uma estiagem e outra. Quando isso ocorre, aumenta o volume de chuvas e as pessoas que trabalham na Defesa Civil teriam que alertar os prefeitos sobre isso não o fazem”, diz.

Mesquita destaca ainda que as equipes de monitoramento, segundo ele, não se preparam para prevenção, o que faz com os efeitos sejam ainda maiores nas cidades afetadas pelas enchentes.

“Só atuam quando ocorrem os fenômenos, mas tem que atuar na prevenção. Se essa prevenção não for feita, vai ocorrer o que ocorre sempre nas regiões. Outro fator que mexe nos rios é a população que mora na Várzea, na parte baixa dos rios. Por exemplo, o governo passado fez um bairro chamado Cidade do Povo para tirar esse povo e levar para esse bairro, tiraram e levaram, mas o povo retornou. O poder público não fiscalizou as áreas, não ocupou as áreas, que seria simplesmente replantar, tirar a família e replantar o local onde tinha casa para que não houvesse retorno”, pontua.

Mesmo apresentando vazante a enchente dos rios no estado já atinge mais de 121 mil pessoas, segundo a Defesa Civil Estadual. Para o estudioso, a natureza está seguindo seu fluxo, com ciclos previsíveis.

“Aí querem vender a imagem de que o rio desabrigou, o rio não desabriga, não ataca ninguém. Culpam o rio, mas ele só está ali querendo passar e acaba encontrando as pessoas ali.”

Para ele, a solução seria desabrigar as áreas às margens do rio e fazer casas com nível muito acima do rio para que não pudessem ser alagadas quando o rio subir.

“É preciso fazer um projeto de ocupação do solo urbano. Se existe esse projeto no Acre, as famílias não tiveram acesso e vou ocupando esses espaços. E isso leva o poder público decretar estado de calamidade para que venha recurso para o estado, mas não chega para os moradores fazer suas casas e comprar um barco para poder ir e voltar quando alagar . Enquanto isso não for feito, isso vai ser repetido a todos anos, porque assim é a vida do amazônida. Enquanto isso não ocorrer, esse problema vai se repetir inúmeras vezes”, finaliza.

Famílias sofrem com cheia do rio Iaco, em Sena Madureira  — Foto: Reprodução/ Rede Amazônica Acre

Cheia nas cidades

Além de Rio Branco, das dez cidades acreanas atingidas pela cheia dos rios, pelo menos outras cinco continuam apresentando sinais de vazante nas últimas 24 horas.

Os dados são divulgados pelo Corpo de Bombeiros diariamente com base em informações das Secretarias Municipais de Ação Social/Centro de Referência de Assistência Social e Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (Comdec).

Entre as cidades que apresentaram vazante está Cruzeiro do Sul, Feijó, Sena Madureira, Santa Rosa do Purus, Porto Walter e Rio Branco. Jordão, Mâncio Lima e Rodrigues Alves não divulgaram medição dos rios. Tarauacá, no entanto, teve uma leve subida no nível do rio que leva o nome da cidade.

Em números atualizados nesta terça (23), o Corpo de Bombeiros estima que ainda mais de 121 mil pessoas estejam atingidas pelas enchentes, mas o Acre chegou a ter 130 mil pessoas atingidas de alguma forma pela cheia dos rios na capital e no interior do estado. A Defesa Civil considera atingidas pela cheia casas onde a água chegou, desabrigando ou não os moradores.

Além das 10 cidades, o município de Porto Acre declarou situação de emergência por conta da cheia do Rio Acre que avança e já atinge mais de 400 famílias na cidade e zona rural. O decreto foi publicado nesta terça no Diário Oficial do Estado (DOE).

Cruzeiro do Sul

Com maior número de pessoas atingidas com a cheia no Acre, Cruzeiro do Sul, a segunda maior cidade do estado continua com cerca de 33 mil pessoas atingidas pelas águas do Rio Juruá e seus afluentes. O município decretou situação de emergência no último dia 15; o decreto é válido por 60 dias.

Conforme dados da prefeitura, Cruzeiro do Sul tem 259 famílias desabrigadas e mais de 3,9 mil desalojadas, que tiveram que deixar suas casas temporariamente. O Rio Juruá chegou a 14,02 metros na medição desta quarta-feira (24).

Tarauacá

O Rio Tarauacá, na cidade de mesmo nome, teve uma leve subida de 10 centímetros nas últimas 24 horas e marcou 9,40 metros nesta quarta (24). A cidade teve uma das situações mais críticas do estado.

Com uma população estimada em 43.151 pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro e Geografia e Estatística (IBGE), a cidade de Tarauacá tem 28 mil moradores afetados com a enchente do rio. De acordo com a Defesa Civil, dos nove bairros que há na cidade, apenas um não foi atingido pelas águas. Cerca de 90% do município foi afetado pela enchente.

A cidade decretou calamidade pública na quinta (18). O Corpo de Bombeiros informou que 77 famílias continuam desabrigadas e outras 38 desalojadas.

Com 3,2 mil pessoas atingidas pela enchente de rio, Feijó declara situação de emergência  — Foto: Juan Diaz/Arquivo pessoal

Feijó

O Rio Envira, em Feijó, que chegou à cota de14,15 metros nesta terça (23), ficando 32 centímetros a menos que nas últimas 24 horas. Apesar da vazante, ele segue acima da cota de transbordo, que é de 12 metros. A estimativa é que 3,2 mil pessoas estejam afetadas pela cheia, sendo 90 famílias desabrigadas e 47 desalojas.

Sena Madureira

O nível do Rio Iaco em Sena Madureira, no interior do Acre, continua baixando, mas o manancial segue acima da cota de transbordo, que é de 15,20 metros. Segundo dados do Corpo de Bombeiros, o rio marcou 17,66 metros nesta quarta-feira (24).

A cheia do rio atinge mais de 27,6 mil pessoas do município. Essa é a maior cheia desde 1997, quando rio marcou 19,40 metros. Ainda conforme os dados, 2,5 mil famílias estão desalojadas, ou seja, foram levadas para casas de parentes e outras 1.465 estão desabrigadas.

Informações do gabinete de crise instalado na cidade apontam que, ao todo, Sena Madureira está com 47 abrigos, instalados em escolas, igrejas e repartições públicas. Ao todo, 17 bairros bairros estão atingidos pelas águas.

  • Por Tácita Muniz, G1 AC.

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