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sexta-feira, março 29, 2024

Estudo avalia nanopartículas extraídas de bambu amazônico para diagnóstico e tratamento do câncer

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Uma pesquisa desenvolvida no Laboratório de Nanotecnologia da Universidade Federal do Acre (Ufac) tem testado um método promissor para o diagnóstico e tratamento do câncer usando nanopartículas extraídas da taboca, o chamado bambu amazônico.

O estudo ainda está em sua fase inicial, mas já conseguiu, diante de um método já conhecido pela ciência, produzir pontos quânticos de carbono pelo bambu, que ocorre em toda região amazônica. Esta é a primeira vez que uma pesquisa usando essa matéria-prima é desenvolvida no estado.

E quem está a frente desse estudo é o professor Marcelo Ramon da Silva Nunes. Ele ensina química no Instituto Federal do Acre (Ifac), mas faz seu doutorado na Ufac, com orientação de dois doutores na área – Anselmo Fortunado e Fernando Escócio.

“O nosso projeto no geral é pegar o bambu e transformar em tecnologia, a tecnologia que a gente usa é a nanotecnologia, que são partículas muito pequenas que a olho nu a gente não consegue ver, porém, elas têm propriedades bastante diferenciadas. No caso da nossa, as nanopartículas que a gente produz é de celulose, a celulose que vem do bambu”, explica.

Nunes explica que esse tipo de tecnologia não é novidade para a ciência, as nanopartículas podem ser sintetizadas de qualquer fonte de carbono e, segundo o pesquisador, o bambu foi escolhido justamente por ser algo abundante na região.

Esta é a primeira vez que as nanopartículas são extraídas no bambu, segundo pesquisador  — Foto: Arquivo pessoal

Processo

“O procedimento acontece com a trituração do bambu. A gente tritura o bambu em um moinho tradicional, em laboratório, e fica na ordem de milímetro. A partir daí a gente não mói mais, o processo é químico. A partir de uma série de reações químicas a gente transforma o bambu triturado em nanopartículas de carbono”, explica.

Esse processo químico inclui o hidróxido de sódio, que é mais conhecido como soda cáustica, que ajuda na remoção de lignina e hemicelulose do bambu, que no final fica uma celulose pura, branca, a mesma do papel.

Em seguida, uma reação química com ácido sulfúrico faz com que se chegue nos nanocristais de celulose,

“A última etapa faz mais uma reação química, que nesse caso, já é num reator hidrotermal autoclavado – a gente pega os nanocristais de celulose que produzimos na etapa anterior, que não são fluorescentes ainda, a gente introduz dentro de um reator hidrotermal e deixa ali com determinado solvente, que não podemos divulgar o nome, e ponho uma mufla, que é um forno, a 200º C durante um tempo que a gente não pode divulgar”, explica.

Diagnóstico e tratamento

Depois de todo esse processo, esse material é submetido à radiação ultravioleta para ver se ele fica fluorescente ou não.

“A nossa floresceu e essas nanopartículas elas estão sendo exploradas para auxiliar no diagnóstico de câncer, então como essas partículas são florescentes se a gente tratar ela quimicamente de tal modo que ela se ligue somente às células doentes e não se liguem a células saudáveis, ou seja, se a gente tratar ela de uma forma que ela se grude em células cancerígenas e não se grude em células saudáveis, aí a gente poderia injetar essas nanopartículas inicialmente em camundongos e futuramente em humanos”, esclarece.

Dessa forma, se a pesquisa avançar, essas nanopartículas, primeiramente apontariam onde estavam as células cancerígenas e também auxiliariam em uma quimioterapia menos agressiva, segundo ele.

“Ao mesmo tempo que essas nanopartículas iam me dar um diagnóstico através da florescência, ela pode ser útil como um nanocarregador. Pode carregar quimioterápicos de tal modo que ia matar só as células doentes, que seria o ideal da quimioterapia. O grande problema da quimioterapia convencional é que ela mata tanto as células doentes, como as células saudáveis. Por isso, dá os efeitos colaterais muito agressivos aos pacientes, como enjoo, tontura, queda de cabelos de modo geral, isso porque a quimioterapia mata as duas células, as boas e as más”, explana.

A pesquisa ainda é novam, segundo Marcelo, mas está avançada no Acre  — Foto: Arquivo pessoal

Próximos passos

Então, esse é o desafio dessa pesquisa que começou no ano passado e ainda está em fase inicial: fazer com que esse quimioterápico se ligasse às nanopartículas e atuassem somente na área doente do organismo.

“Com essa tecnologia a gente ia poder introduzir quimioterápico com mais frequência, de forma mais abundante que ia agredir somente as células cancerígenas.”

A pesquisa já foi publicada em dois congressos, sendo um aqui no Acre e outro em Manaus. O próximo passo agora é purificar; tratar quimicamente e fazer testes in vitro e, por fim, in vivo (camundongos do biotério da Ufac.

“Não sabemos quando o material estaria pronto pra população ou se, de fato, chegaremos ao produto final, mas a pesquisa é muito promissora e está acelerada”, finaliza o pesquisador.

  • Por Tácita Muniz, G1 AC.
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