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quinta-feira, março 28, 2024

Sociedade Brasileira de Primatologia suspeita que macacos flagrados agonizando em floresta no Acre estavam com febre amarela

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Após a circulação de um vídeo em que um grupo de macacos aparece passando mal, ofegantes e caindo de cima de uma árvore, a Sociedade Brasileira de Primatologia, se manifestou em uma nota, enviada ao G1 nesta terça-feira (16), e informou que a suspeita inicial é de que se trata de infecção pela febre amarela, que é uma doença endêmica na região.

As imagens foram gravadas pelo produtor rural Ruan Vitor, de 30 anos, que andava por uma floresta na zona rural de Plácido de Castro, no interior do Acre, quando se deparou com a situação.

Achando que os animais estivessem feridos, o produtor gravou vídeos mostrando os macacos agonizando no chão. As imagens foram feitas no fim de semana e chegaram até o Núcleo de Zoonoses da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre), que enviou uma equipe até a cidade para investigar o caso nessa segunda (15).

No documento, também assinado pela Sociedade Brasileira de Mastozoologia, pela Universidade Federal do Acre Ufac), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo instituto for Zoo, as instituições destacam que não há evidências de que se trate de um caso relacionado à Covid-19 e citam que a febre amarela é endêmica da região.

A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Primatologia, Zelinda Hirano, falou sobre a preocupação dos especialistas com as possíveis interpretações com relação ao vídeo. Ela informou que os Bugios, conhecidos no Acre como Capelões, são animais sensíveis à febre amarela e que acabam atuando como sinalizadores dessa doença em regiões.

“Nós, da sociedade, temos um grupo de trabalho de saúde que, no momento em que viu essa situação, se preocupou muito. Nós não podemos dizer que é Covid. Temos hoje no Brasil um surto de febre amarela em várias regiões, e aquela região aonde ocorreu o fato, já teve casos de febre amarela. Os Bugios são os animais mais sensíveis à febre amarela. Mesmo que seja febre amarela, o macaco não transmite essa doença, quem transmite é o mosquito. Se a Vigilância Epidemiológica detectar que ali tem um surto de febre amarela, ela tomará as providências. Tudo isso precisa ser confirmar, estudado pelo Ministério da Saúde, pela Vigilância Epidemiológica da região, que já está tomando providências. A sociedade está acompanhando todo o fato, porque realmente temos uma preocupação muito grande com o primata”, esclareceu.

Conforme a nota, a Coordenação-Geral de Vigilância de Arboviroses do Ministério da Saúde (CGARB/SVS/MS) e o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/CPB) estão cientes e investigando o caso, conforme procedimentos técnicos e legais estabelecidos.

“Isto inclui a verificação do histórico, coleta dos materiais biológicos necessários e sua destinação à Rede de Laboratórios de Referência do Ministério da Saúde. Cabe ressaltar que não há evidências de que se trate de um caso relacionado à COVID-19. Além disso, a febre amarela é endêmica da região e o vírus causador dessa doença está em período de maior circulação, portanto, essa é a suspeita inicial”, diz a nota.

Ainda segundo o documento, os primatas também são vítimas de doenças e são “maiores sentinelas para a saúde humana”. Por isso, segundo a Sociedade, esses animais não devem ser afugentados, agredidos ou mortos. O recomendado é que a população não entre em contato, nem alimente os animais, tanto para proteção deles, como dos homens.

“É fundamental que os serviços de saúde sejam informados sobre a morte de macacos ou animais doentes, incluindo o local. Assim que a investigação do caso avançar, as informações obtidas e conclusivas serão divulgadas”, conclui o documento.

Animais vão passar por análise

O produtor Ruan Vitor contou que andava na mata com um cachorro, no km 64, quando percebeu um macaco caindo de uma árvore. Ele disse que começou a filmar o animal, porém, outros animais começaram a cair no mesmo local.

“Quando estava embaixo da árvore começaram a cair mais macacos lá de cima. Fiquei filmando e os macacos caindo. Fiquei assustado quando vi os macacos caindo e só pensei em sair de perto. Estavam naquela situação que aparece no vídeo, sem ferimento, mas babando e tentando respirar”, relembrou.

Para checar a situação, foram enviados três veterinários, sendo dois do Núcleo de Zoonoses do Acre e outro do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf), além de uma bióloga da Sesacre.

Ao chegar na cidade, os profissionais se juntaram a servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da saúde municipal, e Ruan Vitor. O produtor foi até o local com as equipes e encontraram dois macacos ainda agonizando e um já morto.

Animais teriam caído das árvores e ficaram agonizando no chão sem ar — Foto: Reprodução
Animais teriam caído das árvores e ficaram agonizando no chão sem ar — Foto: Reprodução

Produtor está isolado em casa

Com medo de ter se infectado com alguma doença, Vitor passou em um igarapé, se lavou e seguiu para casa. Ele contou que enviou os vídeos para alguns familiares e foi alertado que aquilo não era comum. Preocupado, o produtor está isolado em casa sem contato com os demais familiares.

“Tanto a cachorra como eu estamos isolados sem contato com outras pessoas. Estou bastante preocupado com isso, mas não foi imprudência minha ter tocado nos macacos, mas, se for para analisar, a gente que é acostumado a andar no mato não costuma ver esse tipo de coisa. Já imaginei que fosse algo comum. Mas, no momento que percebi que não era comum, me afastei e tendo os devidos cuidados

Animais agonizando

Nas imagens, aparecem dois macacos, que segundo o chefe do Núcleo de Zoonoses, Francisco Euzir da Costa, seriam da espécie Capelão. O produtor rural se aproxima de um deles, que fica se debatendo entre as folhas. Em alguns momentos, o animal solta um barulho, aparentemente vindo do tórax.

Já em outro vídeo, o produtor levanta um dos animais pela mão e ele abre a boca – que tem um tipo de secreção branca – e solta um grunido. O animal não consegue ficar levantado e cai de lado novamente.

O chefe do Núcleo de Zoonoses acrescentou que ainda não é possível afirmar o que houve com os animais e que os profissionais devem fazer os exames necessários. “Pode ter sido alguma fonte de água, alguma contaminação. O médico veterinário vai fazer a retirada do material para exames e trazer para o Lacen [Laboratório Central] e, a partir daí, vamos ter algum diagnóstico para saber do que se trata”, frisou Costa.

Fonte: G1 Acre.

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