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sábado, maio 4, 2024

Do interior do Acre para virar ídolo no CRB, ex-meia destaca sonho realizado no futebol

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Ele teve aquela infância chamada ‘raiz’, jogando futebol descalço na rua com traves feitas por sandálias ou tijolos, e também nos campos de terra batida na cidade de Xapuri, no interior do Acre, antes de iniciar a trajetória nos gramados profissionais. Atualmente, aos 38 anos, o ex-meia Geovani desfila a categoria que sempre teve em campo atuando pela equipa amadora do Tucumã FC, de Rio Branco, capital acreana, cidade onde reside. Em entrevista exclusiva ao Globo Esporte ele fala sobre a carreira e o que pensa para o futuro.

Ex-meia Geovani destaca sonho realizado no futebol — Foto: Arquivo pessoal/Geovani Monteiro

Geovani disputou a última partida oficial em 2019 defendendo o Galvez no Campeonato Brasileiro da Série D. A ideia era ainda jogar mais uma temporada, quem sabe encerrar a carreira no clube onde se tornou ídolo, mas em 2020 a pandemia chegou e os planos mudaram.

– Infelizmente, tive alguns contratempos. Tive uma cirurgia no joelho em 2018. Demorei a fazer a cirurgia. O Rio Branco fez de tudo pra fazer, mas houve muita demora. Aí depois veio a pandemia e acaba que os planos vão mudando. Hoje me sinto mais tranquilo em relação a encerrar a carreira, já me sinto mais confiante nisso. Foi conversado com a família, claro, então decidi – diz.

– A minha intenção não era encerrar aqui no estado do Acre. A minha intenção era encerrar no CRB, um clube onde tenho uma história bonita. Foram quatros anos lá de muitas conquistas, jogos importantes, ano do centenário, mas a diretoria, o presidente que ficou lá 10 anos saiu no início desse ano, aí as coisas pararam de caminhar, não tivemos mais nenhum tipo de conversa com a nova direção e resolvi não esperar mais. No momento o que mais penso é encerrar mesmo, continuar com o trabalho com os meninos do Tucumã no amador. Me acolheram bem e estou me sentindo bem lá – completa.

Geovani foi campeão acreano pelo Rio Branco, m 2018 — Foto: Arquivo pessoal/Geovani Monteiro

Criado na base do Rio Branco-AC, ele se profissionalizou no Vasco em 2001. Depois de sair do Cruz-Maltino, em 2004, passou por Cruzeiro (2004/2006), Cabofriense, Duque de Caxias (2007), Blooming-BOL (2010), Ypiranga-RS (2011), Novo Hamburgo (2013), Ceará (2013), ABC-RN (2013), além de fazer história no CRB, onde jogou entre 2011 e 2014. O último clube fora do Acre foi o Coruripe-AL, em 2016. Depois ainda vestiu a camisa do Rio Branco-AC, em 2017 e 2018, sendo campeão acreano em 2018. O Galvez foi o último clube que defendeu, em 2019.

– Meu início foi no Rio Branco. Passei pelo professor Paulo Roberto (de Oliveira, atual técnico do Galvez), Illimani (Suarez). Saí muito cedo, com 16 anos fui pro Vasco, em 99. Me profissionalizei lá, joguei um brasileiro, meu primeiro brasileiro – lembra.

A carreira de quase 25 anos não foi recheada de títulos. Além do estadual conquistado com o Rio Branco-AC, o ex-meia foi também campeão alagoano com o CRB em 2012, ano do centenário do clube. Mas se quiser falar em acesso, Geovani tem propriedade. Em 2007, ajudou o Duque de Caxias a conquistar o acesso para o Campeonato Brasileiro da Série B e também para a elite do Campeonato Carioca. Em 2011, foi peça importante do CRB na campanha do acesso à Série B do Brasileiro. Também participou da campanha do Uberlândia para chegar à elite do futebol mineiro.

Geovani marcou história no CRB-AL — Foto: Arquivo pessoal/Geovani Monteiro

Geovani diz que realizou o sonho de criança e lembra os grandes nomes de peso do futebol nacional com os quais teve oportunidade de atuar.

– Sou torcedor do Vasco, sempre fui desde que me conheço por gente. E realizei meu sonho que era jogar no meu clube do coração. Um cara que tinha muita vontade de jogar junto era o Alex (ex-meia) e joguei com ele no Cruzeiro. Tive grandes estrelas no Vasco, joguei com Romário, Juninho Pernambucano, Felipe, Pedrinho, Ramon, Gilberto, Bebeto, Alex Oliveira, Alex Dias, Aloísio Chulapa no CBR. Maldonado, Cris, zagueiro, Edu Dracena, o Fred, no início do Cruzeiro. Tive grandes jogadores do meu lado, grandes pessoas. Aprendi muito com esses caras, principalmente na minha especialidade que é bola parada. Joguei com Edmundo no Vasco também.

Chegada ao Vasco

Geovani se profissionalizou no Vasco, em 2001 — Foto: Arquivo pessoal/Geovani Monteiro

– Estava com a seleção acreana de futsal em Porto Alegre jogando uma competição e era pra eu ter ficado lá no Inter. Meu pai não aceitou porque sabia que eu era vascaíno e estava negociando com o pessoal do Vasco aqui em Rio Branco, enquanto eu estava lá. Fui por indicação. Veio um diretor do Vasco aqui (no Acre) atrás de jogadores e indicaram eu e o Léo (Raches). Isso foi em 98, no meio do ano. Quando cheguei aqui meu pai já tinha negociado com o pessoal do Rio Branco e do Vasco pra eu me apresentar no dia 17 de janeiro de 1999 no Vasco. Fui por um ano de empréstimo, fui bem e o Vasco me comprou do Rio Branco e fiz um contrato de cinco anos.

Sonho de criança realizado

Geovani atuou no Ceará em 2013 — Foto: Arquivo pessoal/Geovani Monteiro

– Pra mim foi incrível. Sou natural de Xapuri e quando cheguei no Vasco vi aquela grandeza, um clube do tamanho que é o Vasco, eu sendo vascaíno. Saí de Xapuri e, de repente, estava me olhando dentro de São Januário e, em exatamente um ano, estava no meio dos profissionais jogando com Bebeto, Romário, Edmundo, Viola, Júnior Baiano, pegando os caras encerrando como Mauro Galvão, Valber, surgindo outros caras, Felipe, Ramon, Pedrinho. Pra mim foi um aprendizado muito grande, uma honra tremenda estar presente junto com esses caras. Depois ter presenciado o Alex no Cruzeiro. Infelizmente, cheguei no Cruzeiro em 2004, não participei daquela tríplice coroa de 2003. Com um pouquinho mais de sorte tinha chegado em 2003 e ganho tudo, mas tinha um contrato até o final de 2003 o Vasco, tinha que cumprir, então só pude me apresentar no início de 2004.

– Foi grandioso, algo que guardo até hoje na memória. Pra mim foi algo sobrenatural quando me vem a imagem e me vejo dentro do Vasco, do Cruzeiro, e venho a pensar que saí de Xapuri, cidade pequena, e conseguir ganhar esse mundão no meio do futebol. O futebol me deu muitas coisas, muitas alegrias – ressalta.

Inspiração na infância

– Um cara que sempre gostei de assistir, que sempre me inspirou era o Djalminha. Canhoto, muita qualidade, não era um jogador rápido, mas ser tornava muito rápido no raciocínio. Não era rápido em velocidade, mas no pensamento o cara era incrível e fazia coisas extraordinárias com a bola.

Geovani marcou época com a camisa 10 do CRB — Foto: Ailton Cruz/ Gazeta de Alagoas

Futuro

– Pretendo sim mais pra frente estudar, focar na carreira de treinador é a minha intenção. Espero que algum clube do estado possa abrir portas. Hoje tenho o pensamento que aqui no nosso estado é muito complicado, futebol é muito difícil sem apoio. É muito difícil fazer futebol sem dinheiro. Já tivemos grandes oportunidades de estar bem, infelizmente não aconteceram. Acredito que hoje a bola da vez seja o Galvez, seja o clube mais estruturado fisicamente e financeiramente. A minha prioridade agora é estudar e quem sabe futuramente começar uma carreira de treinador. O clube que abrir a porta a gente vai sentar pra conversar e quem sabe começar uma nova carreira.

– A intenção é sim permanecer no meio do futebol. É o que vivi a vida toda, é o que eu sei fazer, o que gosto de fazer, ainda move muito o futebol dentro de mim, então quero continuar fazendo parte desse privilégio que é trabalhar no meio do futebol, que é ter sido jogador, por tudo que o futebol me deu, emoções, tristezas, sabedoria. A minha escola foi a vida e o futebol. Me ensinaram grandes coisas, aprendi muito, caráter, ser homem, então quero permanecer e continuar e poder ensinar aquele pouquinho que aprendi durante esses 25 anos de carreira.

Jogo inesquecível

Geovani foi destaque durante passagem pelo CRB-AL — Foto: Arquivo pessoal/Geovani Monteiro

Vitória de 4 a 3, de virada, sobre o Joinville no Campeonato Brasileiro da Série D de 2012. CRB estava perdendo por 3 a 0 até os seis minutos do segundo tempo, no estádio Rei Pelé, em Maceió (AL). Geovani fez três gols e deu uma assistência, comandando a vitória histórica no ano do Centenário do Galo.

Momento inusitado: Romário, Felipe e a Ferrari

–Em 2000 tive uma situação inusitada. O Romário chegou com a Ferrari dele, estávamos todos sentados e o Felipe estava brincando porque tinha chegado com um carrão também. Aí o Romário falou pro Felipe assim: “Ô Felipe, vai ali na porta do vestiário que deixaram um presente pra você”. Quando o Felipe chegou lá tomou um susto, era a Ferrari do Romário, uma Ferrari vermelha. E ficou todo mundo rindo porque o Felipe chegou tirando onda com o carro que tinha acabado de comprar e o Romário chegou com a Ferrari e deixou na porta do vestiário. Era o único carro que ficava na porta do vestiário. Engraçada a situação, que dificilmente iria viver estando aqui em Rio Branco, estar dentro de um vestiário onde estavam Romário, Bebeto, Edmundo, Euller, Viola. E tive o privilégio de fazer parte de um elenco desse.

Ídolo e 4° maior artilheiro do CRB

Geovani é o quarto maior artilheiro do CRB-AL — Foto: Arquivo pessoal/Geovani Monteiro

– Ser ídolo no CRB é algo fantástico. O aniversário do clube é a mesma data do meu aniversário. Aconteceu tudo certo. Da onde eu chutava a bola entrava, a torcida me abraçou, estava muito bem fisicamente, psicologicamente, estava voando, na melhor fase da minha carreira. Acho que isso me ajudou muito. Era o que eu queria, estava num clube de massa no nordeste. É esquisito, chega a ser estranho acabar sendo ídolo em outro estado, mas pra mim é gratificante demais. Até hoje recebo mensagens, vídeos dos torcedores. O trabalho reconhecido é muito bom.

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