Hoje, ela vive em Manaus com os filhos. Em 2018, ela foi acometida por um segundo AVC, que a deixou sem os movimentos das pernas e também faz tratamento contra o câncer. E foi aí que ela começou a pedir aos filhos para voltar à cidade acreana, onde conheceu seu companheiro, para ir até o coreto da praça, que tantas vezes testemunhou esse amor.
Rosy Maria de Paula Seabra é uma das filhas que acompanhou Hulda até a cidade. Ela disse que a mãe se emocionou bastante ao ir até o coreto e ver novamente o Rio Iaco, que corta a cidade.
“Ela ainda se emociona muito quando fala dele. Quando vamos ao hospital do Exército, que toca a corneta, ela sempre fica muito emocionada. Ela nunca quis casar de novo, sempre dizia que foi muito feliz com meu pai. O sonho dela era voltar aqui, fazia mais de 30 anos e quando ela teve esse último AVC, perdeu os movimento das pernas e virou cadeirante, disse que tinha o sonho de voltar em Sena Madureira e rever o coreto, local onde se encontravam, porque ela tinha essa memória com meu pai muito viva”, conta.
De 2018 para cá, o sonho foi adiado algumas vezes devido à condição de saúde da idosa e também a pandemia. Hulda chegou na capital acreana no último dia 17, e ficou hospedada na casa de familiares. E neste domingo (21), ela encarou os 143 km de Rio Branco até Sena Madureira, interior do Acre, para ir até o coreto.
“A gente queria realizar esse sonho porque não sabemos quanto tempo ainda vamos ter com ela”, conta a filha.
Hulda hoje está debilitada e fala pouco. Ao chegar no coreto, ela ficou calada e a maior parte do tempo de olhos fechados e bem emocionada. Em depoimento, gravado pela filha após a viagem até Sena, ela conta que ficou muito feliz com a ida até a cidade.
“Nós crescemos juntos. Quando cresci, comecei a namorar com ele e a gente se encontrava na praça, no coreto. Eu tinha 18 anos quando fui embora para Manaus”, diz entre frases mansas.
Ao fim, ela relembra que o coreto de Sena Madureira era o local onde ela e o marido sempre se encontravam. Ela conta também que pescava no rio e fala das vezes que voltou na cidade para visitar a família após já ter os filhos.
“Eu vi o Rio Iaco, eu pescava muito mandi. A gente foi no coreto, estava tudo branco, bonito. Era lá que eu namorava com o João. Eu gostava demais dele, vivemos 32 anos. Lembrei dos tempos antigos, de quando morei lá. Estou feliz”, fala emocionada.