Para a coordenadora técnica de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) da Sesacre, Suilany Souza, o aumento de novos casos está ligado à volta de testagem nas unidades de saúde dos municípios. Por conta da pandemia, ela explicou que essa testagem não estava sendo feita constantemente.
“As unidades voltaram a fazer testagem, começaram a realizar também aquelas ações de rua. Por exemplo, na Campanha de Julho Amarelo, que é a campanha de combate à hepatite, a da sífilis que foi em outubro, eles voltaram a fazer a testagem nas ruas, então, isso contribui com o aumento de notificações. Isso é bom, considerando que essa população estava aí e, por conta da pandemia, ninguém estava fazendo testagem nenhuma, então, eram pessoas que estavam infectadas e não sabiam do seu estado sorológico”, frisou.
Ações de prevenção e combate
Suilany contou que, desde julho, a Sesacre trabalha na descentralização do trabalho. A ideia é levar o tratamento do paciente para a atenção primária, como já é feito em outros estados brasileiros. Com isso, o paciente faz a testagem, acolhimento e pega o medicamento nas unidades de saúde dos municípios.
“Então, o paciente quando é detectado na fase inicial da infecção, quando são solicitados exames da carga viral e todos os exames que para fazer o manejo clínico para ele iniciar o tratamento na atenção primária, não precisa ficar aguardando a consulta no Serviço de Assistência Especializada (SAE) ou sair de seu município para fazer o tratamento”, complementou.
Para fazer este tratamento, a coordenadora falou que cada município, com exceção da capital, Rio Branco, já indicou uma unidade de saúde que vai servir como referência no tratamento. Após essa indicação, as equipes da Sesacre iniciaram, em julho, alguns treinamentos e ações para garantir o atendimento aos pacientes:
- Capacitações de profissionais médicos e enfermeiros para a realização do manejo clínico do paciente na atenção primária;
- Capacitações para qualificação da Testagem Rápida;
- Ofertar do diagnóstico e tratamento em tempo oportuno na atenção primária;
- Expansão da oferta das profilaxia de prevenção ao HIV (PEP e PREP).
“Estamos trabalhando em várias linhas para darmos acesso ao paciente para que possa escolher a forma e como vai se sentir melhor para aderir ao tratamento. Então, hoje, pelo sistema do Ministério da Saúde, que é o Siclom [Sistema de Controle Logístico de Medicamentos], que libera a medicação do tratamento de HIV, onde estiver o Siclom e um farmacêutico operando vai poder, mediante prescrição médica, fazer a medicação sem precisar o paciente se deslocar para Rio Branco, largando a família e, muitas vezes, ficar passando necessidade”, acrescentou.
Conforme Suilany, este deslocamento até a capital para buscar a medicação é um dos principais causadores do abandono do tratamento. Dados do Sistema de Monitoramento Clínico de pessoas com HIV (SIMC) revelam que, atualmente, 382 pacientes abandonaram o tratamento no Acre.
A coordenadora cita outros motivos para o abandono.
“Os serviços deveriam fazer o acompanhamento desses pacientes e, no momento do abandono do tratamento, fazer esse resgate. Isso nunca foi feito, nem pelo serviço de atenção especializada, que deixou a desejar, e nem pelo município. Para o paciente não desenvolver a Aids, que é a doença, ele pode conviver com HIV durante anos, tem que fazer o tratamento. Se ele abandona, pode desenvolver a doença”, lamentou.
Esse é outro ponto que a Sesacre tenta alinhar com os municípios para tratar os pacientes. Ela afirmou que o acompanhamento e monitoramento dos pacientes devem ser garantidos pelo serviço que faz a testagem.
“Quando ele abandona o tratamento nem o serviço que cuidava dele faz a busca ativa para entender a dificuldade, se está tendo acesso à medicação e nem o próprio município. O município faz o teste, detecta o paciente, manda para o serviço especializado e por isso fica. Ele não faz o monitoramento e acompanhamento da sua população para o seu âmbito. Não acompanham”, finalizou.
- Por Aline Nascimento e Ellem Jady, g1 AC.