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sexta-feira, abril 19, 2024

Cruzeirense passa por cirurgia de redesignação sexual e comemora momento: “Tive que criar muita coragem pra ser quem eu sou de verdade”

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Resistência talvez seja a palavra que melhor define a luta das mulheres transexuais para garantir e proteger seus direitos. Lutar para sobreviver num mundo que não costuma acolher identidades de gênero diferentes da ‘cis’ infelizmente é o cotidiano de muita gente.

Cruzeirense saiu de Cruzeiro do Sul para fazer transição de gênero em São Paulo, Vênus de Souza Silva de 22 anos, que prefere não citar o nome antigo de registro dela, foi para São Paulo fazer a cirurgia de redesignação sexual.

A transgenitalização, ou neofaloplastia, popularmente conhecida como cirurgia de mudança de gênero, é feita com o objetivo de alterar as características físicas dos órgãos genitais, de forma a que a pessoa possa ter um corpo adequado ao que considera correto para ela mesmo.

Vênus diz que começou a sua transição ainda aqui no município com a utilização de hormônios, mas que já percebia as mudanças em seu corpo. “Eu me sentia muito recuada, tinha muito medo do que a minha família ia pensar ou falar, mas em questão de sociedade, eu nunca liguei para a opinião das pessoas sobre mim”, disse.

Segundo ela, sua decisão de ir para São Paulo foi como uma válvula de escape, até porque em Cruzeiro do Sul não há lugar para anteder pessoas transgênero, diferentemente de São Paulo. “Eu quis vir embora pra cá tanto para eu ter sossego e paz, quanto para fazer minha transição tranquila. Fazer essa transição já é muito complicada, é todo um processo com médicos e psicólogo. Você vive uma TPM 24 horas por dia”, explica.

Vênus conta que já está tomando hormônios, injeção e medicamentos, a mais de dois anos. Ela diz que preferiu ir embora para se sentir bem consigo mesma “Aí [em Cruzeiro do Sul], eu não vejo que as pessoas são tão bem capacitadas. Não desvalorizando, é só que falta conhecimento e compreensão para entender o caso de outras pessoas. Eu fui aí para trocar meus documentos no cartório e quando ia em postos de saúde, tomar minha vacina, as pessoas ainda me tratavam no masculino, mesmo já vendo minha aparência mudada”, conta.

Vênus disse que não foi fácil, já passou fome, já teve épocas que não tinha onde dormir. “Nunca foi fácil, não está sendo fácil, melhorou bastante, mas não foi fácil chegar onde eu estou agora”, explica.

Ela diz que através de uns contatos conseguiu realizar seu sonho de fazer a redesignação sexual, a “mudança” de sexo. “Consegui fazer e estou muito realizada, muito feliz. Eu sinto que nasci de novo, tanto fisicamente quanto legalmente, porque todos os meus documentos já estão atualizados para o feminino. Foi uma mudança bem radical que eu já queria a muito tempo, mas nunca tive acesso. Tive que criar muita coragem pra ser quem eu sou de verdade”, disse. Ela contou que futuramente, talvez, coloque silicone e está muito feliz.

Sobre o preconceito, Vênus acredita que é justamente por conta disso que existe tanta mulher trans na rua passando por necessidade ou se prostituindo. “É por conta disso que o Brasil é um dos países que mais mata pessoas trans. Eu acho realmente um absurdo, muito triste. [Cruzeiro do Sul], é uma cidade bonita, acolhedora, onde as pessoas tratam muito bem quem vai de fora, mas acabam tratando com indiferença as pessoas que não convém pra elas. Sempre que eu penso em ter que voltar aí eu fico muito triste pensando no que vai ser de mim. Medo de andar na rua, de soltarem piada, de chegar em algum lugar e sofrer preconceito”, disse.

Vênus conta que é muito grata a sua família por apoiá-la nas suas decisões. “Gostaria de agradecer primeiramente a minha família, depois Gabriel Bonfim por ter me ajudado na retificação do meu documento e Jeferson e Ana Paula, que São de Paulo. Gostaria de dizer para as pessoas respeitarem mais os outros, não é escolha de ninguém ser assim. Se fosse para escolher, a gente escolheria viver em um mundo sem preconceito, sem morte, sem suicídio. A gente não escolhe passar por tanta coisa. Que o respeito e o amor sejam sempre em primeiro lugar na vida das pessoas”, disse.

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