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sexta-feira, março 29, 2024

Projeto que paga pequenos agricultores por serviços ambientais quer reduzir desmatamento no Acre

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Pagar por serviços ambientais e levar até os pequenos produtores técnicas e orientações sobre a conservação ambiental. Este é o objetivo do projeto “A renda da floresta”, que ocorre em Tarauacá e Feijó, no interior do Acre.

O estudo é financiado por um instituto francês de pesquisa em agronomia e meio ambiente e tem como parceiros a Universidade de São Paulo (USP) e a ONG SOS Amazônia.

Segundo um dos pesquisadores da USP que acompanham o projeto, Cauê Carrilho, as atividades começaram em junho deste ano nas duas cidades do interior do estado. Durante este tempo, 400 famílias foram cadastradas, mas apenas 220 foram sorteadas para seguir no projeto, que tem duração de um ano.

“A ideia é tentar entender se esses pagamentos por serviços ambientais funcionam para reduzir o desmatamento, além de tentar ter algum tipo de política pública que coopere com esses pequenos produtores, porque uma vez que você só aplica as leis ambientais e fala que ele não pode desmatar, muitas vezes ele fica sem alternativa por não saber muito bem como produzir sem o desmatamento”, destaca.

Ele explica que isso acontece porque o solo da Amazônia, no geral, não é muito rico. Por isso, os pequenos produtores têm a técnica da queima do solo, que o deixa mais rico em nutrientes, mas somente por um tempo, fazendo com que essas queimadas se tornem mais constantes.

“Quando ele queima a floresta, tem uma chuva de nutrientes que vai possibilitar que ele faça a agricultura dele, mas isso tem um prazo de validade. Você não consegue usar aquele solo por muito tempo, então ele queima outro trecho e assim vai. Então, queremos ver se esse tipo de pagamento pode ser o componente para ajudar esses produtores”, explica.

A participação no programa é voluntária. O produtor assina um acordo em que concorda receber determinada quantia de dinheiro em troca de conservar o que ainda está preservado na área dele.

“Pode continuar usando as áreas que ele tem abertas, continuar com a produção, só que naquele período precisa conservar a floresta que tem no lote dele. Como recompensa, como remuneração, ele recebe esse dinheiro”, pontua.

A análise dessa área conservada vai ser feita por meio de drones e com as imagens os pesquisadores vão avaliar se esse pagamento acaba impactando na conservação da floresta, fazendo com que os pequenos produtores preservem mais suas áreas.

“Se tiver cumprido o acordo firmado, vai receber o dinheiro na conta dele e aí, com as imagens de satélite, vamos avaliar o impacto desse pagamento com relação à conservação dessas áreas.”

Mais de 220 famílias foram sorteadas para o estudo  — Foto: Asscom/A renda da floresta

Chegar nas áreas mais difíceis

Em agosto deste ano, quando foram registrados altos índices de queimadas em todo o estado e principalmente nas propriedades rurais, a engenheira agrônoma e doutora em ciências florestais tropicais e uma das principais pesquisadoras do fogo na Amazônia Sul Ocidental, Sonaira da Silva, já havia alertado que o que incentiva as queimadas é justamente a ausência do Estado e das políticas públicas voltadas para combater essas práticas.

Ela diz ainda que os registros de queimadas não são maiores na cidade. Segundo ela, o fogo em áreas rurais continua sendo o maior protagonista desta triste marca.

“As queimadas urbanas existem, mas não são elas que geram esse impacto que a gente vê; as queimadas rurais são em maior número e impactam maior área. Em torno de Rio Branco realmente tem queimadas, mas em termos de área ela é muito menor do que se queima na zona rural”, disse ao reforçar que era necessário criar estratégias para que alternativas cheguem até às pessoas que usam a terra. Segundo ela, essa é a única forma de começar a mudar este cenário a longo prazo.

E, além do aporte financeiro, o projeto “Renda da Floresta” também visa orientar e apresentar a esses pequenos produtores alternativas que podem ser aplicadas em suas produções, usando técnicas sustentáveis.

Pesquisadores visitaram duas cidades do Acre  — Foto: Asscom/A renda da floresta

Juliana Ripka, engenheira florestal que faz parte do projeto, diz que conseguiu sentir a dificuldade de quem mora nessas áreas, muitas vezes de difícil acesso.

“Imagina viver nessas comunidades, que você não tem como escoar sua produção, não consegue trazer insumos para que consiga produzir sem a necessidade do ciclo do corte, derrubada e queimada, que é o desmatamento em si. É muito difícil para essas famílias terem uma alternativa ou enxergar uma outra forma de produção do uso do seu solo”, diz.

A engenharia enfatiza que, durante as entrevistas, o grupo foi até a casa desses produtores e fez um questionário para ouvir essas comunidades e, segundo ela, a queixa maior desses produtores é justamente a falta de assistência técnica.

“Há outras queixas, como acesso a crédito também, por exemplo, mas a assistência técnica é muito sensível porque eles precisam de ferramentas. Existem técnicas, tecnologias, forma de utilizar o solo, inclusive o amazônico, que tem suas características específicas de manejo, mas que pode ter um uso conservacionista, que é um uso que dá continuidade para produzir uma variedade de alimentos, de culturas, que sejam boas para subsistência, mas também para fora do mercado. Mas, pra isso, precisa de políticas de investimento, de pessoas para trabalhar e acessar essas regiões”, finaliza.

Por um ano, programa quer fazer com que produtores encontrem alternativas de cultivo  — Foto: Asscom/A renda da floresta

  • Por Tácita Muniz, g1 AC.
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