Após sete meses foragida, Francisca Roberta Gomes de Araújo Cruz, de 36 anos, foi presa na manhã deste sábado (29) no Ramal do Pica Pau, bairro Amapá, em Rio Branco, por homicídio. Ela foi condenada a mais de 46 anos de prisão em regime inicial fechado pela morte da adolescente Raquel Melo de Lima, de 13 anos.
A vítima foi achada enterrada em uma cova rasa em janeiro de 2021, na capital acreana. Em dezembro, a Justiça condenou a 320 anos de prisão em regime inicial fechado sete acusados da morte da adolescente. O resultado do júri popular saiu após dois dias de julgamento na 1ª Vara do Tribunal do Júri.
Francisca Roberta foi julgada à revelia e, após o fim do julgamento, a Justiça determinou a prisão preventiva da acusada. Ela havia sido solta em audiência ocorrida no dia 16 de junho do ano passado após a defesa alegar que ela tem nove filhos menores de idade e um deles precisa de atenção especial.
Acontece que depois de ser solta, ela não foi mais encontrada pelo oficial de Justiça para comparecer ao julgamento.
Na manhã deste sábado, equipes da Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) cumpriram o mandado judicial expedido pela Justiça. Ela foi levada para uma delegacia para os procedimentos necessários e depois será levada ao presídio para começar a cumprir a pena.
Raquel Melo de Lima, de 13 anos, foi morta em Rio Branco em janeiro do ano passado — Foto: Arquivo pessoal
Julgamento
O julgamento dos sete acusados começou no dia 6 de dezembro do ano passado. Os acusados não podem recorrer da sentença em liberdade.
O júri sentenciou os acusados da seguinte forma:
- Yago da Silva Sabino – condenado a 41 anos, 9 meses e 10 dias de reclusão e 70 dias multa;
- Thyego da Silva Sabino – condenado a 41 anos, 9 meses e 10 de dias de prisão e 70 dias multa;
- Rosinei Pereira Santos – condenado a 46 anos, 5 meses e 10 dias de reclusão e 80 dias multa;
- Janes Cley Pereira Santos – condenado a 53 anos, 10 meses e 20 dias de reclusão e 90 dias multa;
- Rosinaldo Pereira Santos – condenado a 43 anos, 3 meses, 10 dias e 80 dias multa;
- Francisco Elcivan Leandro Rodrigues – condenado a 47 anos, 7 meses, 10 dias e 80 dias multa;
- Francisca Roberta Gomes de Araújo Cruz – condenada a 46 anos, 5 meses e 10 dias e 80 dias multa.
Ao todo, oito foram denunciados por participação na morte de adolescente, mas uma está foragida e não vai passar pelo júri — Foto: Reprodução
Tatiane Souza da Silva, que também foi denunciada pelo crime e estava foragida, seria julgada de forma separada.
O grupo foi denunciado pelos crimes de sequestro, homicídio qualificado, ocultação de cadáver, corrupção de menores e por integrar organização criminosa. O g1 não conseguiu contato com a defesa dos acusados.
Além dos seis réus presentes no júri, foram ouvidas sete testemunhas, entre elas a mãe de Raquel, no primeiro dia de julgamento, que durou cerca de 10 horas.
Denúncia
Consta na denúncia que no dia 29 de janeiro de 2021 os acusados sequestraram a adolescente e a mãe dela quando as duas saíam de uma igreja. Os criminosos então teriam examinado o celular de Raquel para saber se ela tinha ligação com a facção rival e levaram as duas para um local enquanto aguardavam uma decisão sobre qual seria o fim das duas.
Após decisão do chamado “tribunal do crime”, os acusados liberaram a mãe da adolescente sob ameaças de que se ela acionasse a polícia também seria morta. Em seguida, eles levaram Raquel para uma área de mata e a mataram com tiros de arma de fogo e dezenas de golpes de faca. O grupo então enterrou a menina em uma cova rasa.
A motivação do crime, conforme a denúncia, foi uma vingança, uma vez que os acusados acreditavam que a vítima estava interagindo com a facção rival a que eles pertenciam.
Adolescente foi achada morta com um tiro no rosto enterrada em área de invasão em Rio Branco — Foto: Arquivo/Bope
Morte e prisões
O corpo de Raquel foi achado por uma equipe do Batalhão de Operações Especiais (Bope) em uma área de invasão. Ela foi arrastada de dentro de uma igreja para ser morta.
Conforme a Polícia Civil, a menina foi morta dois dias antes de o corpo ser encontrado. No mesmo dia em que o corpo da adolescente foi encontrado, a polícia prendeu em flagrante os irmãos Yago da Silva Sabino, de 20 anos, e Tyego da Silva Sabino, de 18, suspeitos de participação no crime. Essa prisão em flagrante foi convertida em preventiva pela Justiça acreana.
Após o corpo ser encontrado, duas casas de familiares da adolescente foram incendiadas no Ramal do Pica-Pau. A suspeita da polícia é que tenha sido uma retaliação após a prisão de dois suspeitos do crime. Uma das casas incendiadas era da mãe de Raquel. Segundo a Polícia Civil, ela já tinha se mudado do local logo após o crime e, por isso, o imóvel estava vazio no momento do incêndio.
No dia 3 de fevereiro do mesmo ano, outros quatro suspeitos de participação na morte da adolescente foram presos. Com o grupo, a Polícia Militar encontrou uma das armas que teria sido usada para matar a adolescente.
No dia 11 de março, uma mulher de 34 anos foi presa suspeita de participar da morte da adolescente. Na época, a Polícia Civil informou que a mulher estava foragida e foi capturada em uma rua do bairro Recanto dos Buritis, Segundo Distrito da capital acreana. A suspeita faz parte de uma organização criminosa e já responde por diversos crimes na Vara de Organização criminosa do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC).
No dia 2 de junho, mais um foi preso suspeito de participar da morte da adolescente Raquel Melo de Lima. Com mais essa prisão, são oito pessoas detidas suspeitas de participação da morte da adolescente.
Lidinalva de Melo Viana, de 13 anos, foi achada morta meses depois — Foto: Arquivo pessoal
Ossadas da irmã e cunhado achadas
No dia 9 de junho do ano passado, equipes da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) acharam duas ossadas humanas no Ramal do Pica Pau. Na época, a Polícia Civil informou que uma das vítimas era irmã da adolescente Raquel. As ossadas estavam próximas ao local onde o corpo da adolescente foi achado.
Lidinalva de Melo Viana, de 13 anos, e o namorado José Daniel do Nascimento, de 19, foram assassinados em setembro de 2020 por membros de uma facção criminosa. Eles estavam desaparecidos desde a época do crime e a polícia fazia buscas. A motivação para o crime, segundo a polícia, seria a saída do casal da organização e ida para outro grupo criminoso.
Corpos foram achados em uma cova rasa no Ramal do Pica Pau, em Rio Branco — Foto: Arquivo pessoal
Contudo, eles ficaram morando no mesmo bairro dos antigos comparsas e tiveram a morte decretada. Lidinalva e José Daniel foram enterrados na mesma cova, e os criminosos colocaram o corpo dela em cima do rapaz.
Ainda segundo as investigações, Lidinalva e José Daniel foram levados até o local do crime e cavaram a própria cova. Após abrirem o buraco, os dois teriam sido mortos a golpes de faca e tiros.
Por Aline Nascimento, g1 AC

