Aos 20 anos e moradora da pequena cidade de Jordão, cidade isolada do Acre, a estudante Antônia Roseli Melo tem o sonho de dar orgulho aos pais por meio da educação. Jordão tem 8.628 habitantes, fica no interior do Acre, e para chegar até lá só de avião ou barco. Depois de muito se dedicar aos estudos, ela passou em saúde coletiva na Universidade Federal do Acre, em Rio Branco, mas agora precisa de custear a mudança até a capital.
Para isso, ela decidiu fazer uma rifa solidária para arrecadar o dinheiro. Mais nova de sete irmãos, Antônia é filha de produtores rurais, que vivem em uma colônia na cidade onde moram. Ela conta que o pai é analfabeto e a mãe só pôde estudar até a 5ª série – o estudo aos filhos sempre foi oferecido a custo de muito esforço e suor.
Ela é a segunda da família a passar em um curso de nível superior. Estudante de escola pública, ela diz que sempre viu na educação a maneira de mudar de vida e ajudar os pais.
“Na escola sempre procurei ser destaque, porque estudo nunca foi problema, sempre achei que não tinha outra forma de dar orgulho para os meus pais a não ser na escola. Então procurei ser destaque, tirar boas notas e até hoje meus professores sempre falam bem de mim. Sou filha caçula, tenho seis irmãos, uma irmã faz pedagogia na Ufac, mas não precisou se mudar, porque os professores vêm até Jordão”, conta.
Antônia conta que sonha em fazer enfermagem. Na cidade onde mora chegou a fazer um curso de técnica de enfermagem. Porém, não conseguiu terminar, como o previsto, em 2019. O curso atrasou e depois da pandemia não retornou mais – a frustração se tornou combustível para estudar ainda mais.
“Sempre tive o sonho de estudar na área da saúde, porque pra mim é algo surreal poder transformar a vida de outra pessoa, cuidar. Por isso sempre gostei dessa área, por enquanto consegui saúde coletiva, mas quero muito enfermagem”, conta.
Mas, para poder chegar à capital, a família vai ter que gastar com a mudança da estudante – dinheiro que eles não têm. A família de nove pessoas vive apenas com um benefício que o pai recebe.
Os dois trabalham também em uma colônia e os filhos ajudam com alguns bicos. Antônia, por exemplo, diz que desde muito nova tenta ajudar os pais financeiramente.
“Em Jordão, já trabalhei como babá, doméstica e trabalhei fazendo faxina, isso pra mim não é problema. Para uns pode ser vergonhoso uma pessoa de 20 anos trabalhar assim, pra mim não é. Meu pai sempre costuma dizer que é feio roubar e nunca tive esse costume, sempre procurei trabalhar, porque meus pais não têm condições e sempre procurei ajudar de alguma forma financeiramente em casa”, diz.
‘Não desistir’
Com a venda das rifas, que ela divulga em sua rede social, ela pretende arrecadar R$ 3,8 mil. As aulas estão previstas para começar no dia 21 de março, mas a estudante pretende chegar na cidade duas semanas antes para se adaptar e resolver algumas questões.
Por enquanto, ela vai ficar na casa de um colega da família, mas diz que ao longo do tempo pretende alugar um apartamento e comprar os utensílios domésticos de segunda mãe.
“Meu pai recebe uma pensão, minha mãe está desempregada, meu pai fica na colônia e foi assim que os dois conseguiram criar meus seis irmãos e eu. A renda que a gente tem é apenas a pensão do meu pai e a forma que eu vi para não desistir dos meus estudos foi fazer a rifa solidária para arcar com as despesas até chegar em Rio Branco. Eu não quero uma ajuda para ficar até formar, não quero isso, porque trabalho pra mim não é problema”, finaliza.

