O imigrante haitiano Jacquenue Bosquet, de 37 anos, que ficou paraplégico após ser obrigado a se jogar da Ponte da Integração, que liga a cidade de Iñapari, no Peru, a Assis Brasil, no Acre, em julho do ano passado, é considerado um verdadeiro “milagre” para a equipe que o acompanha desde que tudo aconteceu. Isso porque ele voltou a andar com ajuda de muletas.
Agora, ele se prepara para retornar ao país de origem para escrever uma nova história e tentar esquecer tudo que passou no último ano.
Desde a semana passada, o imigrante saiu do abrigo da prefeitura e está no abrigo do estado, que fica na Chácara Aliança, no bairro Irineu Serra, em Rio Branco. Ele estava no abrigo municipal desde agosto do ano passado, quando recebeu alta do hospital. A mudança de abrigo, segundo a direção, foi uma decisão do imigrante.
A chefe do Departamento de Diretos Humanos do estado, Maria da Luz França, é quem acompanha o haitiano desde que ele foi resgatado. Ela diz que todas as equipes envolvidas ficaram muito emocionadas com a recuperação do Jacquenue e que já estão sendo tomadas providência para que ele volte para o Haiti.
“Hoje [quinta,3] mesmo vamos fazer um documento para as embaixadas, para as autoridades haitianas. Ontem [quarta, 2] falei com um consultor da ONU, que creio que vai nos ajudar. Eu disse que estamos precisando de apoio porque ele quer voltar para o Haiti, e, segundo a direção do abrigo, ele pode viajar. Então começamos a fazer os trâmites e fazer os caminhos para que ele retorne para o país dele e espero que a gente tenha muito sucesso nisso”, disse.
‘Foi um milagre’
Ela diz que considera um milagre ele ter voltado a andar, já que os primeiros laudos apontavam que ele havia ficado paraplégico.
“Ele está bem, o que a gente considera que foi um milagre depois de tudo que aconteceu e realmente é resultado da dedicação de todas as equipes que participaram, de todo mundo, e a gente está muito feliz com esse sucesso que foi a recuperação dele”, destaca.
“Ele está muito ansioso porque a família está no Haiti, os filhos, e tem recebido cobrança de apoio. Vamos tentar cadastrá-lo em um programa de benefício social enquanto isso, e, de certo, vamos buscar todos os caminhos para ajudar da melhor forma possível. Toda equipe ficou muito muito feliz em vê-lo andando de novo, foi muito emocionante. Está tendo acompanhamento e também tem um migrante que é cubano e fisioterapeuta e tem ajudado bastante ele.”
O coordenador do abrigo na capital, Cristian Souza, contou que o haitiano segue fazendo todos os tratamento, inclusive fisioterapia com um profissional também do abrigo.
“Já está caminhando com ajuda de muletas e andador a gente pediu uma maca para levar para o abrigo para ajudarmos com a fisioterapia. Estamos nos movimentando para ver se conseguimos a passagem dele de volta, está sendo bem assistido e a gente está adaptando o abrigo para ele se locomover e, quando ele tiver cansado, também andar com cadeiras de rodas”, pontua.
Símbolo da crise humanitária
Jacquenue Bosquet se tornou um símbolo da crise humanitária que se instalou nas cidades do interior do Acre devido à pandemia e fechamento das fronteiras do Brasil com o Peru e a Bolívia. Muitos imigrantes ficaram retidos no estado porque os países vizinhos não abriam passagem.
O imigrante relatou que chegou à cidade do interior do Acre no dia 10 de julho com três companheiros para passar para o lado peruano e seguir viagem até o Chile. E, assim como tantos outros imigrantes, eles tentaram fazer o percurso por rotas alternativas por meio de coiotes, já que a ponte estava fechada pelo Peru.
O imigrante relatou ainda que na noite do dia 14 de julho, os policias o teriam levado até a ponte e após muita pressão, ele pulou e caiu em uma área de mata.
Em novembro do ano passado, o g1 teve acesso a um vídeo em que ele aparece em uma espécie de andador e consegue dar alguns passos durante o tratamento de recuperação.
Na mesma época foi pedido suporte de saúde mental para ele, que segue sendo acompanhado por uma equipe multidisciplinar.
Resgate
O haitiano foi transferido para a capital acreana no dia 26 de julho do ano passado devido à gravidade dos ferimentos. Ele foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros no dia 24 daquele mês, quando foi avistado por moradores da região.
Ele fraturou a segunda vértebra lombar e passou por uma cirurgia para conseguir voltar a sentar, mas os diagnósticos iniciais diziam que ele não voltaria a andar.
- Por G1 Acre

