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sábado, abril 27, 2024

Petrópolis: ‘Perdi tudo dias antes da minha filha nascer’

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“Por volta das 4h da tarde do dia 15 de fevereiro fui buscar minha filha mais velha na escola, como faço todos os dias. Chovia muito, mas não dava para imaginar o que estava por vir. Precisei me abrigar em um mercado no meio do caminho. O barulho da água era cada vez mais forte, as ruas enchiam como nunca e barreiras começaram a cair. Assim que houve uma trégua, corri para a casa da minha sogra. Tentei, então, ligar para os meus pais. Não tinha feito contato com eles até esse momento. Quando me atenderam, tive a notícia de que nossa casa havia desabado. Eu morava em uma casa ao lado da deles, no mesmo terreno. Não sobrou nada.

Apesar da perda, tivemos a sorte de sairmos todos vivos. Eles estavam dormindo na hora que a casa começou a desmoronar, mas os vizinhos começaram a gritar até que meus pais despertaram e fugiram, sem conseguir levar nada além da roupa do corpo. Por pouco não foram soterrados. Agora estão abrigados na Escola Paroquial Bom Jesus, junto com dezenas de outras famílias. 

Eu estava grávida de nove meses e a previsão era que Ana Alice nasceria no carnaval. Mas a criança é quem escolhe o momento de vir ao mundo. Ela se apressou e quis vir menos de uma semana depois das chuvas. Comecei a sentir contrações na madrugada de domingo, 20 de fevereiro. Esperei amanhecer e saí da casa da minha sogra, onde sigo morando até agora, e fui até a escola ver minha mãe. Ela levantou para me acompanhar na ida ao hospital Alcides Carneiro. Mas não deu tempo de chegar à sala de parto. 

Três funcionárias da escola, duas delas da área de saúde, perceberam que a bebê estava nascendo. Eu sentia dores cada vez mais fortes e a neném empurrando para sair. Me colocaram em uma salinha, viram a minha dilatação e começaram a orientar meu trabalho de parto. Nunca imaginei que teria um filho fora do hospital. Apesar de totalmente fora do planejado, ocorreu tudo bem.

Só após o nascimento fui ao hospital e fiquei lá durante três dias, até receber alta. Nem eu nem minha filha tivemos complicações. Em meio a essa catástrofe, estou muito feliz por dar à luz essa nova vida. Perdi todo o enxoval da Ana Alice na tragédia, mas em uma semana, graças a Deus, conseguimos bastante itens de doação. Se não fosse por essa solidariedade, eu não teria como comprar novamente tudo o que minha bebê precisa. Agora estamos bem, na medida do possível. Vivendo um dia de cada vez.”

  • Fonte: Veja Abril
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