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Com mais de 325 mil pessoas sem coleta de esgoto, Rio Branco fica entre as 10 cidades do país com pior saneamento básico

Mais de 325 mil moradores não têm acesso à coleta de esgoto em Rio Branco. Além disso, 193,6 mil não têm água tratada. Ao mesmo tempo, apenas 36,39% do esgoto é tratado na capital acreana – o que significa que mais da metade do esgoto produzido na cidade é despejado na natureza sem tratamento.

Estes são apenas alguns dos destaques do atual cenário do saneamento básico de Rio Branco, segundo um estudo do Instituto Trata Brasil divulgado nesta terça-feira (22), Dia Mundial da Água.

A capital acreana ficou entre as 10 cidades do país com pior saneamento básico, aparecendo em 97º lugar no ranking. O estudo considera os dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), referentes ao ano de 2020. O levantamento mostra que Rio Branco caiu cinco posições no ranking em um ano, já que em 2019 ficou em 92º lugar.

Para entender melhor a situação do país, o estudo analisa os indicadores de saneamento das 100 maiores cidades do Brasil, que concentram aproximadamente 40% da população brasileira.

Os destaques da capital acreana são os seguintes:

  • A cobertura de água tratada em Rio Branco reduziu de 54,26% para 53,16% entre 2019 e 2020.
  • A população com acesso à coleta de esgoto também reduziu de 21,65% para 21,29%. Esse é o mesmo percentual com relação ao esgoto tratado.
  • Na contramão dos outros indicadores, a perda de água na distribuição aumentou de 58,26% para 59,68%. Neste caso, o aumento significa piora, já que mais água está sendo desperdiçada.
  • Rio Branco esteve nas últimas colocações em pelo menos sete edições do estudo.

Evolução dos investimentos

O estudo também avaliou como o investimento em saneamento básico evoluiu entre 2016 e 2020 nas capitais do país. Neste período, foram investidos cerca de R$ 66,76 milhões na capital acreana.

O levantamento mostrou que houve uma redução nos investimentos no serviço de água e esgoto na capital acreana ao longo dos anos. Em 2020 foram investidos pouco mais de R$ 2,4 milhões, sendo que em 2019 foram R$ 7 milhões.

Já considerando o investimento médio anual por habitante, Rio Branco investiu R$ 32,30 por pessoa. Sendo que o patamar nacional médio de investimento anual por habitante para atingir a universalização do saneamento, de acordo com dados do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), é de R$ 113,30.

Recomendação

Em fevereiro, o Ministério Público do Acre (MP-AC ) publicou uma recomendação dando um prazo de 90 dias para que o Saerb apresentasse um plano que resolvesse o problema de abastecimento de água na capital acreana.

O documento destaca que há décadas a capital acreana sofre com problemas no abastecimento de água.

“Se está diante de um problema estrutural que, se não solucionado, levará ao ajuizamento de um processo estrutural, com o qual se objetiva enfrentar as causas do problema, reestruturando uma situação que, até o presente, está consolidada e é caracterizada pelo desacordo com o que dispõe o art. 22 do Código de Defesa do Consumidor, no que concerne à adequação, à eficiência, à segurança e à continuidade”, destaca.

Reversão do sistema

Em maio do ano passado, o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom, e o governador Gladson Cameli assinaram, no Palácio Rio Branco, o termo de reversão do Sistema de Saneamento Básico para a prefeitura. A transição deveria ser concluída até outubro. Essa foi uma das promessas feitas pelo prefeito quando ele era candidato.

A responsabilidade do saneamento básico e da distribuição de água, constitucionalmente, pertence ao município, mas, um acordo feito há anos deixou esse serviço a cargo do Estado, por meio do Departamento de Água e Saneamento do Acre (Depasa).

Com a assinatura do termo de reversão, a responsabilidade volta a ser da prefeitura. Na época, o prefeito Tião Bocalom disse que a ideia era não deixar faltar o abastecimento para a população mais pobre. A municipalização do serviço foi uma das promessas de campanha de Bocalom.

Em setembro, o prefeito pediu ao governo para que o comando do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb) fosse repassado para a prefeitura apenas em janeiro de 2022. Foi então que os gestores assinaram um aditivo prorrogando a reversão do sistema de abastecimento.

No pedido, o prefeito argumentou para o governador que naquele momento o município estava impedido legalmente pela Lei Complementar 173/2020, aprovada pelo Congresso Federal, que proibia reajustes até dezembro de 2021 para membros de poder ou de órgão, servidores e empregados públicos e militares. Por isso, a prefeitura não pode fazer novas contratações e nem novos gastos.

Após assumir a gestão do sistema de água, o então presidente Saerb, Edvaldo Fortes, afirmou que um dos problemas mais graves da gestão é com relação à inadimplência do sistema, que chega a ser de 50%. Por isso, as ações de cobrança devem ser intensificadas. Segundo ele, a inadimplência juntamente com o alto índice de desperdício e ligações clandestinas correspondem a quase 60% de toda água produzida na capital acreana.

Sistema crítico

O sistema de abastecimento de água e esgoto funcionou de forma crítica em 2020, com equipamentos defeituosos, queimados, rachaduras em barragens e desabastecimento nos bairros.

Durante a campanha, o prefeito disse que estudava uma alternativa para que esses problemas fossem sanados. Uma das medidas que sugeriu, era separar o abastecimento do primeiro e segundo distritos da cidade, trabalhando com abertura de poços artesianos.

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