Os povos indígenas do Acre prestam um importante serviço de reflorestamento e conservação do bioma amazônico no estado. Para intensificar essas ações, na última terça-feira, 15, foi iniciado o XXVII Curso de Formação de Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFIs), que contribui para o saber e prática ambiental desses profissionais no dia a dia das suas aldeias.
O evento ocorre no Centro de Formação dos Povos da Floresta e é coordenado pela Comissão Pró-Índio do Acre (CPI/AC), em parceria com a Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIAC) e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e das Políticas Indígenas (Semapi). O curso abrange diversas áreas, desde a arte de ofício até o manejo ambiental.
A CPI/AC desenvolve essa formação desde 1996 e sua função é apoiar os povos indígenas que vivem no Acre, por meio de ações que articulem a gestão territorial e ambiental de suas terras.
Ao longo de 40 anos a instituição vem atuando junto aos 13 povos indígenas presentes no estado: Huni Kuĩ (Kaxinawa); Ashaninka; Yawanawa; Puyanana; Noke Ko’í (Katukina); Nukini; Nawa; Manxineru; Jaminawa Arara; Jaminawa; Shanenawa; e Shawãdawa, que fazem parte de 30 das 35 terras indígenas no Acre. Também participa o povo Kuntanawa que vive na Reserva Extrativista (Resex) Alto Juruá.
A coordenadora executiva da Comissão Pró-Índio, Vera Olinda, destaca a importância do curso, que aprofunda o conhecimento dos indígenas que querem se tornar agentes agroflorestais: “Essa capacitação vai garantir um aprofundamento na área de conservação da floresta, principalmente na segurança alimentar e manutenção de paisagem. Esse é um trabalho pioneiro no Brasil e no Acre, e vem contribuindo para a redução do desmatamento e a manutenção da biodiversidade e equilíbrio do clima”.
Os indígenas durante um mês vão se aprofundar no conhecimento dos modelos de agroflorestas nas comunidades acreanas. O professor do curso e coordenador pedagógico do Programa Agroflorestal Indígena, Renato Antônio Gavazzi, afirma que os resultados já são visíveis.
“Os resultados já aparecem, vemos evolução na implementação da recuperação de mata ciliar, reflorestamento, enriquecimento de capoeira, enriquecimento de roçado, implementação dos sistemas agroflorestais nos quintais, além de trabalhar no manejo e conservação de animais”, afirma Gavazzi.
O centro de formação oferece cinco modalidades de implementação nos cursos: presencial; oficinas itinerantes, que acontecem nas aldeias; rede de intercâmbio; implementação; e a monografia. Os agentes agroflorestais se formam após um período de sete anos de formação contínua. De acordo com o professor, são 5420 horas/aula para a conclusão do curso.
O principal objetivo da formação é levar um conhecimento importante para as terras indígenas, ter um profissional que atua na gestão territorial e ambiental das áreas demarcadas.
“Comecei a formação em 2014, e hoje estou continuando o curso para ser reconhecido como agente agroflorestal. É importante levar o conhecimento às nossas aldeias e cada família coloca em prática o que aprendemos aqui”, comenta o indígena Pupuã, Pedro Evaristo Muniz, do povo Nukini, terra indígena Recanto Verde.
O Bane, Antônio de Carvalho Kaxinawá, do povo Huni Kui, terra indígena Nova Olinda, afirma que está no curso para trabalhar como gestor ambiental dentro da sua aldeia: “Nós trabalhamos com recursos naturais, para que não faça falta para nós no futuro. Fazemos o reflorestamento e a preservação da floresta. É muito importante que esse conhecimento chegue a todos os nossos parentes, para que possamos organizar os recursos naturais dentro das nossas terras”.
O recurso do projeto é proveniente de uma parceria da Semapi, por meio do Programa REM Acre Fase II, marcado pela colaboração entre o governo do Acre com a Alemanha e o Reino Unido, numa iniciativa voltada para projetos de proteção e conservação das florestas, do Fundo Amazônia/BNDES, Rainforest Foundation da Noruega (RFN), NORAD/Norway’s International Climate and Forest Initiative (NICFI), Manos Unidas.
“Incentivar o protagonismo dos indígenas em suas comunidades é um dos focos do curso. Essa é a forma que a gestão trabalha, ouvindo os indígenas e apoiando projetos que eles definem como prioritários”, conclui Israel Milani, secretário de Estado do Meio Ambiente e das Políticas Indígenas.