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sábado, abril 20, 2024

“A educação transformou minha vida” jovem cruzeirense conta como a educação mudou a sua vida e da sua família

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POR EMILY VITÓRIA, DO JURUÁ EM TEMPO – A universidade pública, gratuita e de qualidade é um mundo. Ela produz novos conhecimentos, técnicas e tecnologias através da pesquisa. É por meio de programas, projetos e ações que esse saber chega à sociedade. Pertencer a uma família de baixa renda é ver na universidade pública uma chance de mudar a própria vida. E foi isso que aconteceu na vida do jovem cruzeirense Luiz Felipe Araújo de Albuquerque, de 26 anos.

Luiz é o segundo de três irmãos, todos filhos da senhora Claudia Roberta “uma preta, filha de indígenas e cearense”, nas palavras do filho, e o primeiro e único da família a completar o ensino superior.

O jovem conta que nasceu e foi criado em Cruzeiro do Sul. Sua mãe sempre se dedicou para criar sozinha o filho e as duas irmãs, Luzia Maiara e Ana Clara. “Eu conheço meu pai, sei quem é, ele mora em Rio Branco, mas nunca foi muito presente. Considero meu pai, mas nada de muita relação de pai e filho”, disse.

Luiz sempre estudou em escolas públicas, Cláudia conseguiu com uma conhecida uma vaga para que o filho concluísse o ensino fundamental na Escola Presbiteriana e depois concluiu o ensino médio na Escola Professor Flodoardo Cabral. Ele conta que quando criança gostava muito de brincar e aprontar. “Eu sempre gostei muito de brincar por aí, de andar, conhecer o mundo, exatamente como sou hoje”, contou.

O jovem cruzeirense conta que sua infância foi muito pobre, sua mãe sempre tentou dá o melhor para os filhos, mas nem sempre conseguia. “Uma coisa que me marcou muito foi uma vez em que na escola era ovo frito. Eu era criança, inocente, eu comi, fui repetir e guardei o ovo com óleo em um papel de caderno dentro da minha mochila. Eu fiz isso porque queria comer em casa. quando não tinha nada para comer minha mãe me mandava para casa do meu pai, a minha irmã mais velha para a minha tia e ela ficava com fome”, lembrou.
Em relação aos estudos, Luiz relembra que nunca foi um aluno exemplar e que não tinha nenhuma influência em casa, já que, na época de criança, sua mãe não havia terminado o ensino fundamental. “Minha mãe nem sabia me ajudar, eu não tinha influência. Se eu quisesse alguma coisa, era por mim mesmo e eu não tinha essa consciência de que estudar era importante, de que a educação é o caminho mais provável para o jovem chegar a algum lugar”, relatou.

Sempre houveram oportunidades para que Luiz entrasse no mundo do crime. “Eu já vi muitos amigos e familiares mortos ou presos. Sempre tive essa oportunidade do crime, mas a educação me puxou mais forte. O melhor caminho, por mais que seja mais difícil, é a educação”.

O cruzeirense lembra que foi muito difícil concluir o ensino médio, reprovou em muitas matérias e todo o 1° ano. Por isso, Luiz Felipe concluiu essa etapa dos seus estudos somente aos 19 anos. “Eu não conseguia estudar, então eu terminei um ano atrasado, passei mais um ano parado e me vi aos 19 anos fora da escola, sem trabalho, sem qualificação e largado na vida”.

Foi a partir deste momento que Luiz decidiu que iria mudar a sua vida e a de sua família através dos estudos e iniciou a sua jornada de estudos para o Enem, após dois anos longe da escola. “Eu não tinha internet em casa, não tinha computados e o meu celular era horrível. Foi aí que eu lembrei da Biblioteca Pública de Cruzeiro do Sul. Eu moro aqui perto do Ceflora, peguei um caderno velho do ensino médio, uma caneta e fui pra biblioteca andando. Eu nem sabia nem por onde começar, não tinha noção nenhuma, não sabia o que era Sisu e nem como me inscrever. Eu pesquisava na biblioteca ‘Assuntos que mais caem no Enem em tal matéria’ e ia estudando um por um”, disse.

Apesar de não acreditar no seu próprio potencial, Luiz fez o Enem e, para sua grata surpresa e de sua família, a nota poderia levar o rapaz a cursar o curso que desejasse na Universidade Federal do Acre (UFAC) – Campus Floresta. “Eu chorei, porque eu não achei que fosse conseguir. Eu poderia fazer qualquer curso aqui, mas com medo de não passar, eu joguei a primeira nota para enfermagem e a segunda para inglês. Passei em enfermagem em 7° lugar e não me arrependo. Foi um caminho muito longo e árduo. E vejo que todo esse esforço valeu a pena, porque tudo que eu já conquistei eu devo a educação”, relembrou.

Luiz conta que foi depois de entrar na faculdade que Cláudia viu que a vida da família poderia mudar, e foi por conta disso, que ele nunca pensou em desistir. “Eu nunca perdi o foca, nem por um minuto. Nem um dia eu pensei em desistir da faculdade, porque eu não tinha outra saída. No primeiro período eu não tinha dinheiro para o ônibus e para a comida, as vezes a mãe pediu emprestado. Tinha vezes que eu falava pro motorista da van ou para os meus colegas que eu tinha perdido o dinheiro, mas a realidade é que eu não tinha mesmo. Foi aí que comecei a ganhar bolsa e isso salvou a minha vida. Por isso eu defendo tanto o ensino público e as bolsas. Eu conseguia tanto ajudar em casa, quanto me manter na UFAC. Para a minha mãe, isso foi tudo”.

Ao ser questionado pela equipe do O Juruá em Tempo se seguirá a carreira a carreira na área da enfermagem, Luiz disse que, por enquanto não. O motivo seria a desvalorização ao qual os profissionais da saúde são submetidos. “Eu não consigo mais me ver trabalhando tanto para receber tão pouco. Querendo ou não, ninguém vive de ‘enfermagem por amor’. Como que eu vou sobreviver? Não consigo me ver trabalhando em três empregos para ter um salário digno”, disse.

Durante a pandemia de Covid-19, Luiz iniciou seu trabalho como digital influencer e vem ganhando cada vez mais espaço nessa área. Assim, ele decidiu focar na internet como sua principal fonte de renda. “Por tantos anos eu desacreditei de mim, hoje o que eu preciso é acreditar que posso chegar mais longe. O meu trabalho com a internet, que começou na pandemia, também foi uma alavanca para mudar a minha vida e hoje é meu principal trabalho. Eu amo a área da saúde, mas a internet me acolheu, me jogou para cima e está mudando minha vida. A educação abriu meus olhos para o mundo e agora que conheci o mundo, eu quero explorar ele. Também vou usar minha influência para falar sobre a importância dos profissionais de saúde. Hoje eu consigo comprar um carro, sustentar minha família e ter um celular de última geração, através da internet”, explicou.

Luiz Felipe Araújo Albuquerque concluiu o ensino superior e é um dos tantos jovens que tiveram a sua vida mudada a partir da educação pública, gratuita e de qualidade.

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