O Juruá Em Tempo

Cruzeirense de 17 anos portadora do Transtorno do Espectro Autista (TEA) escreve livro de poesias e lembra “diferente é bom, é bonito”

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 160 crianças no mundo e 2 milhões de pessoas, só no Brasil, são portadoras do Transtorno do Espectro Autista (TEA). A maioria dos autistas trabalham, estudam, formam-se em universidades, constituem família e muitos deles não correspondem com essa imagem clássica triste e isolada. É claro que, é preciso lembrar que as estereotipias podem ser comuns na condição, especialmente em casos de autismo severo. No entanto, é preciso repensar nossos pressupostos, pois é deles que vem crenças que, por sua vez, podem ser ofensivas, tanto para autistas leves, quanto moderados e severos.

Neste sábado, 02 de abril, é celebrado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo e a equipe do O Juruá em Tempo fez uma entrevista exclusiva com uma adolescente portadora do espectro. Íris Barbosa Moreira, de 17 anos, é cruzeirense e estuda no 3° ano do Ensino Médio no Instituto Santa Terezinha, ela tem dois irmãos e seus pais são Luceilda Barbosa Moreira e Enoque Araujo Moreira.

Íris contou que foi diagnosticada como autista aos 15 anos de idade, mas que há muito tempo já se sentia diferente da maioria das pessoas de sua idade. “Eu fui diagnosticada aos 15 anos e foi um sentimento de liberdade, pois sempre percebi que era diferente, porém pensava que diferente era errado e que eu precisava ser concertada, depois diagnóstico, percebi que diferente é bom, é bonito. Autismo é lindo”, disse.

Ela explica que abril é um mês muito importante para o autismo, visto que o objetivo principal da data é levar informação à população, a fim de reduzir a discriminação e o preconceito contra os indivíduos que apresentam o TEA, porém, a maioria dos meios de comunicação esquecem que esse local de fala pertence, maioritariamente, aos próprios autistas. “Normalmente no mês do autismo, pais e profissionais são convidados para falar do espectro, o que é muito importante, porém não estavam convidando o autista, não estavam dando importância para a voz mais importante desse meio”, destacou.

Em relação ao preconceito, Íris disse que, infelizmente, ela, assim como muitas pessoas, já sofreu bullying. “Bullying é comum na história de muitos autistas e comigo não foi diferente. O capacitismo e o preconceito contra o diferente ainda são muito enraizados na nossa sociedade e as crianças nascidas nesse meio escuro e quadrado podem ser cruéis”, contou.

O Hiperfoco é uma das características mais comuns das pessoas com autismo. Discutir continuamente os mesmos tópicos em uma conversa, tocar obsessivamente a mesma música repetidamente ou ler todos os artigos escritos sobre um determinado tópico são algumas das maneiras pelas quais o hiperfoco pode se manifestar. Apesar de cantar, tocar piano e jogar xadrez em campeonatos, Íris revelou a nossa equipe que teve hiperfoco em poesia e transformou todos os seus escritos em um livro.

“Eu comecei a escrever muito, enchi um caderno inteiro. Olhei para todo o meu trabalho e pensei sobre transformar aquilo em algo, daí surgiu a ideia do livro. Fiz tudo sozinha, diagramação, arte de capa, ISBN e consegui uma gráfica para imprimir”, contou.

O livro foi construído e trabalhado durante todo o mês de fevereiro. A escritora destacou que não é uma obra sobre um assunto específico, pois “ele pode ser sobretudo”. Cada leitor terá a sua própria interpretação sobre as poesias. “Gosto da subjetividade da literatura”.

O livro “Ágora: Quem és tu, jovem e tolo poeta?”, está disponível, de maneira física, em diversas plataformas e em e-book pela Amazon. O link também pode ser encontrado no instagram da autora: @apenas.iris.autism

https://instagram.com/apenas.iris.autism?utm_medium=copy_link

Íris também tem um canal no YouTube onde compartilhas os covers de algumas músicas.

Sair da versão mobile