Após três anos de redução no número de mortes violentas, o Acre voltou a registrar clima de tensão e derramamento de sangue nas últimas semanas. Dados do Monitor da Violência mostram que em 2019 o estado teve 312 mortes violentas, reduzindo no ano seguinte para 292 e chegou a 181 no ano passado, sendo o estado com a maior queda no número de mortes violentas do país em 2021.
Porém, os confrontos atuais que terminaram com a morte de oito pessoas na região de fronteira, no Alto Acre, estão ligados à intensificação da guerra entre facções criminosas, segundo avaliou o secretário de Segurança Pública, coronel Paulo Cézar, e voltou a preocupar as autoridades.
O motivo para os novos enfrentamentos entre os grupos criminosos, segundo o coronel, foi a morte de um traficante, chefe de uma facção na Bolívia. A ordem para o assassinato partiu de dentro do presídio da cidade boliviana de Riberalta e, após o crime, vários ataques foram registrados tanto no país vizinho quanto nas cidades acreanas que estão na fronteira.
“A guerra iniciou na Bolívia e envolve o domínio das rotas de tráfico de dentro do território boliviano e também acreano, em especial no Alto Acre. Apesar de ter um rio que separa, são cidades gêmeas, que têm uma integração econômica, social e, consequentemente, criminal também. Tanto que uma das maiores dificuldades na atuação das forças policiais é o fato de eles [criminosos] ficarem migrando de um território para o outro. Todas as mortes que ocorreram no Alto Acre têm ligação com esse confronto entre facções”, afirmou.
O secretário disse ainda que o crime organizado está instalado em toda América do Sul, em especial nos países que produzem cocaína e maconha e também naqueles que são grande mercado consumidor ou que possuem infraestrutura para exportação da droga.
“Então, qualquer movimento do crime organizado em algum desses territórios que ele tem domínio, isso pode gerar retomada da guerra. Em 2017, por exemplo, que teve o resultado avassalador no Acre, que figurou como o estado mais violento do país naquele ano, teve como embrião a morte de um traficante em uma cidade no Paraguai. Desta vez, foi uma morte encomendada na Bolívia que desencadeou toda essa violência no Alto Acre. Então, o crime é sistêmico e não necessariamente ele depende de fenômenos locais”, explicou.