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quinta-feira, abril 25, 2024

No Acre, amigas que perderam mães para a Covid fazem tatuagem para eternizar saudade: ‘duas rosas’

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Eternizar o amor de mãe. Foi pensando nisso que as amigas Renilde Silva de Souza, de 38 anos, e Danielle Cristina da Silva Araújo, de 29, tatuaram duas rosas no pulso. As amigas compartilham alegrias e tristezas, pois perderam as mães para a Covid-19 em 2021, em um intervalo de 40 dias.

A escolha da tatuagem, duas rosas, tem um significado bem especial, pois, quando se tornaram amigas, as duas descobriram que as mães tinham o mesmo apelido, Rosa.

As amigas são professoras e se conheceram há pelo menos nove anos, ainda na faculdade, quando cursavam espanhol. Foi nesse período que elas descobriram que as mães, Rosmilda Pereira da Silva, de 63 anos (mãe de Renilde), e Roseli da Silva, de 52 anos (mãe de Danielle), eram carinhosamente chamadas de Rosa.

Amizade das Rosas

Com a amizade entre as filhas, as mães acabaram também ficando próximas, mesmo com a distância, já que Rosmilda morava em Cruzeiro do Sul e Roseli na capital.

“Elas ficaram amigas, minha mãe sempre mandava coisas para ela, farinha, doces, essas coisas, inclusive quando minha mãe ficava internada a dona Roseli ficava com minha mãe, ia visitar. Logo quando minha mão pegou Covid e eu fui às pressas para Cruzeiro ela [Roseli] ficou conversando comigo, me dando força”, falou.

Dona Rosmilda faleceu no dia 26 de fevereiro de 2021 e dona Roseli 45 dias depois, em 15 de abril do mesmo ano.

Renilde com a mãe, Rosmilda Pereira da Silva, de 63 anos, que morreu vítima da Covid-19 — Foto: Arquivo pessoal

Renilde conta que a morte da mãe por Covid-19 foi muito dolorida para toda a família, pois ela já tinha sobrevivido a um infarto.

“Em 2029 ela teve um infarto em Cruzeiro do Sul, eu moro em Rio Branco, ela veio para a capital, fez a cirurgia, e se recuperou. Em 2020 veio a pandemia e em fevereiro de 2020, como ela tinha comorbidades e tinha operado o coração, pegamos ela e meu pai e levamos para um sítio da família para protegê-los da doença, ficaram lá por um ano.”

A professora diz que quando os casos da doença reduziram os pais optaram em voltar para a cidade e foi quando ambos se infectaram com o vírus.

“Eles voltaram para casa, passou um tempo e de repente o papai e a mamãe amanheceram com coriza, fizeram o teste e deu positivo. Levamos primeiro o papai para o hospital, como a mamãe tinha esse problema no coração ela não quis ir, dois dias depois ela ficou muito fraca e levamos para o hospital. Meu pai melhorou e a mamãe faleceu dois dias após ser internada, ela teve três paradas cardíacas e não resistiu”, lembra.

Logo depois que a mãe de Renilde faleceu, ela teve mais um desafio, ajudar a melhor amiga a também superar a perda da mãe pela mesma doença.

“Eu estava em Cruzeiro, ainda em processo de luto, quando descobri que toda a família da Danielle pegou Covid, inclusive ela. A mãe dela também tinha comorbidades e eu fiquei muito preocupada, porque eu tinha acabado de perder minha mãe para a doença. A dona Rosa passou quase 40 dias nessa luta e infelizmente também não resistiu.”

Danielle com a mãe, Roseli da Silva, de 52 anos, que morreu vítima da Covid-19 — Foto: Arquivo pessoal

Danielle conta que quase todos da sua família, por morarem na mesma casa, se infectaram ao mesmo tempo pela Covid e quando soube que os pais também estavam doentes a preocupação foi ainda maior.

“Ela tinha algumas comorbidades e fazia tratamento contra trombose e não fazia muito tempo que a gente tinha descoberto que ela estava com o coração crescido mas, apesar das doenças, ela era bastante ativa. Quando eu apresentei os sintomas fiz exame e assim que deu positivo me isolei. Mas minha mãe era muito preocupada e cuidou de mim com todos os cuidados. Mesmo assim ela e meu pai se infectaram.”

Renilde fala que as histórias dela e da amiga Danielle são bem parecidas e que as duas rosas jamais vão sair de seus corações.

“Eu falo que a nossa história tem muita coisa em comum porque os nosso pais pegaram Covid, os pais sobreviveram, mas as mães não. Elas tinham comorbidades e faleceram em um pouquíssimo espaço de tempo, eram lutadoras e amavam a vida, assim eram as nossas mães.”

Danielle fala da dor e do sofrimento em saber que a mãe havia pegado Covid e que o estado de saúde dela não melhorava.

“No início meu pai ficou em situação pior, ele usava um cilindro de oxigênio para respirar. Depois a situação da minha mãe se agravou e ela teve que ser internada na UPA e depois foi transferida para o hospital de campanha. Lembro de uma noite em que a saturação dela chegou a 33, quando foi transferida ela ainda chegou a esperar uma noite por uma vaga na UTI. Ela ficou 12 dias intubada e foram dias muito difíceis para nos e infelizmente veio a pior notícia de que ela havia falecido.”

Danielle (esquerda) e Renilde (direita) fizeram tatuagens iguais para eternizar o amor pelas mães — Foto: Arquivo pessoal

Tatuagens

Renilde conta que a ideia de fazer uma tatuagem para homenagear as mães veio quando ela e Danielle foram viajar para Fortaleza, viagem essa que era um sonho das amigas e que estava marcada para acontecer com as duas mães.

“No dia em que a dona Rosa [mãe de Danielle] faleceu era o dia da nossa viagem, então, nós não fomos. Quando deu agora este ano nas férias nós fomos, realizamos nosso sonho, choramos muito à beira mar, sentindo que nossas mães iriam ficar felizes de ver a gente naquele momento único, porque para quem luta e trabalha diariamente isso é uma conquista. Isso principalmente para quem vem do interior, do seringal, tenho muito orgulho da minha mãe, da pessoa em que me transformei”, desabafa Renilde.

E foi durante essa viagem que as amigas decidiram fazer as tatuagens de rosa para homenagear as mães, as duas Rosas.

“A gente pensou que se um dia fizéssemos uma tatuagem seria uma rosa, isso para eternizar na nossa pele, porque nos nossos corações elas vão continuar vivas para sempre. Na hora da escolha a Danielle falou para fazermos a tatuagem com o nome delas. Mas, quando chegamos ao Acre de novo, duas semanas depois, decidimos que iriam ser duas rosas, igual a elas, igual ao apelido delas. Fizemos no dia 23 de março deste ano. Não sei descrever a emoção de estar sentindo ela na minha pele.”

As amigas falam da superação de perder as mães e ainda conseguir dar conforto uma para a outra.

“Sobrevivemos este ano com o coração mais leve, com consolo, porque superar a gente não supera nunca, conseguimos sobreviver e tentar seguir as nossas vida sem elas, mas a saudade é eterna e vai ficar na nossa pele pra sempre”, finaliza, Renilde.

– Fonte: g1.

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