A moda é um “lugar” que permite a criação e a reinvenção de tendências e estilos. Com grandes indústrias e marcas tomando parte considerável do mercado da moda com a produção em massa de roupas, pensar de maneira sustentável é uma alternativa para quem busca cuidar do meio ambiente e ter acesso a boas peças.
Um exemplo de moda sustentável são os brechós, locais de venda de roupas, na maioria das vezes usadas, em que os preços são mais acessíveis. Roupas únicas e em bom estado de conservação alimentam esses tipos de estabelecimentos.
No Acre, os brechós também fazem sucesso e possuem um público interessado em economizar na hora de comprar. Seja uma loja física ou virtual, além de ser uma fonte de lucro para quem está vendendo, o brechó também é um local de troca de experiências.
A empresária de 40 anos Joyce Alves decidiu criar um grupo no WhatsApp, o Bazamor, para vender suas roupas. Com a pandemia, ela criou o grupo devido à necessidade de desafogar o guarda-roupa.
“O Bazamor para mim, não é um negócio, eu não fiz dele um negócio. Ele foi criado para vender roupas minhas, eu viajava muito e tinha a mania de ir no shopping, ver uma promoção, nem provar a roupa e comprar. E na pandemia aquilo lá [roupas] tava tudo estufado no meu guarda-roupa, eu precisava de espaço e criei o Bazamor para tirar aquele volume do meu roupeiro”, complementa a empresária.
Após ser demitida do seu emprego e pensando em se mudar para outro estado, Joyce conta que com o aumento das vendas, as pessoas que participavam do grupo reclamavam por não existir variedade nas numerações das roupas.
“comecei a abrir um grupo que até então era meu, para outras pessoas que tivessem com esse mesmo problema começassem a vender, a desapegar das suas roupas. A princípio era um grupo das minhas amigas, depois começou a entrar pessoas que eu não conhecia”, explica.
Joyce fala que hoje o grupo é alimentado por pessoas que fazem parte dele. As regras são simples, os dias disponíveis para as vendas são postados pelas administradoras do grupo. Então, a pessoa que tiver interesse reserva um dia inteiro para vender suas peças e nas descrições das imagens dos produtos devem conter as informações essenciais para as vendas, como preço, marca e o estado de conservação da peça.
“Ele não é um negócio para mim, ele é um grupo que eu deixei até então continuar funcionando, para poder ajudar outras pessoas que, como eu, precisavam desapegar de roupa seja por que motivo for. E a gente sabe que nesse momento de pandemia, de desemprego, isso virou fonte de renda para muita gente”, ressalta a empresária.
Brechó físico
Diferente do Bazamor, o “Garimpeiras Store” é uma loja de brechó física e que também surgiu da ideia do desapego de roupas que estavam paradas e sem uso. A funcionária pública de 39 anos Lisângela Pazinatto foi convidada pela sogra, Carmen Portela, para abrir a loja e iniciar na vida de pessoas que trabalham no ramo.
Lisângela conta que a ideia de montar a loja veio em 2019, após ela fazer uma limpeza em seu armário, com a descoberta de diversas roupas que usou durante a gravidez, assim como outras roupas que ela não usava mais. A primeira parceria veio com uma amiga e comadre.
“Separei as peças, muitas eu doei. Mas sobrou uma mala de roupas ainda, algumas que nunca tinham sido usadas e tive a ideia de fazer uma página pra vender essas peças. As fotos eram tiradas atrás da porta do meu quarto, em um cabide, e eu chamei a página do Instagram de ‘Cabide do Desapego’. Logo depois minha amiga e comadre Natália me chamou para criar uma sociedade e montar o brechó on-line e juntar com as roupas que ela também tinha da gravidez, de amamentação, entre outros tipos de roupas e eu topei”, explica Lisangêla.
Pandemia e vendas on-line
Assim como Joyce, Lisangêla também sentiu o impacto da pandemia. O receio de negócio não dar certo foi substituído pela surpresa com o aumento das vendas pela internet. Ela atribui o sucesso nas vendas à busca das pessoas por roupas confortáveis durante o período do isolamento social.
“Quando iniciamos nosso planejamento veio a pandemia e não sabíamos o que ia acontecer, mas para nossa surpresa foi um ‘boom’ de compras pela internet. As pessoas que estavam trabalhando em casa precisavam de roupas mais confortáveis, os filhos iam crescendo, perdendo as roupas e as lojas estavam fechadas, então, começamos a trabalhar muito com entregas e vendas por transferência, sem muito contato por causa da onda da pandemia”, complementa a dona do brechó.
A rede de amizade de Lisângela contribuiu para o crescimento da loja. Ela conta que as peças são adquiridas por meio de contrato de consignação com cada pessoa que quer desapegar. A duração do contrato é de três meses e, às vezes, as peças não vendidas são doadas ou devolvidas.
“Comecei a entrar em contato com amigas e chamar as clientes da página para desapegar com a gente e o método do contrato de consignação é usado até hoje no nosso brechó. Pegamos as peças, descrevemos e colocamos a sugestão de valor de desapego e trabalhamos três meses com esse material. Depois dos três meses, analisamos o que foi vendido e repassamos 50% do valor vendido às donas das peças. As que não são vendidas incentivamos, até hoje, a doação. Pensamos que o que você tem no guarda-roupa que não usa só está atrapalhando seu dia a dia e que desapegar, vendendo, doando ou reformando a peça”, ressalta.
Pegada sustentável
As peças recebidas nos brechós são as mais variadas possíveis, sejam novas, usadas e até mesmo peças vintages, com material que possuem certa durabilidade. A higienização das peças é um processo importante para que elas possam ser, efetivamente, colocadas à venda.
“É feita a lavagem das peças para tirar aquele cheiro de roupa guardada. Tiramos manchas, costuramos, tingimos o que vale a pena, trocamos botão, tiramos as bolinhas. Depois tiro fotos e posto na página, com descrição e valor.”
A empresária conta que as vendas inicialmente eram feitas pela internet somente. “Depois veio a necessidade de ter um espaço físico porque a quantidade de peças era muito grande e eu não conseguia mais encontrar nada na minha casa”, explica.
Lisângela compartilha que acredita na sustentabilidade em tudo na vida e com a moda não é diferente. Ela conta que o hábito de reciclar é da infância e que sempre buscou comprar roupas usadas em brechós, sempre se preocupando com o meio ambiente. No Garimpeiras, ela percebe que existe uma certa fidelidade com os clientes, pois quem desapega das roupas com a loja também compra nela.
“Fico feliz em ver cada dia mais brechós aqui na cidade e ver esse cenário realmente crescendo. Tem espaço para todo mundo e criamos um coletivo inclusive, para nos juntar e vendermos juntas. Nunca fui muito de moda, mais de estilo mesmo. A moda vai e vem, muitas vezes não faz sentido, mas o estilo todo mundo tem, então, as roupas antigas, já compradas, podem se tornar úteis para outra pessoa”, complementa.
Economia X estilo
A escolha por peças baratas e ajudar um amigo, ou amiga, são os motivos pelos quais a estudante Bruna Gabriela de Oliveira Silva, de 22 anos, busca comprar em brechós ou bazares. Ela conta que faz compras todos os meses nesses tipos de lojas e faz questão de postar em suas redes sociais as novas peças adquiridas.
“As pessoas que têm suas lojinhas escolhem, garimpam, cuidam das peças, realizam os devidos cuidados, preparam as embalagens, presentinhos com muito cuidado e amor. Cada peça que pego faço questão de tirar foto e postar para enaltecer as lojinhas. Esse tipo de negócio beneficia tanto quem vende como quem compra. As peças que não servem para alguém podem servir para outro. Comprar em brechó não é sinônimo de algo ruim, roupas rasgadas ou cafonas”, comenta a estudante.
Além disso, ela diz que ajuda na divulgação de lojinhas e mostra para as pessoas que é possível comprar roupas boas e baratas. Para ela, a principal dica para quem quer comprar nesse tipo de loja é acompanhar as redes sociais.
“É sempre seguir as lojinhas de brechó/bazar no Instagram, comparecer aos eventos onde sempre tem muita promoção e ficar atento na divulgação de peças novas. Sempre quando tem garimpo novo é uma muvuca de gente querendo comprar, então, se quiser pegar as melhores peças, é preciso ficar ligada”, ensina.
A atendente de telemarketing Ana Michele dos Santos Campos, de 21 anos, também é uma consumidora de peças de brechó. Ela conta que, atualmente, não compra muito, mas que metade do seu guarda-roupa é composto por roupas adquiridas em brechós.
“Na verdade eu sempre gostei, desde criança minha mãe ia em brechós e eu a acompanhava. O brechó possibilita a reutilização de roupas que provavelmente iriam para o lixo, dessa forma, ajuda a reduzir o impacto no meio ambiente”, comenta.
Ela fala também que não é difícil encontrar esse tipo de loja no Acre e o Instagram é uma ótima ferramenta para conhecer novos perfis de lojinhas. Além disso, ela diz que comprar em brechó é uma forma de ajudar o meio ambiente e ter uma peça de roupa única e exclusiva.
“Não é tão difícil encontrar brechós aqui, inclusive, há diversos perfis de brechós no Instagram que entregam as peças lavadas e cheirosas para a gente e eu só compro assim ultimamente. Acho que a única dica que eu posso dar para alguém é: Compre! Além de ajudar o meio ambiente, você terá a oportunidade de ter peças exclusivas no seu guarda-roupa”, ressalta.
- Por Pâmela Celina, g1 Acre — Rio Branco.