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sexta-feira, abril 26, 2024

Dois anos após ter tido parto de emergência na pandemia, mulher recebe 1ª homenagem da filha no Dia das Mães

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Se a maternidade carrega desafios, para quem viveu esse momento durante a pandemia de Covid-19, a experiência pode ter sido ainda mais delicada, principalmente se teve a doença e viu de perto o risco de perder a filha. Esta foi a experiência pela qual passou analista judiciária Emiliany Alencar, de 34 anos. Mas, passado o período mais difícil, ela vive as experiências da maternidade e recebeu a primeira homenagem da filha na escola.

Diagnosticada com Covid-19 aos sete meses de gestação, ela passou por um parto de emergência, em um hospital de Rio Branco, após a filha Manuela Alencar, hoje com 2 anos, entrar em sofrimento fetal. O nascimento prematuro, fez com que ela passasse 12 dias sem tem contato com a bebê e a primeira vez que a viu, foi por videochamada. Mas, uma das recompensas veio com a primeira homenagem da filha na escola neste ano.

Recém-nascido chorando, saudade do trabalho, ninguém para conversar e sentimento de culpa por estar cansada. O g1 conversou com Emiliany que passou pela maternidade na pandemia e relatou as dificuldades que enfrentou sem rede de apoio, sem conseguir amamentar, sem ajuda de parentes e distanciamento social.

Dois anos depois, Emiliany ainda se emociona ao relembrar os momentos difíceis pelos quais passou em 2020, e contou que ficou com o psicológico abalado, chegou a passar dois meses com a filha no quarto, aprisionadas pelo medo. O pós hospital, que pensava que seria mais fácil, se tornou um tempo obscuro no qual ela se culpava até por sentir tristeza, insegurança ou chorar.

Hoje, passado o período mais sombrio da pandemia, ela comemora o Dia das Mães [neste domingo, 8] em dose dupla, porque, agora, carrega no colo a pequena Isabela Alencar, de dois meses.

“Como toda gestação, a gente como mulher, mãe, idealiza nosso filho com saúde, um bom parto, chá revelação. Tudo isso idealizei e veio a pandemia e chegou até nós. Na época da gestação, tive um sonho de que passaria por um momento difícil, só que ficaria tudo bem. Eu lembrava desse sonho, mas não me apegava muito e quando descobri que estava com Covid, veio à tona e pensei: será que é isso mesmo? Meio que estava esperando que viria alguma coisa, mas não sabia o quê”, relembrou.

Família celebra sem medos a chegada da segunda filha — Foto: Alexandre Lima/Arquivo pessoal

Família celebra sem medos a chegada da segunda filha — Foto: Alexandre Lima/Arquivo pessoal

‘Vim pra casa sem ela’

Em 2022, as máscaras começaram a cair dos rostos, as pessoas conseguem ter menos medo, porém, meses antes, a visita de parentes em casa era motivo de preocupação para a nova mãe. Apesar de as duas terem recebido alta do hospital, a pior fase ainda não tinha ficado para trás. E as lembras não saíram de sua memória.

“Idealizei muita coisa na minha gestação e não pude ter. Fui internada e ainda em choque, sem ter noção das consequências do que podia acontecer, de que poderia morrer, ou perder a minha filha. Acho que a parte mais difícil de tudo, durante a internação, foi quando recebi a notícia que eles iam tirar a minha filha porque ela já estava em sofrimento fetal, com os batimentos cardíacos caindo e foi quando tive um choque de realidade que eu estava muito vulnerável”, contou.

A partir desse momento, as coisas começaram a sair da rota que ela, como mãe, tinha sonhado. Detalhes do parto que só soube depois, como o fato de a bebê Manuela ter precisado ser reanimada por não ter chorado, não ter a companhia do esposo, não poder amamentar e ter a filha no colo após o parto, momentos que não viveu por causa da pandemia.

“Meu marido não entrou na sala, pedi pra ver minha filha e me mostraram ela de longe e foi o único momento em que a vi, durante 12 dias. E foi ali que tudo saiu diferente do que uma mãe de primeira viagem idealiza. Depois disso, vim pra casa sem ela. E veio a segunda fase do processo, tive problemas com a amamentação porque não tive nenhum estímulo nesse período.”

A luta era para se recuperar, para aguentar a distância e se manter forte. A mãe conta que não se sentia no direito de sofrer. Hoje, ela diz que a luta pela qual passou há dois anos foi para que fosse fortalecida como mulher, mãe, cristã.

“Apesar de o processo ter sido doloroso, foi necessário e me trouxe muita fortaleza. A Manuela saiu e fomos para a segunda fase da batalha, enfrentar o problema para amamentar, não tive a rede de apoio que esperava ter porque estava todo mundo com medo, o vírus estava começando a matar gente aqui. Então, fiquei trancada com a Manuela no quarto, só descia para comer. Com dois meses é que sai do quarto. Foi uma fase bem difícil, apesar de tentar me fortalecer espiritualmente”, relembrou.

Irmãs Isabela e Manuela nasceram durante a pandemia — Foto: Alexandre Lima/Arquivo pessoal

Irmãs Isabela e Manuela nasceram durante a pandemia — Foto: Alexandre Lima/Arquivo pessoal

‘Não me achava no direito de sofrer’

A maternidade é cheia de desafios, segundo descreve. E diante das situações, contou que tentava colocar na cabeça que elas estavam bem que a filha estava sendo bem cuidada. O pós hospital que ela acreditava que seria mais fácil, tornou-se sombrio.

“Tentava me elevar, ser positiva, mas, ao mesmo tempo, não tinha como não sofrer com a situação, fiquei 12 dias separada dela, sem ter nenhum toque, nenhum contato físico, e para mim foi muito difícil. E a maternidade também faz a gente andar carregada de culpa, a gente sente culpa por tudo. Me sentia culpada por estar chorando, sofrendo, pensava que não podia sofrer, tinha que sentir gratidão porque minha filha estava viva, com saúde, sendo bem cuidada e não podia sofrer. Vivia um misto de sentimentos: preciso grata, não posso sofrer e talvez o fato de abafar meus sentimentos tenha piorado porque era um momento meu e precisava passar por esse processo de chorar e sofrer, então acaba que transforma em muito estresse e carregando muita culpa.”

Segundo parto de Emiliany foi leve segundo descreveu — Foto: Arquivo pessoal

Segundo parto de Emiliany foi leve segundo descreveu — Foto: Arquivo pessoal

Psicológico abalado

Emiliany relembra que só saia do quarto para comer, não deixava ninguém entrar, a filha prematura era a maior preocupação e revelou momentos de confusão nos sentimentos com os quais teve que lidar na época.

“Quando peguei minha filha no colo pela primeira vez, antes de buscar ela no hospital, entreguei tudo para Deus. Foi um alívio que veio porque pensei que finalmente posso cuidar dela e que era pra ser, que estava preparada. Mas, também cheguei ao ponto de pensar de que não deveria estar com ela em casa por achar que era um risco. Fiquei com o psicológico abalado”, chorou ao relembrar.

Isabela ainda esperando para aumentar a família — Foto: Assis Lima/arquivo pessoal

Isabela ainda esperando para aumentar a família — Foto: Assis Lima/arquivo pessoal

Segunda filha

Manuela já tem dois anos, que completou em abril e também ganhou uma irmã caçula, a Isabela, de dois meses. A família cresceu, mas a carga de emoções negativas foi transformada em leveza e a Emiliany revelou a felicidade e realização de hoje estar em casa com as duas filhas.

“Deus deu sustento na minha primeira gestação, tive muita conexão com Ele. É um processo que a gente passa e eu passei. E na segunda gestação, desde o momento que descobri, foi tudo muito diferente, foi toda com muita leveza. A gente não vive mais com aquele medo, apesar de as coisas ainda estarem acontecendo, mas não como antes.”

Um gesto simples como de levar a filha para casa, se tornou privação dos desejos mais singelos de uma mãe que idealiza cada momento da chegada de um filho, mas ao poder estar ciente de que tudo que aconteceu. Agora, ela comemora ter vivenciado tudo isso com o nascimento de Isabela.

“Meu parto foi lindo, do que jeito que sonhei que fosse com a primeira, pude pegar minha filha no colo, pude amamentar. Meu marido estava comigo na sala, pude viver tudo que não vivi com a Manuela, vivi com a Isabela. Então, amamentei minha ainda na sala de parto, pude levar ela para casa. Acho que por tudo que vivemos, a segunda acaba sendo tudo com mais leveza”, relatou.

Primeira homenagem na escola foi marcada pela emoção — Foto: Arquivo pessoal

Primeira homenagem na escola foi marcada pela emoção — Foto: Arquivo pessoal

Primeira homenagem na escola

Com todas as experiências que passou, Emiliany diz que não há outra palavra, a não ser intensidade para descrever a experiência que tem vivido.

“Vivo a maternidade intensamente. Tem sido tudo muito diferente. Tenho vivido meus momentos com a Isabela e revivido com a Manuela. Então, a gente passa a valorizar muito mais os momentos, curtir os filhos. Tem sido maravilhoso, agora, a maternidade das duas meninas juntas. Posso dizer que é muito gostoso ser mãe, amar um ser humano, cada evolução e aprendizado dele que é um encanto pra gente. Estou feliz porque estou com duas bênçãos. Tem sido três anos de transformação. Estou feliz, grata, privilegiada sendo mãe de duas, embora haja os desafios.”

Ele fala que não era o sonho da vida ser mãe, mas sempre quis ter a experiência da maternidade e depois de tentar por dois anos, viu esse sentimento crescer. Hoje, ela se vê realizada.

“A emoção que senti foi única, de ver minha filha me procurando, e quando me viu, correu pra mim. Foi como um alívio de me ver ali, como se fosse a segurança dela e aquilo foi incrível. De tão encantada com ela, nem percebi que a música já tinha acabado porque estava tão focada nela. É um momento único que os filhos nos proporcionam. Antes da Manu entrar, tive meu momento com Deus, agradecendo pela oportunidade de viver aquilo, de viver a maternidade, de viver o meu primeiro Dia das Mães na escolinha. Sempre via as mães postando e pensando que chegaria o meu dia e chegou o momento de sentir essa emoção única”, concluiu.

Com informações G1 Acre

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