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Após morte de crianças por síndrome respiratória no AC, governador recebe mães em reunião fechada

As mães das crianças que morreram nos últimos dias de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Acre foram recebidas pelo governador Gladson Cameli, na tarde desta sexta-feira (17), no Palácio Rio Branco.

A reunião não foi a portas fechadas apenas com as mães e alguns familiares das crianças. O encontro teria ocorrido, pois o governador pediu para falar com as mães e mostrar as ações que estão sendo feitas após os óbitos, além de mostrar solidariedade. 

Na terça (14), a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) confirmou mais uma morte. São 10 óbitos de crianças em menos de dois meses no estado. 

Após o encontro, a Secretária de Saúde do Acre, Paula Mariano, falou sobre os casos e garantiu que todas as mortes estão sendo investigadas e que foi aberta uma sindicância, a pedido do chefe do executivo, para que os casos sejam apurados. 

“Se houve algum erro, alguma negligência por parte da Saúde, a gente reconhece, mas tem que ser apurado, nenhum de nós aqui está dizendo que está a mil maravilhas. Então, assim, a orientação é essa, foi aberta uma sindicância, até porque a gente tem que dar uma resposta. Me solidarizo com todas as mães, o que a gente pode fazer a gente está fazendo, que é investigar. Nós queremos dar respostas o quanto antes”, garantiu. 

A diretora Técnica do Pronto Socorro, Deiviane Medeiros, também estava presente e falou sobre o atendimento dado para as crianças que morreram de síndromes respiratórias na unidade. Ela falou que não faltou medicação e que todas as crianças tiveram suporte quando chegaram na unidade. 

“Fiz um levantamento sobre toda essa questão das crianças, todos os dados são baseados em dados oficiais e clínicos. As crianças foram atendidas por médicos intensivistas (que fazem plantão, mas são pediatras). Não faltou medicação e nem atendimento para essas crianças.” 

Governo publica decreto que cria comitê de acompanhamento das síndromes respiratórias no AC — Foto: Ágatha Lima/Rede Amazônica Acre 

Após a reunião, a mãe do pequeno Théo Dantas, de 10 meses, Joelma Dantas, que morreu na terça (7), disse em suas redes sociais que no encontro as mães esperavam que o governador desse uma resposta para elas, o que, segundo ela, não aconteceu. 

O bebê estava internado no Pronto Socorro de Rio Branco desde segunda (6) e aguardava ser transferido para o Hospital da Criança. 

“Fomos esperançosas para saber o que o governador ia falar e pensávamos que ele ia dar as respostas que nós queríamos, o porquê de a secretária não ter sido exonerada ainda, o porquê que a Adriana Lobão que recebeu o áudio da Dora do PS dizendo que as crianças estavam morrendo por falta de assistência não foram demitidas”, questionou. 

Joelma disse ainda que elas chegaram a questionar Gladson sobre a falta de assistência e medicação no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Acre (Into-AC), para onde as crianças foram levadas. 

“A gente perguntou o que que ele poderia fazer pela gente. Governador, aponte os culpados, o senhor tirou as crianças do Hospital da Criança elevou para o Into e chegou lá as crianças ainda estão precisando de ajuda. Ele chamou a responsável para ver o que estava faltando para as crianças e ela disse que elas não estavam precisando de nada e ficou nisso”, falou. 

Bebês morreram de síndromes respiratórias em Rio Branco e pais alegam negligência — Foto: Arquivo pessoal 

Comitê de acompanhamento

O governado publicou na quarta (15) o decreto 11.071 de criação do Comitê de Acompanhamento Especial das Síndromes Respiratórias (Caerp) no estado. 

Esse aumento dos casos expôs a falta de estrutura dos hospitais para atender crianças, já que o PS é a referência para atendimentos graves na capital. 

Pais das crianças que morreram com a doença acusam o estado de negligência e denunciam falta de estrutura e medicamentos nessas unidades. Por isso, na sexta (10), o Conselho Regional de Medicina do Acre (CRM-AC) fez uma fiscalização no PS da capital. 

Áudio de diretora expôs problema dias atrás

Começou a circular, no sábado (11), um áudio da diretora do PS, Dora Vitorino, relatando à Sesacre os problemas para atender a demanda. No áudio, dá para perceber que ela se dirige à secretária adjunta de Assistência à Saúde, Adriana Lobão, e cobra agilidade na abertura de leitos. 

O áudio era de 12 a 15 dias atrás, antes de a Saúde abrir novos leitos no PS. Nele, Dora relata que estão chegando crianças para serem intubadas e que não tem onde colocá-las. Além disso, pede celeridade na abertura dos leitos e diz que não sabe mais o que fazer, inclusive, descreveu a situação das equipes médicas em não conseguir atender a demanda. 

“Eu não tenho o que fazer mais, sinceramente. Peça agilidade para resolver a questão desses leitos, nossa reunião foi na quinta-feira de manhã, hoje é quarta, se passaram seis dias, seis dias é muito tempo para quem tava com urgência naquele dia, com paciente intubado, falei na reunião que eram 3, é uma situação muito complicada. Nós no pronto-socorro não temos o que fazer, não temos espaço para colocar crianças. O que tinha para fazer a gente fez, nós pegamos a sala do pós-óbito, colocamos a criança, e lá agora é para pediatria. Não temos mais o que fazer”, diz no áudio. 

Pacientes transferidos

O governo decidiu transferir as instalações e pacientes do Hospital da Criança de Rio Branco para o prédio do Into-AC. Foram, ao todo, 63 crianças transferidas no sábado (11). 

Agora, com a reforma no Hospital da Criança e transferência das instalações, todos os atendimentos pediátricos passam para o Into, não só os casos de síndromes respiratórias. No entanto, segundo a Sesacre, os pais que tiverem com crianças doentes devem primeiro procurar a Unidade de Pronto Atendimento do Segundo Distrito ou, nos casos mais graves, o PS, e depois os pacientes serão remanejados ao Into, caso seja solicitado pelo médico. 

Nos últimos dias, o aumento nos casos de síndromes respiratórias em crianças tem chamado atenção. Mães e pais têm ficado desesperados com a demora por leitos para internação dos filhos e alegam negligência médica. 

A 1ª Promotoria de Justiça Especializada de Defesa da Saúde do Ministério Público do Acre (MP-AC) informou que vai apurar se houve omissão no atendimento a crianças e a disponibilidade de leitos de pediatria, medicamentos e insumos da rede pública estadual, destinados ao atendimento de crianças acometidas de vírus respiratórios.

Com informação do G1

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