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quinta-feira, abril 25, 2024

No aniversário de 60 anos do estado, entenda como o Acre chegou a ter quatro capitais

Por redação.

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Que o Acre é o único estado a travar uma guerra para se tornar parte do Brasil isso não é novidade. Mas, que antes de ser considerado estado ele foi um território federal e chegou a ter primeiro três e depois quatro capitais, você sabia?

Nesta quarta-feira (15), dia em que se comemora os 60 anos de emancipação política à categoria de estado, o g1traz essa parte da história, contada pelo historiador Marcos Vinícius Neves.

Com o final da Revolução Acreana, foi uma surpresa geral a criação do território federal do Acre. É que todos acreditavam que o Acre ia virar um estado ou, na pior das hipóteses, que seria anexado ao Amazonas.

Mas, o governo federal, interessado nos ricos impostos da borracha do Acre que rendiam uma fortuna todos os anos, decidiu criar um novo sistema político. Na época, teve até quem argumentou que o tal sistema era inconstitucional. Mesmo assim, o Acre se tornou um território federal, governado a partir da presidência da República, que ficava no Rio de Janeiro.

“Tão estranho era esse sistema e tão novo, que eles não sabiam sequer como organizar o Acre, o território federal. Decidiram, então, criar um sistema misto do sistema argentino, com sistema boliviano e sistema norte-americano de territórios e dividiram o Acre em três departamentos, autônomos entre si”, contou o historiador.

Em 1904, junto com a criação do território federal do Acre, foram criados os departamentos: Alto Acre, Alto Purus e Alto Juruá. Cada um desses departamentos era governado por um prefeito departamental, nomeado pela presidência da República.

E também, cada departamento tinha uma capital. No caso do Vale do Acre havia duas cidades para escolher, que era Xapuri e Rio Branco, que na época era chamada de Volta da Empreza, e escolheram Rio Branco.

Já no caso do Purus, não havia nenhuma cidade ou povoado que pudesse servir como capital e, por isso, foi criada, em setembro 1904, a cidade de Sena Madureira. A mesma coisa aconteceu no Juruá, onde foi criada a cidade de Cruzeiro do Sul, também em setembro de 1904.

Vista panorâmica de Cruzeiro do Sul nos anos 1950 — Foto: Acervo/IBGE

Vista panorâmica de Cruzeiro do Sul nos anos 1950 — Foto: Acervo/IBGE

Revolta Autonomista do Alto Juruá

Quando foi em 1910, aconteceu uma revolta em Cruzeiro do Sul, a chamada ‘Revolta Autonomista do Alto Juruá’, que durante 100 dias proclamou criando o Estado do Acre.

Mas, o governo federal não aceitou essa ação da população, até porque, foi uma revolta armada que depôs o prefeito departamental e o Exército atacou as forças autonomistas e retomou o poder.

“Por conta dessa revolta autonomista, em 1912, o governo brasileiro decidiu fazer uma reforma administrativa no Acre. E, como maneira de diminuir a capacidade de poder do Juruá e Cruzeiro do Sul, decidiu, então, dividir o departamento do Juruá em dois departamentos e criou um quarto departamento chamado Departamento do Alto Tarauacá, com sede na Vila Seabra, que já existia, e depois veio a se chamar de Tarauacá”, explicou Neves.

Com isso, a partir de 1912, o Acre passou a ser dividido em quatro departamentos diferentes: Alto Acre, Alto Purus, Alto Tarauacá e Alto Juruá, com quatro capitais, sendo uma para cada: Rio Branco, Sena Madureira, Tarauacá e Cruzeiro do Sul, respectivamente.

Sena Madureira em 1912 e Rio Branco em 1918 também conheceram revoltas autonomistas que foram igualmente sufocadas pelo governo brasileiro.

Só em 1920, com o Acre já dando prejuízo, em meio à uma crise econômica por conta da queda das vendas da borracha, foi que o governo federal decidiu unificar a administração do então território federal e extinguiu os quatro departamentos. Foi aí que criou o governo do território federal, centralizado em uma única cidade.

Palácio Rio Branco na década de 1950, um dos grandes símbolos da luta pela emancipação do Acre — Foto: Acervo/CDIH

Palácio Rio Branco na década de 1950, um dos grandes símbolos da luta pela emancipação do Acre — Foto: Acervo/CDIH

Mas e qual seria a capital?

A questão agora era decidir qual das quatro cidades ficaria com o posto de capital, a partir da centralização. Os historiadores contam que desde 1917, o governo federal havia começado a investir em Sena Madureira, porque possivelmente seria ela a capital do território.

Por isso, na época, chegou a ser instalado por lá um Tribunal de Justiça, uma central dos Correios e Telégrafos e diversos órgãos. Mas, o peso político e o poder econômico do Vale do Acre acabou pesando na balança e quando chegou na reforma administrativa de 1920, ao invés de colocar Sena Madureira como capital de todo o território, colocaram Rio Branco.

“Ao contrário do que se diz, Sena Madureira nunca foi capital do Acre, ela foi, entre 1904 e 1920, a capital do Departamento do Alto Purus. A capital do Acre unificado, desde 1920, sempre foi Rio Branco, até 1962, quando o território federal do Acre foi transformado em Estado, por força da Lei 4.070 e Rio Branco permaneceu sendo a capital do Estado do Acre”, concluiu.

Sanção da Lei 4.070, de 15 de junho de 1962 que elevou o Acre a Estado  — Foto: Acervo Digital/Memorial dos Autonomistas

Sanção da Lei 4.070, de 15 de junho de 1962 que elevou o Acre a Estado — Foto: Acervo Digital/Memorial dos Autonomistas

Há 60 anos, o então presidente do Brasil, João Goulart, assinava em Brasília a lei que elevava o território federal do Acre à categoria de estado. A lei, criada pelo deputado federal Guiomard dos Santos, foi sancionada em 15 de junho de 1962 e permitiu que o povo acreano pudesse escolher democraticamente seus candidatos.

  • Por Iryá Rodrigues, g1 AC — Rio Branco

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