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domingo, maio 19, 2024

Seca do Rio Acre: Pesquisadores avaliam cenário e alertam para estudos que apontam ‘cota zero’ futuramente

Por redação.

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O Rio Acre registrou, somente este ano, quatro cotas históricas na maior seca do estado, sendo três vezes em setembro, e uma em outubro, quando chegou a 1,25 metro. Para analisar esse cenário, o g1 ouviu dois especialistas que fizeram um panorama sobre o manancial, que é a principal fonte de abastecimento da capital acreana. Neste domingo (9), o nível do rio está em 1,86 metro.

Os dois destacam que muitos fatores contribuem para essa vazão, desde variáveis antropológicas, climáticas a geológicas. Chamam atenção ainda para estudos que apontam que, futuramente, o Rio Acre registre inclusive, cota zero em algumas regiões.

Como tudo depende da natureza, é difícil fazer previsões, mas o doutor explica que, assim como tem se registrado seca com níveis recordes, também podemos registrar cheias severas nos próximos anos.

“Tem-se observado que os eventos de Lá Niña estão associados a aumentos nos registros pluviométricos na região. Com a ocorrência do evento pelo terceiro ano seguido, há a possibilidade de cheias recordes, evidentemente que a probabilidade é pequena. Porém, tal característica converge para esperar a ocorrência de cheias capazes de causar impactos acentuados, como foi registrado em anos recentes”, destaca.

Gestão

Questionado sobre medidas que possam mudar esse cenário, Moreira diz que isso é quase irreversível, quando se avalia os extremos – seca e cheia – que o estado registra historicamente.

“O que pode ser feito é preparar a sociedade por meio de medidas capazes de atenuar os impactos que tais eventos causam. Por exemplo, não há em curso (ou pelo menos não está explicitado) um plano de abastecimento para a capital, em que outras formas de captação sejam pensadas. Isso diminuiria a dependência do Rio Acre e atenuaria os impactos do uso do manancial”, pontua.

Mais do que isso, segundo ele, é extremamente necessário que as pessoas sejam conscientizadas sobre o uso racional dos recursos naturais, com campanhas efetivas e bastante disseminadas.

“Nesse sentido, observemos um exemplo prático: todos sabemos a importância da industrialização para o crescimento econômico de uma região, mas o abastecimento de água tem se mostrado um regulador do crescimento industrial ao longo da história em todo o mundo. Então, se queremos desenvolver a região, precisamos fazê-lo de forma planejada, de modo que não nos falte o principal: os recursos”, destaca.

Rio Acre é a única fonte de abastecimento da capital  — Foto: Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre

Perfuração de poços

O g1 também ouviu Carolina Accorsi Montefusco, que é engenheira civil e mestre em Ciência, Inovação e Tecnologia para a Amazônia. Sobre os baixos níveis do rio, ela destaca que outros fatores também contribuem para essa vazão histórica, como a ocupação irregular às margens do manancial e outros fatores.

“Muito se relaciona a diminuição da cota do rio com a falta de chuvas e, ao se observar os registros de série históricas de dados, observa-se que não está relacionado. Com relação ainda a essa dinâmica hidrológica x fluviométrica da cota do rio, ainda é possível observar que ao serem estudados os registros de vazão que temos desde 1970 até os dias atuais, realmente observa-se a tendência decrescente nas vazões do rio Acre, a cada ano que passa, no período de estiagem, da tal forma que a recorrência será muito maior”, explica.

O Rio Acre é a única fonte de captação de água para abastecimento na capital. Enoque Pereira, presidente do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb), chegou a dizer ao g1 que estuda maneiras de que essa seca não interfira na distribuição de água, mas alega que o serviço já teve alguns prejuízos.

Pereira destaca ainda que a prefeitura tem feito estudos para que o abastecimento de água não dependa mais apenas do Rio Acre. A intenção é furar poços no Segundo Distrito da capital para ajudar nessa distribuição de água. Porém, ainda há um processo a ser feito até que isso aconteça. Os testes, inclusive, começariam já este ano.

Sobre essa proposta, Carolina avalia que não seria uma solução, pois, em um período de estiagem, esses poços podem secar também, não sendo uma solução.

“Quando se fala em perfuração de poços para atendimento ao abastecimento de água em Rio Branco, principalmente para a época de estiagem, não é a melhor solução. Uma vez que nesse período, em virtude da diminuição de chuvas, o nível do lençol freático diminui também, comprometendo o volume de água disponível para uso.”

Abastecimento de água em Rio Branco pode ficar comprometido, devido à seca do rio  — Foto: Saerb

‘Cota zero’

Para a engenheira, é preciso pensar em maneiras de amenizar os impactos que esses fatores causam no rio. Segundo ela, as projeções apontam para cenários mais graves, inclusive, com cota 0 do Rio Acre em algumas regiões.

As menores cotas já registradas são:

  • 1,30 metro – 17 de setembro de 2016
  • 1,29 metro – 11 de setembro de 2022
  • 1,27 metro – 28 de setembro de 2022
  • 1,26 metro – 29 de setembro de 2022
  • 1,25 metro – 2 de outubro de 2022

“O que é possível é justamente a realização de estudos que nos trazem projeções futuras de possibilidades. Inclusive, foram realizados já estudos que estimam em um futuro próximo, em virtude do alto grau de assoreamento do rio Acre, o mesmo pode apresentar cota zero’ em alguns locais no período de estiagem. Aliado a esse fator, as outras variáveis envolvidas nesse processo ocorrem concomitantemente, de maneira que aumentam ainda mais a preocupação com o futuro do rio Acre”, pontua.

Mesmo com níveis tão baixos, Carolina explica que o rio Acre, mesmo na estiagem, tem capacidade para abastecer a cidade tranquilamente. O que precisa mudar, segundo ela, é o sistema de captação e distribuição de água, sendo uma área que precisa de mais investimentos.

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