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sábado, maio 18, 2024

Perigo iminente à fruticultura acreana: registro da mosca-negra-dos-citros no estado

Por redação.

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De origem asiática, a mosca-negra-dos-citros [Aleurocanthus woglumi Ashby (Hemiptera: Aleyrodidae) é uma praga agressiva, responsável por prejuízos que vão desde debilitar as plantas hospedeiras pela contínua sucção da seiva nas folhas (dependendo do nível de infestação pode causar a morte de plantas cítricas jovens), até afetar a produção e a qualidade dos frutos para comercialização.

O primeiro registro desse inseto no Hemisfério Ocidental ocorreu na Jamaica (1913), posteriormente em Cuba (1916), México (1935), Venezuela (1965) e Guiana Francesa (1995). No Brasil, essa praga foi encontrada pela primeira vez em julho de 2001, em Belém (PA) e, atualmente, já se espalhou por todo território nacional, com exceção do Distrito Federal. Esse inseto já foi considerado uma praga quarentenária presente no Brasil pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), mas, com a expansão de sua ocorrência, foi retirado dessa lista desde 2014.

O registro no estado do Acre ocorreu em maio de 2022, em Rio Branco, a partir da coleta de folhas infestadas de limoeiro, cultivado em jardim residencial urbano. A citricultura representa a segunda mais importante atividade frutícola do estado do Acre e as maiores áreas plantadas estão localizadas nos municípios de Plácido de Castro, Acrelândia, Sena Madureira e Rio Branco.

A mosca-negra-dos-citros é um inseto diminuto, que mede de 1 mm a 3 mm de comprimento, e se alimenta de cerca de 300 espécies botânicas, tanto cultivadas quanto silvestres. No entanto, a laranjeira, limoeiro e tangerineira são apontados como hospedeiros preferenciais, onde geralmente são encontradas grandes populações dessa praga na face inferior das folhas. A depender das condições climáticas, o ciclo biológico da praga se completa entre 45 e 133 dias, compreendendo as fases de ovo, ninfa e adulta, na qual pode viver até 4 meses.

Um dano indireto, causado pela alimentação de ninfas e adultos da mosca-negra-dos-citros, é o desenvolvimento fúngico sobre as fezes dos insetos, causando a fumagina, que pode revestir completamente as folhas, diminuindo a sua capacidade de realizar fotossíntese, e dificultar o processo de respiração da planta, podendo reduzir a frutificação em até 80%. A fumagina também afeta a qualidade dos frutos comercializados in natura, os quais necessitam de higienização intensiva durante seu processamento antes de serem embalados. Ademais, os resíduos de frutos inadequadamente limpos podem contaminar o suco nas extratoras.

A capacidade de disseminação da mosca-negra-dos-citros pode favorecer a infestação das regiões produtoras de citros. Estudos demonstram que o inseto tem capacidade de dispersão horizontal de até 187 metros por dia, 400 a 600 metros por geração e entre 200 e 300 quilômetros por ano. Os principais fatores que contribuem para a disseminação da praga são: condições climáticas favoráveis, transporte de mudas e/ou implementos agrícolas contaminados, ação natural do vento, presença de outras espécies de plantas hospedeiras no entorno dos plantios citrícolas, ausência de monitoramento sistemático nos plantios e tomada de decisão tardia para o controle.

As brotações novas devem ser inspecionadas semanalmente, observando a face inferior das folhas novas e maduras à procura de ovos amarelo-alaranjados (as posturas são sempre em espiral), ninfas e/ou adultos do inseto. A presença de fumagina nas folhas e frutos também é um possível indicativo da ocorrência da mosca-negra-dos-citros no plantio. É importante que o monitoramento não seja realizado apenas no talhão do plantio, sendo recomendado, também, em hospedeiros alternativos presentes na propriedade. A utilização de armadilhas adesivas amarelas, instaladas na copa das plantas cítricas a uma altura de 1,60 m do nível do solo e avaliadas a cada 7 dias, também é uma alternativa que garante um monitoramento mais confiável da área.

Com o objetivo de avaliar o nível de infestação do pomar, o produtor deve observar a face inferior de 10 folhas, coletadas em diferentes estratos da planta (inferior, médio e superior), de 10 árvores por hectare e anotar o número de ninfas e adultos. O nível de controle é uma média igual ou superior a 75 insetos por hectare.

Adultos e larvas de joaninhas (Coleoptera: Coccinelidae) são predadores de ovos e ninfas da mosca-negra-dos-citros, além de larvas de crisopídeos (Neuroptera: Chrysopidae). Além disso, vespinhas parasitoides (Hymenoptera) e fungos entomopatogênicos já foram relatados como inimigos naturais dessa praga em condições de campo.

Como formas de manejo integrado dessa praga citam-se: 1) utilização de mudas certificadas provenientes de locais livres da praga; 2) utilização de barreiras vegetais (com plantas não hospedeiras) para evitar a entrada da praga nos pomares; 3) retirada e queima de partes vegetais infestadas; 4) preservação e aumento de inimigos na área pelo plantio de crotalária ou cravo-de-defunto nas entrelinhas; 4) aplicação de água com detergente ou óleos naturais; e 5) controle químico.

Atualmente, há seis inseticidas registrados junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para o controle dessa praga no Brasil. Três apresentam clorantraniliprole (antranilamida) + lambda-cialotrina (piretroide), dois contém imidacloprido (neonicotinoide) e um inclui acetamiprido (neonicotinoide) + piriproxifem (éter piridiloxipropílico) em sua composição. A pulverização deve ser realizada na face inferior das folhas e seguir rigorosamente a recomendação da bula do produto e a orientação de um técnico.

A partir da constatação da ocorrência da mosca-negra-dos-citros no estado, pesquisas devem ser despendidas, visando ao monitoramento dos plantios, a fim de se conhecer e acompanhar a distribuição dessa praga, suas plantas hospedeiras e níveis de infestação. Assim poderão ser traçadas estratégias para mitigar possíveis efeitos negativos na produção, a fim de evitar impacto econômico nas regiões fruticultoras.

Rodrigo Souza Santos
Biólogo, doutor em Entomologia Agrícola
Pesquisador da Embrapa Acre

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