Um mês após o início da terceira maior enchente da história, o nível do Rio Acre na capital acreana chegou a 8,14 metros na medição das 6h desta segunda-feira (24), segundo a Defesa Civil de Rio Branco.
O índice representa 6,51 metros a menos do que o registrado na medição das 18h do dia 23 de março, quando marcou 14,65 metros, acima da cota de transbordo, que é de 14 metros. A data foi o início da cheia que durou até a segunda semana de abril, e teve o pico de 17,72 metros no dia 2 de abril. Considerando essa última data e a medição dessa segunda-feira, o Rio Acre já teve uma redução de 9,58 metros.
Cheia histórica
Rio Branco vivenciou a terceira maior enchente da história em 2023 e esta foi a mais rápida em termos de alcance de cotas históricas. O levantamento feito pelo g1 com base em dados da Coordenadoria da Defesa Civil Municipal mostra que desde que o Rio Acre começou a ser monitorado, em 1971, níveis acima de 17 metros foram registrados seis vezes.
O Rio Acre alcançou a maior marca de todos os tempos em 4 de março de 2015. Naquele momento, quando mais de 100 mil pessoas haviam sido atingidas pelo avanço das águas, o Governo Estadual decretou situação de emergência e estado de calamidade pública, reconhecidos pelo Governo Federal. O manancial ficou 32 dias acima da cota de alerta, que é de 13,50 metros.
A segunda maior enchente da história da capital acreana alcançou o pico em 2 de março de 2014. Os mais de 43 mil atingidos fizeram com que o governo decretasse situação de emergência.
Eventos extremos
Os eventos naturais extremos têm ocorrido com menor frequência, mas em maior proporção. A avaliação é do doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Universidade Federal do Acre (Ufac), José Genivaldo do Vale Moreira, que apontou falta de ações e planejamento do poder público agravantes para os desastres. Segundo ele, nenhum dos estados da Amazônia Legal possui sistemas de alerta e planos de contingência permanentes para eventos como inundações, secas, incêndios florestais e outros.
O professor também ressalta que esses fenômenos dependem de diversos fatores, o que os tornam imprevisíveis.
“Apesar de estarmos atravessando o período conhecido como ‘ inverno amazônico’, quando se registra maior volume de chuvas e de vazões, os eventos registrados recentemente no Rio Acre estão associados a baixas possibilidades de acontecer. Ou seja, estão ocorrendo em ciclos cada vez menores e com maior intensidade. E com isso, há possibilidade maior de causar danos mais severos à população vulnerável. E não somente o impacto social, mas também econômico, uma vez que altera a rotina no ciclo produtivo da região”, explica.
Apesar da ocorrência dos eventos extremos ser praticamente inevitável, por conta dos fatores que os regem, as consequências podem ser gerenciadas.
O professor destaca a necessidade de ações tanto estruturantes quanto não estruturantes, especialmente em longo prazo, e que não se tratam, necessariamente, de obras de grande complexidade.
Moreira lista uma série de ações que podem integrar esse gerenciamento se colocados em prática de maneira conjunta pelo poder público, e integra várias vertentes: prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação (ciclo da gestão de riscos).
Entre as possíveis medidas, estão:
- Mapeamento de áreas de risco;
- Plano de redução de risco;
- Integração com plano diretor;
- Qualificação de pessoal;
- Parques lineares;
- Recuperação de nascentes e reflorestamento de áreas estratégicas;
- Sistemas alarme;
- Deslocamento de pessoal para áreas menos suscetíveis.