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sexta-feira, julho 26, 2024

Acre tem mais de 80% das crianças e adolescentes em situação de pobreza, aponta Unicef

Por Renato Menezes, do g1 AC.

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No Acre, pelo menos 29,81% das crianças e adolescentes vivem em condições precárias de saneamento básico. — Foto: Agustin Marcarian/Reuters
No Acre, pelo menos 29,81% das crianças e adolescentes vivem em condições precárias de saneamento básico. — Foto: Agustin Marcarian/Reuters

O Acre tem 83,9% das crianças e adolescentes vivendo em situação de pobreza. Isto é o que destaca o relatório “Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil”, lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) nesta terça-feira (10).

Apesar do percentual alto, o Acre teve uma tímida queda em comparação com 2019, quando o número era de 84,9%.

Os dados apontam ainda que, dos sete estados da região Norte, o Acre fica em quarto lugar com o maior percentual de crianças com algum tipo de privação.

No que diz respeito ao quantitativo de crianças e adolescentes de 0 a 17 anos com privações em 2022, foram analisados os quesitos de educação, informação, moradia, água, saneamento e renda. Destes itens, o Acre está em quatro dos seis com os piores percentuais da região Norte, sendo estes:

  • Educação: 16,28%
  • Informação: 12,04%
  • Água: 20,15%
  • Renda: 56,28%

No quesito moradia, o estado tem 17,21% das crianças e adolescentes em níveis intermediário e extremo, ficando em terceiro lugar, atrás somente de Roraima, com 25,01%, e do Amazonas, com 24,11%. Já no que diz respeito ao saneamento, o Acre tem 63,41% das crianças vivendo em situações de privação deste direito, em algum nível.

“A pobreza na infância e adolescência vai além da renda, e precisa ser olhada em suas múltiplas dimensões. Estar fora da escola ou sem aprender, viver em moradias precárias, não ter acesso a renda, água e saneamento, não ter uma alimentação adequada e não ter acesso à informação são privações que fazem com que crianças e adolescentes estejam na pobreza multidimensional”, explicou Santiago Varella, especialista em Políticas Sociais do Unicef no Brasil.

O estudo apresenta dados nacionais e por estado, destacando a grande diferença regional com relação à pobreza multidimensional no Brasil. Os estados do Norte e Nordeste apresentam, na pesquisa, os maiores índices de meninas e meninos privados de um ou mais direitos.

Dimensões da pobreza infantil no Acre

Direito Privação intermediária Percentual no Acre Privação extrema Percentual no Acre
Educação Frequenta escola, mas com atraso ou analfabetismo 11,36% Não frequenta escola 4,92%
Informação Não teve acesso à internet no último ano em casa, mas tinha uma televisão 9,66% Não teve acesso à internet no último ano em casa e nem tinha uma televisão em casa 2,38%
Moradia Mora com até quatro pessoas por dormitório, com paredes e teto de material inadequado (ex.: madeira aproveitada) 8,93% Mora com mais de quatro pessoas por dormitório ou com paredes e teto de material inadequado (ex.: madeira aproveitada) 8,28%
Água Mora em casa servida por água canalizada somente no terreno/área externa à propriedade 8,43% Mora em casa que não receba água canalizada 11,72%
Saneamento Mora em casa com banheiro compartilhado com pessoas de fora do domicílio ou com fossa rudimentar 33,60% Mora em casa sem banheiro ou com vala a céu aberto 29,81%
Renda Tem renda familiar abaixo da linha da pobreza monetária (R$540 mensais por pessoa nas áreas urbanas e R$386 nas áreas rurais) 37,08% Tem renda familiar abaixo da linha da pobreza monetária extrema (R$220 mensais por pessoa nas áreas urbanas e R$180 nas áreas rurais) 19,20%

Panorama nacional

Os dados mostram que, mesmo com a pandemia da covid-19, nos últimos anos, o Brasil conseguiu reduzir, de forma lenta, a maioria das privações a que crianças e adolescentes estão expostos. Em todo o Brasil, o percentual de meninas e meninos na pobreza multidimensional caiu de 62,9%, em 2019, para 60,3%, em 2022.

Nacionalmente, entre as privações analisadas, chama atenção a piora recente na dimensão de educação, especialmente no que diz respeito ao analfabetismo. A proporção de crianças de 7 anos de idade que não sabem ler e escrever saltou de 20% para 40% entre 2019 e 2022 no Brasil.

“De todas as dimensões analisadas, a que mais piorou no País foi a alfabetização, chamando a atenção para a urgência de políticas públicas coordenadas em nível nacional, estadual e municipal para reverter esse quadro. Importante destacar, também, a renda necessária para uma alimentação adequada – que foi impactada pela alta nos preços dos alimentos – e a questão do saneamento básico, que, embora apresente alguma melhora, continua sendo a privação que impacta mais meninas e meninos no País”, alertou Varella.

O relatório “Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil” apresenta uma análise de dados de 2016 a 2022 e analisa o acesso de crianças e adolescentes a seis direitos básicos: renda, educação, informação, água, saneamento e moradia. O documento se baseia na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) e enfatiza a necessidade de ações coordenadas e urgentes para garantir que cada criança, cada adolescente tenha acesso pleno aos seus direitos.

Além de mapear as múltiplas dimensões da pobreza, sendo estas a alimentação, renda, educação, moradia, água, saneamento e informação, o estudo categoriza as privações em intermediária (acesso ao direito de maneira limitada ou com má qualidade) e extrema (sem nenhum acesso ao direito), de acordo com critérios como faixa etária, dados disponíveis e legislação do País. Há também análises por estado e cor/raça.

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