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sábado, julho 27, 2024

Professor que perdeu o olho após ser agredido por empresário desabafa: ‘me deu marcas para o resto da vida’

Por Tácita Muniz, g1 AC.

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Paulo Henrique [à esquerda] foi agredido pelo empresário Adriano [à direita] — Foto: Arquivo pessoal
Paulo Henrique [à esquerda] foi agredido pelo empresário Adriano [à direita] — Foto: Arquivo pessoal
O professor Paulo Henrique Brito, de 21 anos, que perdeu o olho após uma agressão no último dia 3 em um bar na cidade de Brasileia contou ao g1 que tenta se readaptar à nova condição e que lembra apenas de alguns flashs após ter sido atingido com um murro no rosto pelo empresário Adriano Vasconcelos Correa da Silva, de 47 anos.

O agressor estava com um copo de vidro na mão que quebrou no rosto da vítima. A agressão foi ao lado de uma viatura da Polícia Militar e registrada por câmeras de segurança. Paulo contou que teve cortes profundos no olho e precisou retirar o globo ocular esquerdo, perdendo a visão. Professor mediador de crianças atípicas, ele definiu o suspeito como bárbaro e disse não entender o motivo da violência. No dia do acontecido, ele tinha acabado de sair do trabalho, quando resolver parar no bar para tomar um chopp com amigos.

“Chegou um hippie vendendo os artesanatos dele quando a equipe do bar chegou expulsando o rapaz e eu vendo aquilo me incomodei e pedi para a equipe do bar não tratar ele daquela forma. Chamei o rapaz para sentar na minha mesa, tanto que o hippie foi lá, sentou, ainda tomou uma cerveja comigo e aí enquanto a gente estava tomando uma cerveja, eu, sinceramente não lembro dessa história de cuspe, mas fiquei sabendo que teve um cuspe, que disseram que esse foi o pivô para o bate-boca entre minha mesa e o casal que estava do lado, tanto que é o que está explícito na imagem”, conta.

O professor relembra que neste momento houve um desentendimento entre ele e um casal que estava incomodado com a presença do hippie. Segundo ele, não conhece o andarilho, apenas de vista, mas que o fato de como estavam tratando ele o incomodou.

“Pensei que o cara estava quieto no canto dele, não tava bebendo de graça, então comecei a pensar que fosse preconceito mesmo. Pensei que eles estavam incomodados pelo fato de o hippie estar sentado comigo e começou uma discussão com a mesa do lado, nisso chegou a equipe do bar e teve um breve bate-boca, já estava apaziguando, quando vem os dois sujeitos, que até então eu não tinha visto, mas é o que dá pra ver, eles saindo da mesa deles, se levantando, eu tava em uma mesa na ponta do bar e os dois sujeitos estavam na outra ponta, então nem sabia que eles estavam lá, não conhecia nenhum dos dois, são duas pessoas bem conhecidas na minha cidade, mas que eu não conhecia”, conta.

Os dois homens os quais ele se refere são Adriano e um amigo que se aproximam da mesa onde estava tendo o desentendimento. Paulo diz então que, como mostram as imagens, ele se levanta, passa na frente de Adriano e já recebe o soco. O empresário quebrou o copo no rosto da vítima, que teve cortes no olho e em todo o rosto. Neste momento, o vídeo mostra que Paulo Henrique fica desorientado e começa a jorrar sangue. A partir daí, ele diz que já não consegue lembrar de nada.

“Quando olho para a minha blusa, que era da cor verde, tava encharcada de tanto sangue, porque estava jorrando muito sangue. Não lembro chegando no hospital, de ter sido atendido, o que me lembro é de um flash de eu já deitado na maca com as pessoas costurando meu rosto, tenho uma breve lembrança dessa situação. Minha mãe tava contando que eu estava de um lado sendo atendido e o agressor do outro. E aí só tenho lembranças de acordar já no trauma do pronto-socorro sendo atendido pelo pessoal com meu pai do lado e foi isso.”

Questionado se chegou a falar algo para o empresário antes do soco, Paulo diz que não lembra, mas disse que estavam em um bate-boca. O professor disse ainda que iria chamar a polícia, inclusive, uma viatura já estava estacionada ao lado onde tudo aconteceu.

Paulo começou a ouvir xingamentos, foi chamado de “mocinha” e também palavrões. “Apesar de a cidade ser pequena e ele bem conhecido, não conhecia esse camarada. O sujeito é um bárbaro”, diz.

O professor trabalha como mediador na cidade de Epitaciolândia e agora não sabe quanto tempo deve ficar afastado para cuidar da saúde. No dia 16, ele tem um retorno médico para fazer uma avaliação.

‘Me deu marcas para o resto da vida’

Diante de tudo que aconteceu, o professor diz que tem buscado forças no apoio da família e amigos. Mas, revela que tem se questionado o motivo de tudo isso ter acontecido, já que sempre foi uma pessoa tranquila e que nunca se envolveu em confusão.

“Depois de ter visto os vídeos, fiquei muito indignado, não só pelo fato de eu ter sido agredido, mas pelo fato de ter tido autoridades ali no momento e não terem prestado socorro. Minha situação ali dá pra ver que era muito grave, com a quantidade de sangue que eu estava perdendo. Estava escorado na parede do bar tentando pedir ajuda, nem me lembro de tá fazendo isso, não consigo puxar na minha mente, mas as imagens não deixam dúvidas. Então, fiquei muito indignado, porque não entendo. Houve uma demora, uma negligência nesse atendimento”, diz.

Paulo se refere à postura dos policiais militares que estavam no local e não prestaram assistência. As imagens mostram que em nenhum momento os policiais chegaram a se aproximar da vítima ou chamaram socorro. O professor foi levado ao hospital da cidade pela dona do bar e os funcionários.

“Ao ver o vídeo a gente constata que não houve essa prestação de serviços de primeiros socorros”, completa.

O g1 entrou em contato com a Polícia Militar do Acre e pediu um posicionamento sobre a conduta dos policiais naquela situação e aguarda retorno.

Sobre a agressão, ele diz que não compreende e também não perdoa.

“O Adriano me deu marcas para o resto da vida, marcas que todas as vezes que eu olhar no espelho vou me lembrar dele, então conversa com ele só no tribunal, com advogados em busca de solução, porque até o momento não consegue vir de mim um sentimento de perdão, compreensão da situação, do contexto de tudo isso que aconteceu. Só me olhei no espelho sem os curativos há dois dias e quando olhei foi um baque, porque vi um olho a menos, vi meu rosto cheio de pontos, costurado, então é um baque muito grande. A vontade é de não querer olhar mais no espelho”, desabafa.

Caso ocorreu na noite de terça-feira (3) na cidade de Brasileia — Foto: Reprodução
Caso ocorreu na noite de terça-feira (3) na cidade de Brasileia — Foto: Reprodução

Ficha criminal extensa

O g1 teve acesso à certidão de antecedentes criminais de Adriano e constatou que ele tem passagens pela Lei Maria da Penha por violência doméstica contra a mulher, também crimes do sistema nacional de armas; lesão corporal, além de outros processos, inclusive com prisão em flagrante. Os processos correm nas cidades de Rio Branco, Brasileia e Xapuri.

“Esse sujeito, para mim, é um bárbaro. Pelos processos que ele têm nas costas, você pode imaginar a índole que ele tem. O tipo de histórico dele já nos faz entender o tipo de pessoa que ele é. Já eu, tenho orgulho de fazer o que faço, faço por amor e tenho orgulho de ser uma pessoa de bem e isso que me faz levantar da cama todos os dias e chegar em casa com a sensação de dever cumprido.”

O g1 tentou entrar em contato com Adriano, mas ele desliga a ligação quando a reportagem se identifica. Também foi feito contato com o advogado que assina a documentação do processo, mas, segundo o advogado, não foi fechado o acordo para a defesa.

Paulo Henrique da Costa Brito, de 21 anos, foi gravemente ferido e perdeu a visão do olho esquerdo — Foto: Arquivo pessoal
Paulo Henrique da Costa Brito, de 21 anos, foi gravemente ferido e perdeu a visão do olho esquerdo — Foto: Arquivo pessoal

Pedido de prisão preventiva

O Ministério Público do Acre (MP-AC) entrou com o pedido de prisão preventiva contra o empresário Adriano Vasconcelos Correa da Silva, de 47 anos, que agrediu com um murro o professor Paulo Henrique da Costa Brito, de 21 anos, que perdeu o olho.

“Após a obtenção de imagens do incidente, o MP-AC iniciou os procedimentos necessários para esclarecer os eventos e tomar as medidas apropriadas para que a lei seja aplicada de acordo com os fatos, e o agressor seja responsabilizado”, informou.

Nesta terça-feira (10), o MP-AC informou em nota que levou em consideração “a consistência das evidências quanto à autoria e a gravidade concreta do crime, que chegaram ao conhecimento do Ministério Público após o processo de flagrante.”

Mas, o agressor foi preso em flagrante, passou por audiência de custódia na quarta (4) e foi solto após pagar R$ 10 mil de fiança. O delegado informou que a fiança foi estipulada pelo próprio juiz da audiência.

O MP informou ainda que tanto o jovem quanto a família estão sendo acompanhados pelo Centro de Atendimento à Vítima (CAV) para garantir a proteção e segurança da vítima e de sua família durante todo o processo.

O g1 entrou em contato com o delegado Erick Maciel que informou ter iniciado as oitivas de testemunhas. Em reportagem no último dia 5, o delegado falou das investigações.

“Como ele foi posto em liberdade, tenho 30 dias para concluir o inquérito e remeter ao Judiciário. Estou ouvindo testemunhas, dois policiais militares que chegaram no momento da agressão e presenciaram, e dois garçons que estavam lá. Nossa dúvida é só quanto a questão da motivação, porque a autoria é inconteste, as provas, os vídeos mostram. Até o momento, não soubemos de nada que possa justificar essa desproporcionalidade. Também temos ainda que ouvir a vítima, mas por conta da situação clínica dela, ainda não foi possível. Vamos esperar ele se restabelecer para ser ouvido. Ele também vai ser submetido a perícia, para o laudo da materialidade definitiva”, disse Maciel.

Na delegacia, o empresário disse que estava com alguns conhecidos no bar e que a vítima estava com um hippie, que começou a discutir com um dos seus amigos e iniciou a confusão e que, ao tentar ajudar a situação, a vítima teria se voltado contra ele. Ao ser questionado se teria quebrado um copo no rosto da vítima, ele preferiu ficar em silêncio.

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