O ex-presidente, Jair Bolsonaro, que se posiciona como líder natural da direita no Brasil, tem gerado divisões com sua postura pragmática nas eleições para o comando do Congresso Nacional, programada para este sábado (1º). Seu apoio a nomes do Centrão, como Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) no Senado e Hugo Motta (Republicanos-PB) na Câmara, tem sido alvo de críticas por parte de aliados históricos e apoiadores que esperavam uma postura mais alinhada com os princípios da direita.
A crescente divergência interna tem provocado debates acalorados nas redes sociais e nas rodas políticas, com figuras de destaque da direita se posicionando de formas diversas. No Senado, por exemplo, a candidatura de Eduardo Girão (Novo-CE) e do astronauta Marcos Pontes (PL-SP) à presidência da Casa desafiou o status quo imposto por Bolsonaro, que havia alinhado seu apoio a Alcolumbre. Na Câmara, Marcel van Hattem (Novo-RS) também se lançou na disputa, mas o ex-presidente optou por apoiar Motta, apesar das críticas sobre a atuação do parlamentar em temas chave para a direita.
O principal ponto de discórdia se deu quando Bolsonaro, em uma de suas intervenções, criticou Marcos Pontes de forma incisiva, acusando-o de ingratidão. A fala foi um golpe direto na candidatura de um de seus próprios aliados, que esperava contar com o respaldo do ex-presidente. “É esse o meu pagamento? Se não conseguimos ganhar com o Rogério Marinho [PL-RN], que é um baita de um articulador, não vai ser com você agora. Pega mal para todos nós, né?”, afirmou Bolsonaro, reforçando a ideia de que a disputa no Congresso não pode ser feita com base em questões pessoais ou ideológicas, mas sim com pragmatismo.
Essa abordagem pragmática de Bolsonaro, que visa garantir a governabilidade por meio de alianças com o Centrão, tem gerado críticas por parte daqueles que acreditam que o ex-presidente deveria apoiar candidatos mais alinhados com os princípios da direita conservadora, em vez de se aliar a figuras vistas como representantes do “centrão fisiológico”. Para muitos, a aliança com Alcolumbre e Motta enfraquece o discurso conservador e afasta Bolsonaro da base de apoio que o elegeu presidente, especialmente ao ver que outros nomes da direita estão se colocando como alternativas viáveis.
Apesar de não ter criticado diretamente Girão e Van Hattem, Bolsonaro tem sido alvo de acusações de traição e falta de coerência por parte de influenciadores e figuras da direita, que apontam a escolha de candidatos do Centrão como um retrocesso. Para esses setores, a postura pragmática do ex-presidente soa como uma capitulação às práticas políticas que eles acreditam ter contribuído para os problemas do Brasil nos últimos anos.
A disputa por essas candidaturas também se reflete em uma disputa ideológica sobre os rumos da direita no Brasil. Enquanto alguns membros da direita buscam a purificação ideológica, com uma oposição mais radical aos centros do poder, outros preferem um modelo de colaboração, que muitas vezes envolve concessões e acordos com partidos que, teoricamente, não estão alinhados com as visões mais conservadoras.
Nas eleições de 2024, Bolsonaro já havia demonstrado sua inclinação por uma política de pragmatismo, ao preterir candidatos mais radicais em algumas prefeituras, favorecendo acordos com o Centrão. Esse movimento já gerava desconfiança dentro de sua base, mas a situação atual parece ser o ponto de ruptura para muitos.