A subseção da OAB no Vale do Juruá vive um momento delicado e de grande repercussão entre os advogados da região. Após uma série de impugnações e decisões administrativas polêmicas, o advogado Rafael Dene anunciou sua saída da liderança da Chapa 1 para a eleição suplementar marcada para esta sexta-feira, 30 de maio. A decisão ocorre em meio a crescentes denúncias de perseguição política e questionamentos sobre a imparcialidade no processo eleitoral.
Eleito legitimamente em 2024, Dene vem enfrentando obstáculos desde que se posicionou contra a reeleição do atual presidente da OAB/AC, Rodrigo Aiache. Em discurso recente, ele afirmou que sua candidatura tem sido alvo de manobras e resistências desde então. “Todos sabem que estamos sofrendo perseguição desde a eleição de 2024, quando não apoiamos a chapa para a reeleição do doutor Rodrigo Aiache”, declarou.
A disputa ganhou contornos ainda mais complexos quando a chapa adversária, encabeçada por Emerson Soares, entrou com um pedido de impugnação específico contra Dene — mesmo enfrentando, segundo denúncias, uma série de irregularidades internas. Advogados inadimplentes, ausência de documentos essenciais e falta de autorizações foram apontados como entraves para o registro da chapa, mas não impediram sua liberação.
Inicialmente, o relator do processo, Dr. Wanderley Cesário, votou pela manutenção da candidatura de Dene, reconhecendo sua legitimidade. Porém, o conselheiro Dr. Mário Rosas apresentou voto divergente, alegando motivos que, na visão de Dene e seus apoiadores, carecem de fundamentação jurídica sólida e revelam vínculos políticos e pessoais que comprometem a isenção esperada.
As críticas aumentaram quando o próprio Rosas foi designado para relatar o processo da chapa de Soares — a mesma que, apesar de irregularidades evidentes, teve sua candidatura mantida. “O voto divergente do doutor Mário Rosas, que todo mundo conhece em Cruzeiro do Sul e suas relações de amizade na cidade, foi um voto sem qualquer embasamento jurídico”, disse Dene, reforçando o tom de indignação com o andamento do processo.
O presidente da Comissão Eleitoral, Dr. Lauro Borges, chegou a reconhecer publicamente os problemas na documentação da chapa de Soares, afirmando a impossibilidade legal de sua manutenção. Ainda assim, um prazo extraordinário foi concedido para que a chapa regularizasse as pendências — prazo que, segundo relatos, venceu sem as devidas correções.
Diante do cenário, Rafael Dene decidiu se afastar da liderança da chapa para não comprometer o projeto coletivo construído ao longo dos últimos anos. “Não vamos entrar na Justiça para garantir meu nome na cabeça da chapa, porque o nosso projeto é coletivo, não individual”, afirmou, sinalizando uma postura conciliadora, mas firme quanto aos princípios que defende.
A decisão, para muitos, simboliza um gesto de grandeza política diante de um ambiente que Dene e seus apoiadores classificam como hostil e marcado por decisões seletivas. Para outros, reflete o descompasso entre o discurso institucional da OAB/AC e a prática nos bastidores.
Comparações com o atual presidente da seccional, Rodrigo Aiache, também foram feitas. Dene relembrou que Aiache gravou um vídeo em 2021 afirmando que não seria candidato à reeleição, o que acabou não se concretizando. “Dr. Aiache, como já é de praxe no seu meio, praticou o estelionato eleitoral: promete mundos, mas entrega e faz fundos”, criticou.
A nova eleição da subseção do Juruá, marcada para 30 de maio, das 8h às 17h, vai além da escolha de um novo representante: tornou-se um símbolo da luta por justiça, ética e transparência dentro da própria Ordem. O desfecho deste processo eleitoral pode repercutir amplamente dentro da advocacia acreana e fortalecer o debate sobre o papel da OAB na defesa dos próprios valores que prega.
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