O indígena Elcio Severino da Silva Filho Manchineri, conhecido como Júnior Manchineri, concluiu o curso de Ciências Sociais na Universidade Federal do Acre (Ufac) e participou da colação de grau utilizando elementos tradicionais do seu povo. Na cerimônia , ele usou parte do traje cultural Manchineri, reafirmando sua ancestralidade e o direito à expressão identitária no espaço acadêmico.

Joenia Wapichana, presidenta da FUNAI, junto de Junior utilizando os trajes/Foto: Cedida
Júnior vestiu um acessório de cabeça e uma peça têxtil artesanal sobre os ombros, inspirados na Cusma, indumentária tradicional dos Manchineri. A Cusma é uma vestimenta de corpo inteiro confeccionada com algodão e marcada por grafismos indígenas, produzida por mulheres que dominam a arte da tecelagem em seu povo. No caso de Júnior, o grafismo escolhido foi o da pata da onça, símbolo de força e ancestralidade na cultura Manchineri.
As peças usadas por ele foram feitas sob encomenda por uma artesã de sua família, mantendo as técnicas tradicionais. Segundo Júnior, o uso do traje representa mais que uma escolha estética: é uma manifestação cultural e política de pertencimento. Ele explicou que esses elementos são comumente utilizados em eventos culturais importantes e reuniões institucionais, como espaços de governo e movimentos indígenas.
Durante a cerimônia de formatura, Júnior destacou o respeito e a abertura da equipe de cerimonial da Ufac para a incorporação de trajes e símbolos culturais diversos. Além dele, outras estudantes também marcaram presença com expressões visuais próprias, como vestes religiosas ou acessórios tradicionais de outros povos indígenas, como o Apurinã.
Júnior também ressaltou a importância do fortalecimento de ações coletivas dentro da universidade, como o Coletivo de Estudantes Indígenas da UFAC (CEIUFACs) e a UPEX (PET Conexões de Saberes: Comunidades Indígenas), que promovem atividades de extensão voltadas à valorização dos saberes tradicionais em diferentes áreas.

A universidade permitiu que o jovem pudesse utilizar os trajes/Foto: Cedida
“O ingresso e a permanência do estudante indígena na universidade são desafios reais. Por isso, momentos como esse, em que podemos expressar nossa cultura com liberdade, são simbólicos e fortalecem não só a nossa trajetória, mas também a presença indígena no ensino superior”, afirmou Júnior.
“O grafismo da pata da onça que carrego representa a força do meu povo. É pela arte e pela cultura que reafirmamos quem somos”, concluiu.