Em Cruzeiro do Sul, uma família vive um drama silencioso e doloroso há mais de duas décadas. Aos 58 anos, Francisco Socorro é conhecido por muitos que transitam pelas ruas da cidade, mas para seus filhos, ele é mais que uma figura marcada pelo abandono: é o pai que, um dia, teve lar, afeto e sonhos — e que hoje vive imerso no vício das drogas e longe do convívio familiar.
A história de Francisco é marcada por repetidas tentativas de resgate feitas pelos filhos. Em pelo menos quatro ocasiões, eles conseguiram interná-lo no hospital, onde ele recebeu atendimento médico e foi medicado. No entanto, todas essas tentativas esbarraram na ausência de encaminhamento para uma clínica de reabilitação, o que inviabilizou o início de um tratamento contínuo.
Além do vício, episódios de agressividade têm se tornado frequentes. Segundo relatos da família, Francisco coloca em risco não apenas a própria vida, mas também a segurança de outras pessoas. Diante da escalada de instabilidade e do risco iminente, os filhos recorreram à Justiça e à Defensoria Pública na tentativa de garantir uma internação involuntária.
Mas os entraves legais têm frustrado a família. A atual legislação só permite dois tipos de internação: a voluntária (com consentimento do dependente) e a involuntária (que exige laudo médico e decisão judicial). A internação compulsória, feita sem qualquer consentimento e respaldo técnico, foi abolida com a reforma da lei antimanicomial.
O caso está sendo acompanhado pelo Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas), mas o órgão ressalta que sua atuação se limita a abordagens e orientações — e que não tem autorização legal para solicitar internações compulsórias.
Segundo o defensor público Diego Luiz Sales, mesmo nos casos com indícios de comportamento agressivo e risco à vida, a tramitação para internação involuntária pode ser burocrática e demorada, exigindo um parecer técnico com base legal.

