O reflexo das águas dos igarapés, o verde-floresta, o abrigo às margens dos rios e o afeto com os animais rememoram uma infância afoita, alegre e entrecruzada por duas naturezas vitais: o ecossistema composto por espécies, solos e luzes que irradiam sobre os vastos campos da fazenda Jaibara, no município de Feijó, distante cerca de 363 quilômetros da capital Rio Branco, no Acre, despontando um sol vívido e vibrante no esplendor de um horizonte chamado Amazônia.
A segunda natureza remete a um menino cuja curiosidade é latente. Atento, ele observa o movimento da vida em plena mata, no correr das águas, na expressão dos olhos e gestos dos bichos, e no som que ecoa longe…
Assim, o jovem Ranyere Lucena de Souza, hoje com 38 anos, chamava atenção dos pais Sebastião Silva Souza e Maria do Socorro Lucena de Souza, que observavam no filho um aspecto perspicaz e inquieto. Ele buscava respostas para tantas questões sem imaginar um futuro envolvo a pesquisa e a pujança do conhecimento científico que adquiriria ao longo de uma jornada exitosa na Engenharia Ambiental, formação acadêmica que lhe rendeu experiências em toda sua trajetória pessoal e profissional.

Acreano é pós-doutor pela Universidade do Canadá/Foto: Reprodução
Assim, aos 12 anos de idade Ranyere deixa sua pacata Feijó e sua escola Raimundo Augusto de Aráujo, e sob as bençãos de seus pais segue para morar em Rio Branco (onde estuda por dois anos no colégio Meta), indo em seguida para Sergipe. Já residindo em Aracaju, o jovem acreano tinha em mente uma certeza: “quero estudar algo relacionado ao meio ambiente, a natureza e a sua preservação. ” Este impulso, certamente veio de minhas origens, do contato com a floresta e da certeza que o futuro dependia de ações concretas de preservação do meio ambiente”. Hoje, Professor Doutor da Universidade Tiradentes – UNIT, pesquisador do Instituto de Tecnologia e Pesquisa – ITP, em Sergipe, ele celebra 10 anos de dedicação a docência e a pesquisa, após retornar de um Pós-Doutorado no Canadá, na University of Victoria (UVic) na Columbia Britânica.
Acreano ressalta que a paixão pelo novo, pela busca e ampliação do conhecimento humano/Foto: Reprodução
Ranyere contou um pouco sobre suas vivências em terras canadenses, na companhia da esposa, a também engenheira ambiental Natalia Oliveira, 39, e da filha de cinco anos, Maria Flor, uma relação que iniciou há 15 anos quando eles se conheceram numa viagem para Fortaleza para participar de um congresso da universidade, e depois de alguns anos se casaram e iniciam um percurso de sonhos juntos. Já graduado em Engenharia Ambiental, Ranyere segue para o mestrado e doutorado em Engenharia de Processos, um ramo da Engenharia Química, cuja pesquisa abrangeu a área de biocatálise para a produção de biodiesel (mestrado), e de processos de separação e purificação de biocompostos (doutorado).
Ranyere mora com a família no Canadá/Foto: Reprodução
Durante os seus primeiros anos como pesquisador no estado de Sergipe, recebeu o Prêmio João Ribeiro nas categorias Junior (2014) e Sênior (2018), que destaca os melhores pesquisadores de Sergipe daquele ano. Atualmente, Ranyere é Bolsista de Produtividade em Pesquisa – Nível 2 (PQ-2) na área de Engenharia Química do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, a renomada entidade ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações no Brasil. Ser bolsista produtividade do CNPq é altamente gratificante para quem se dedica à pesquisa no Brasil. Para muitos, é um indicativo de que o pesquisador está entre os mais produtivos e qualificados do país em sua área de atuação.
Fascinado pela ciência e consequentemente pela pesquisa, este acreano ressalta que a paixão pelo novo, pela busca e ampliação do conhecimento humano, seu ideal é permanecer num mundo em que explorar a fronteira do conhecimento, faz de sua rotina uma fuga dos métodos cartesianos, e que essa obstinação pela análise o levou a submeter um projeto de Pós-Doutorado, através do CNPq, sendo aprovado em 7º lugar no Brasil.
Ele teve seu projeto aprovado em 7º lugar no Brasil/Foto: Reprodução
Ao entrar em contato com seu supervisor, suas perspectivas ampliaram, e posteriormente Ranyere já era um morador da cidade de Victoria, localizada no extremo Sul da ilha de Vancouver, vivendo uma nova vida com sua família, num cotidiano dividido entre a sala de aula, laboratórios, bibliotecas, aprofundado em novas tecnologias e na compreensão de mecanismos de produção de biocatalisadores para melhorar a eficiência e a produção de combustíveis de aviação.
Ele consegue apoiar um de seus alunos de doutorado da Universidade Tiradentes para realizar seus estudos no país norte americano/Foto: Reprodução
Instalado no Canadá, ele consegue apoiar um de seus alunos de doutorado da Universidade Tiradentes para realizar seus estudos no país norte americano. Ranyere seguia com outras linhas pesquisa, orientando alunos por videochamadas no Brasil. Um dos trabalhos foi destaque em rede nacional, sendo veiculado na CNN Brasil sobre a produção biogás utilizando reatores sustentáveis e inteligentes, utilizando inteligência artificial
“Foi impactante mudar toda rotina da nossa família, reconfigurar valores sobre comunidades, culturas e conservação do meio ambiente. Isso nos trouxe muito crescimento pessoal e resiliência. Penso que toda formação e atuação de qualquer pesquisador precisa de incentivos em todos os aspectos, desde a perseverança, disciplina e compromisso nos estudos, a família, à universidade, à própria mídia, que exerce o papel fundamental de divulgar e estimular o conhecimento para que a sociedade tenha o direito de ser informada acerca de tudo que acontece na corrida pelo conhecimento e por soluções dos problemas que ocorre no mundo”, diz o professor.
Após os dias em que revive lembranças da infância e da vida no Acre, ele mantém em seus planos a perspectiva de estudos em biocombustíveis/Foto: Reprodução
Ranyere projeta seu retorno para Universidade Tiradentes para agosto, após os dias em que revive lembranças da infância e da vida no Acre, e mantém em seus planos a perspectiva de estudos em biocombustíveis. Em Sergipe temos pesquisas, cuja ideia é valorar resíduos e transformá-los em uma especie de “petróleo verde” – conhecido como bio-óleo. A pesquisa pretende viabilizar a transformação de resíduos agrícolas e urbanos, tais como lodos de estação de tratamento de esgoto, casca do coco verde, que permite a produção de biocombustível, tais como bioquerosene de avião, diesel verde ou gasolina verde. “Esse é o futuro sustentável para o Brasil e o mundo. Nosso planeta precisa de soluções e garantias de que as próximas gerações terão um meio ambiente preservado, oferecendo bem estar, qualidade de vida, cidadania, dignidade e justiça social para todos. Fico muito feliz em retornar, mesmo que por poucos dias, para sentir novamente as minhas raizes, os cheiros e o calor da minha terra. Espero, de alguma forma, poder ajudar mais esse povo e colocar o Acre como referencia em sustentabilidade – afinal este foi meu propósito quando em 2001 saí para Sergipe ”.