Segundo a denúncia, o indígena foi morto de forma cruel por integrantes da facção Comando Vermelho, após suspeita de que teria dado guarida a dois parentes ligados ao PCC. O promotor de Justiça Carlos Pescador, que atuou no caso, detalhou a dinâmica da execução:
“O Ribamar era um indígena que ficava entre a aldeia e a cidade. Ele fazia uso de drogas e numa dessas vindas para comprar mantimentos foi abordado por dois adultos e dois adolescentes. Isso porque, dias antes, ele havia recebido parentes de Manoel Urbano, dois homens e uma mulher supostamente ligados ao PCC. A partir disso, começaram a questionar quem eram essas pessoas, mandaram fotos para conhecidos e confirmaram a ligação deles com a facção. Por dar guarida a essas pessoas, o Ribamar foi levado da casa dele no dia 7 de janeiro de 2022.”
De acordo com os autos, a vítima foi mantida inicialmente em um ponto conhecido como Cantoneira, onde teria tentado negociar sua vida.
“Ele dizia: ‘não me matem que eu vou na aldeia matar esses dois primos’. Levaram ele até a aldeia, mas quando pediu passagem, os parentes já desconfiavam do desaparecimento e responderam a bala. Não conseguiram atravessar o rio e voltaram com ele para a Cantoneira”, explicou Pescador.
Durante a madrugada, Ribamar foi conduzido até a mata por um grupo de seis pessoas.
“O mais triste é que obrigaram ele a cavar a própria cova por duas, três horas. Ele cavou, entrou, deitou na cova. Um deles atirou, mas nenhum disparo o acertou. Então entraram na cova, deram um golpe no peito e o degolaram. Foi uma cena dantesca, na frente de adolescentes, o que configura corrupção de menores”, disse o promotor.
O MPAC denunciou os 11 acusados por homicídio qualificado, corrupção de menores e participação em organização criminosa . Parte deles foi absolvida do homicídio por não estar presente na execução final, mas todos foram condenados pelos crimes de organização criminosa e corrupção de menores.
“Alguns só participaram levando a vítima de um ponto a outro, por isso não foram condenados pelo homicídio. Mas todos foram responsabilizados por integrar a facção e por corromper adolescentes, porque essa foi uma conduta coletiva”, afirmou Pescador.
Dos 11 acusados, 10 compareceram ao julgamento. Apenas uma ré, a única mulher, foi condenada em regime semiaberto; os demais receberam penas em regime fechado .
Um episódio paralelo ocorreu nos dias de julgamento. Isaquéu Sousa Oliveira, um dos acusados considerados peça central no crime, não compareceu e foi morto em Feijó enquanto o júri ocorria em Rio Branco.
“Isaquéu era apontado como responsável principal. Ele começou a falar com pessoas do PCC em Envira, no Amazonas. Quando foram obrigá-lo a assumir sozinho o crime, ele se negou. Acabaram pegando o celular dele, descobriram essas conversas e o executaram da mesma forma que mataram o indígena: em uma cova rasa, com um degolado. Isso aconteceu durante o julgamento, entre os dias 1º e 2”, relatou o promotor.
O MPAC destacou que o caso evidencia o poder crescente das organizações criminosas em áreas indígenas e cidades do interior do Acre.
“Esse é um crime que levanta muitas questões sobre a entrada das facções nas aldeias. Quem está em Rio Branco talvez não tenha a dimensão, mas em municípios como Feijó, Tarauacá, Manoel Urbano e Santa Rosa o impacto é grande. É um desafio para o nosso estado lidar com essa realidade”, concluiu Carlos Pescador.


