A queda da inflação, o mercado de trabalho ainda aquecido e o câmbio explicam o resultado positivo do comércio no mês de agosto, que registrou alta de 0,2% após quatro meses de variações negativas. A pequena alta no mês, diz Georgia Veloso, pesquisadora da FGV, foi fortemente influenciada pelo segmento de eletrônicos, informática e material de escritório, que teve aumento de 4,9% em relação a julho, impulsionado pela forte valorização do real frente ao dólar em agosto. Já José Ronaldo Souza, professor de Economia do Ibmec-RJ, chama atenção para o crescimento de 0,4% nos hipermercados e supermercados. Apesar da alta modesta, esse segmento tem maior peso no comércio, segundo os dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE. O cenário de estagnação, no entanto, permanece, afirmam os dois economistas.
– Esse movimento é explicado pelo mercado de trabalho ainda aquecido e, principalmente, pela redução da inflação, especialmente a de alimentos. Embora outros segmentos tenham registrado crescimento, esse é o setor mais relevante, que gera um impacto bastante significativo para o comércio. No dado anual, há um crescimento de 1,6%. Não é um crescimento brilhante, mas a tendência agora não é mais de alta, embora não estejamos vivendo uma crise – avalia Souza.
Na avaliação de Georgia Veloso, além da questão cambial, é difícil apontar outro fator macroeconômico que possa influenciar positivamente o comércio até o fim do ano:
– Não há expectativa de queda na taxa Selic, e o endividamento segue elevado. Esses fatores criam um gargalo para o consumo. Apesar do ambiente extremamente positivo em relação ao emprego, o impacto no varejo não é compatível. O quarto trimestre costuma ser mais aquecido para o varejo, mas a perspectiva é mesmo de desaceleraçã
Souza concorda e avalia que a pequena alta de agosto, com as revisões, pode até inverter o sinal:
-O quadro geral é de desaceleração da economia como um todo neste segundo semestre. Essa alta de 0,2% é pouco significativa, ainda mais por ser um número com ajuste sazonal, que pode se alterar com as revisões, podendo ficar em zero ou até passar para o negativo. Portanto, um número próximo de zero que não muda a visão de um segundo semestre de arrefecimento da economia brasileira.

