As polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro explicaram nesta quarta-feira, 29, a estratégia usada na megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio, que resultou em 119 mortos – sendo 115 suspeitos de envolvimento com o tráfico e Comando Vermelho, além de quatro agentes de segurança. A ação, considerada o mais letal da história do estado, foi planejada durante 60 dias e teve como principal elemento tático o chamado “muro do Bope”.
Segundo o secretário de Polícia Militar, coronel Marcelo Menezes, o “muro do Bope” consistiu na ocupação da área de mata conhecida como Misericórdia, usada tradicionalmente como rota de fuga pelos criminosos. Tropas do Batalhão de Operações Especiais foram posicionadas na parte mais alta do terreno, bloqueando a saída dos traficantes enquanto outras unidades avançavam pelas favelas, “empurrando” os suspeitos para a região sem moradias.
“Incluímos a incursão de tropas do Bope para a parte mais alta da mata da Misericórdia, criando um muro do Bope e fazendo com que os marginais fossem empurrados para essa área. Nosso objetivo principal era proteger as pessoas de bem da comunidade. A maior parte do confronto se deu na mata, e foi uma opção dos marginais”, afirmou Menezes.
O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, reforçou que a escolha da área de confronto teve como finalidade reduzir o risco para os moradores. Ele reconheceu que “a alta letalidade era previsível, mas não desejada”, e declarou que as únicas vítimas foram os quatro policiais mortos.
“Optamos por deslocar o contato com os criminosos para a área de mata, onde eles efetivamente se escondem e atacam os policiais. A opção foi feita para preservar a vida dos moradores”, disse Santos.
A operação resultou em 113 prisões e na apreensão de 118 armas. Para o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, o resultado representa “o maior baque da história do Comando Vermelho”. Ele exibiu vídeos de confrontos gravados por câmeras corporais e defendeu a ação das forças de segurança, afirmando que “o policial é o herói”.
Enquanto as autoridades classificam a operação como um sucesso, familiares de mortos relataram a entrada de moradores na mata para resgatar corpos não recolhidos pelas forças de segurança. Questionado sobre o tema, Santos afirmou que “os policiais não sabiam da existência desses corpos” e que, em condições de combate em área de mata, “é impossível realizar qualquer outra ação além de preservar a própria vida”.

