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Megaoperação para conter avanço do CV no Alemão e na Penha tem ao menos 20 mortos; dois eram policiais civis

Uma megaoperação das polícias Civil e Militar nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio, deixou dois policiais civis mortos e ao menos outro oito agentes feridos, na manhã desta terça-feira. De acordo com a Polícia Civil, 18 suspeitos foram mortos, dois deles da Bahia. Quatro moradores também foram atingidos. O objetivo da ação é cumprir mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho (CV), 30 deles de fora do Rio, escondidos nos dois conjuntos de favelas, identificados pela investigação como bases do projeto de expansão territorial do CV. Até o fim da manhã, 56 pessoas foram presas e 31 fuzis foram apreendidos na ação, que mobiliza 2,5 mil policiais e também promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ).

Quem são os baleados

  • Marcos Vinicius Cardoso Carvalho – policial civil da 53ª DP (Mesquita) que era conhecido como Máskara. Ele morreu no Hospital estadual Getúlio Vargas
  • Policial civil da 39ª DP (Pavuna) – morto momentos após chegar ao Hospital Getúlio Vargas
  • Três policiais civis – lotados na 38ª DP (Irajá), na 26ª DP (Todos os Santos) e na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE)
  • Cinco policiais militares
  • Dois homens apontados como traficantes vindos da Bahia, que morreram em confronto na chegada das equipes
  • Quatro moradores

Um cabo do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi o primeiro a ser atingido durante o confronto. Ele estava numa região de mata conhecida como Vacaria e foi ferido de raspão, segundo a PM. O agente foi levado para o Hospital Central da corporação. Estão feridos ainda um morador em situação de rua que não foi identificados, e outros três moradores: Fernando Vinícius Lopes, Kelma Rejane Magalhães e Daniel Mello dos Santos. Kelma estava numa academia quando foi atingida na região dos glúteos. Todos têm estado de saúde estável. Já entre os presos está o operador financeiro de Edgard Alves de Andrade, o Doca, apontado como um dos principais chefes da cúpula do CV na Penha.

Alemão e Penha são alvos de megaoperação para conter avanço do CV — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Alemão e Penha são alvos de megaoperação para conter avanço do CV — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Moradores dos conjuntos de favelas, formados por 26 comunidades, usam as redes sociais para relatar intensos tiroteios. Fogo foi ateado em barricadas e foi possível ver colunas de fumaça à distância. Policiais foram atacados por granadas lançadas por drones, afirmou o secretário de Segurança Pública, Victor dos Santos, em entrevista ao Bom Dia Rio. O telejornal mostrou ainda criminosos fugindo por uma área de mata. Há desvios em linhas de ônibus e unidades de saúde e educação com funcionamento suspenso.

A ação que visa a capturar chefes do tráfico do Rio e de outros estados e combater a expansão territorial do CV acontece após de mais de um ano de investigações. Segundo o Gaeco, são cumpridos 51 mandados de prisão expedidos contra traficantes que atuam na região, e um total de 67 pessoas denunciadas pelo crime de associação para o tráfico, além de três homens denunciados também por tortura.

De acordo com os promotores, Doca é a principal liderança do CV no Complexo da Penha e em comunidades como Gardênia Azul e César Maia, na Zona Sudoeste, e Juramento, na Zona Norte, algumas delas recentemente tomadas da milícia. A denúncia do MPRJ aponta ainda que exercem liderança no CV Pedro Paulo Guedes, conhecido como Pedro Bala; Carlos Costa Neves, o Gadernal; e Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão.

“Eles emitem ordens sobre a comercialização de drogas, determinam as escalas dos criminosos nas ‘bocas de fumo’ e nos pontos de monitoramento, e ordenam execuções de indivíduos que contrariem seus interesses”, afirma o Gaeco em nota. A denúncia diz ainda que, por estar perto de algumas das principais vias expressas do Rio e ser ponto estratégico para o escoamento de drogas e armamentos, o Complexo da Penha se tornou uma das principais bases do projeto expansionista do CV, especialmente em direção a comunidades da região de Jacarepaguá, na Zona Sudoeste carioca.

Participam também da operação desta terça-feira, chamada de Contenção, policiais militares do Comando de Operações Especiais (COE) e das unidades operacionais da PM da capital e da Região Metropolitana. A Polícia Civil mobilizou agentes de todas as delegacias especializadas, das distritais, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), do Departamento de Combate à Lavagem de Dinheiro e da Subsecretaria de Inteligência.

É usado ainda aparato tecnológico, como drones, dois helicópteros, 32 blindados terrestres e 12 veículos de demolição do Núcleo de Apoio às Operações Especiais da PM, além de ambulâncias do Grupamento de Salvamento e Resgate.

Bandidos lançaram granadas

Em uma demonstração inédita de poder bélico, traficantes utilizaram drones para lançar granadas contra equipes das forças especiais da Core e do Bope. A tática representa uma nova escalada no poder de fogo do crime organizado no Rio e tem como objetivo conter o avanço da operação e proteger a alta cúpula da facção.

Para atacar os policiais, os criminosos acionam um gatilho mecânico ou elétrico que libera a carga enquanto mantêm o equipamento em voo, afastando-se sem se expor. Além de funcionar como um “bombardeiro” improvisado, o drone também é usado como instrumento de reconhecimento para orientar as reações das quadrilhas.

Imagens desta terça-feira mostram ainda barricadas em chamas, formando colunas de fumaça visíveis a quilômetros de distância.

A forte resistência à ação policial se explica pelo fato de que os complexos do Alemão e da Penha funcionam como o “QG” da facção, locais onde ocorrem reuniões da cúpula criminosa. A Penha foi apontada pelo MPRj como uma das principais bases estratégicas do Comando Vermelho (CV) para implementar seu projeto de expansão territorial rumo à Zona Sudoeste, especialmente na região de Jacarepaguá. A informação consta em denúncia apresentada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ).

Impactos

Por causa da operação, 46 unidades de educação municipais fecharam as portas. Vinte e nove delas ficam no Alemão e outras 17, no Complexo da Penha.

Cinco unidades de Atenção Primária que atendem a região da Penha e do Complexo do Alemão suspenderam o início do funcionamento, informou a Secretaria municipal de Saúde. De acordo com a pasta, elas avaliam a possibilidade de abertura nas próximas horas. Uma clínica da família mantém o atendimento à população, mas suspendeu as atividades externas, como as visitas domiciliares.

De acordo com o Rio Ônibus, 12 linhas de ônibus estão com seus itinerários desviados preventivamente para a segurança de rodoviários e passageiros na Penha e no Complexo do Alemão.

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