Fuga ou liberdade temporária? Desde que o presidente Volodymyr Zelensky flexibilizou as regras de mobilização militar, quase 100 mil homens ucranianos em idade de combate deixaram o país em apenas dois meses. Segundo a Guarda de Fronteira da Polônia, 99 mil jovens entre 18 e 22 anos cruzaram a fronteira desde agosto, após o governo suspender a proibição que impedia homens dessa faixa etária de sair da Ucrânia durante a guerra.
De acordo com o jornal The Telegraph, a mudança marcou uma ruptura significativa na política adotada desde o início da invasão russa, em 2022, quando todos os homens entre 18 e 60 anos foram obrigados por lei a permanecer no país sob lei marcial. A medida visava garantir efetivo suficiente para o exército ucraniano, que enfrenta dificuldades para substituir soldados mortos ou feridos em combate. Estimativas de autoridades americanas indicam que entre 60 mil e 100 mil militares ucranianos já morreram desde o início do conflito.
Êxodo crescente e impacto na Europa
A nova onda migratória representa um salto expressivo em relação aos 45,3 mil ucranianos que haviam entrado na Polônia nos seis meses anteriores. Muitos desses jovens seguem viagem para a Alemanha, ampliando o debate político interno sobre o acolhimento de refugiados. Dados do portal alemão BR24 indicam que o número semanal de homens ucranianos chegando ao país subiu de 19 para mais de 1.000 em setembro — e, em outubro, variava entre 1.400 e 1.800.
A Alemanha, conhecida por sua política migratória relativamente flexível, enfrenta agora pressão crescente da oposição de direita. Jurgen Hardt, chefe da política externa do partido conservador CDU, afirmou ao Politico que o país “não tem interesse em que jovens ucranianos passem seu tempo na Alemanha em vez de defender seu país”, pedindo medidas para conter o fluxo. Grupos da extrema-direita foram além, exigindo o fim dos auxílios aos refugiados e do apoio militar a Kiev.
Enquanto isso, o governo ucraniano tenta equilibrar a necessidade de reforçar suas tropas com a fuga de jovens em idade militar. A idade mínima para o alistamento obrigatório foi reduzida de 27 para 25 anos em abril de 2024, numa tentativa de ampliar o número de recrutas. A nova política de saída, por outro lado, foi pensada para desestimular famílias a enviar adolescentes para o exterior antes de completarem 18 anos — e, ao mesmo tempo, incentivar que jovens retornem futuramente para se voluntariar no esforço de guerra.
Para efeito de comparação, segundo o Daily Mail, o exército britânico possui cerca de 70 mil soldados — número inferior à estimativa de baixas ucranianas. Com a guerra entrando em seu terceiro ano e as frentes de batalha ainda ativas, Kiev enfrenta o desafio de repor seu contingente sem perder o apoio de uma geração que, em meio ao medo e à incerteza, busca escapar antes de ser chamada ao combate.

