Em discurso no Parlamento de Israel, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que o acordo firmado entre os israelenses e o Hamas sobre a Gaza , na semana passada, é o “início de uma era de harmonia” no Oriente Médio. Sob aplausos, Trump afirmou que os israelenses “ganharam tudo que podiam” com o plano e com os dois anos de guerra, que garantiu ter terminado. Ele ainda reservou elogios ao premier Benjamin Netanyahu, incluindo um nada protocolar pedido para que um processo criminal que pode levá-lo à prisão seja abandonado.
— Após dois anos angustiantes na escuridão e no cativeiro, 20 reféns corajosos estão retornando ao glorioso abraço de suas famílias. Mais 28 entes queridos preciosos estão finalmente voltando para casa para descansar neste solo sagrado para sempre — disse Trump, afirmando que a região está “em paz”, e expressando seu desejo para que permaneça assim “por toda a eternidade”. — Israel, com a nossa ajuda, ganhou tudo o que podia. Afastamos uma grande nuvem do Oriente Médio e de Israel.
O presidente disse que a guerra, que segundo ele acabou (apesar do acordo firmado na semana passada se tratar apenas da primeira fase do plano), era “o fim de uma era de terrorismo e morte”. Trump mencionou que o Hamas, responsável pelos ataques de outubro de 2023, será desarmado, conforme previsto em seu plano, mas esse é um tema complexo das negociações, e que será tratado mais a fundo futuramente.
— Esse é um amanhecer histórico de um novo Oriente Médio — disse Trump, em um tom similar ao usado por outros presidentes americanos nas últimas décadas após acordos sobre a paz na região. — É o início de uma grande concórdia e harmonia duradoura para Israel e todas as nações do que em breve será uma região verdadeiramente magnífica. Acredito nisso com muita convicção.
Trump reforçou o compromisso dos EUA com a segurança de Israel, dizendo que os EUA se juntam ao país “nestes dois votos eternos: nunca esquecer e nunca mais”.
— Em todo o Oriente Médio, as forças do caos, do terror e da ruína que assolam a região há décadas estão agora enfraquecidas, isoladas e totalmente derrotadas — afirmou. — Por nossa causa, todos os inimigos da civilização estão recuando.
Enquanto elogiava o negociador-chefe da Casa Branca, Steve Witkoff — comparado por ele a Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford —, dois deputados de oposição pediram que o presidente americano “reconheça a Palestina”, e foram expulsos do local após uma breve confusão. Trump, ao retomar a palavra, comentou que a segurança “foi muito eficiente”.
Também foram destinadas palavras calorosas a Marco Rubio, chamado de “o maior secretário de Estado de todos os tempos”, a Pete Hegseth, secretário da Guerra, e a Netanyahu, descrito como “um dos maiores presidentes (sic) em tempos de guerra”. Ele não citou as altercações verbais entre os dois, reveladas por assessores, durante as semanas que antecederam o acordo para Gaza, mas pediu que o presidente de Israel, Isaac Herzog, o livrasse o premier dos processos que podem levá-lo à prisão.
— Ei, tive uma ideia. Por que você [Herzog] não lhe concede um perdão? — afirmou, diante de olhares um tanto quanto confusos no plenário. — Charutos e champanhe, quem se importa com eles, certo? Chega de polêmica por hoje, certo?
O ponto central do processo é a acusação de que Netanyahu recebeu presentes de alvo valor — incluindo charutos e champanhe — para beneficiar empresários do setor de mídia e entretenimento. Ele nega as alegações e afirma que o processo tem motivações políticas.
Reféns israelenses são libertados pelo Hamas
Ao falar das nações árabes, cruciais para o acordo, além de agradecê-las, disse que o apoio para o plano veio “de pessoas que não esperávamos”.
— É um triunfo incrível para Israel e para o mundo ter todas essas nações trabalhando juntas como parceiras na paz. É bastante incomum ver isso, mas aconteceu — declarou Trump, expressando o desejo de que outros países se juntem aos chamados Acordos de Abraão, um plano criado no primeiro mandato do republicano para de normalização de laços entre Israel e países árabes. — O mundo está amando Israel novamente.
Como de hábito, a fala incluiu uma boa dose de autoelogios. Ele reafirmou que encerrou “oito guerras” como presidente, citando o retorno dos reféns como uma de suas grandes vitórias, e declarou ser uma pessoa que preza pela paz. A fala foi pontuada por menções ao poderio militar americano e aos seus planos para incrementar o papel dos militares dentro dos Estados Unidos — Trump citou o ataque contra instalações nucleares iranianas, em junho, sugerindo que seria interessante firmar um acordo com Teerã, que o regime hoje “quer apenas sobreviver” e que não “voltará a furar buracos no solo”, referência à retomada das atividades atômicas.
— Paz pela força, é disso que se trata — disse Trump. — [Se formos à guerra] venceremos essa guerra como ninguém jamais venceu uma guerra antes. Não seremos politicamente corretos.
Seus dois antecessores no cargo, Joe Biden e Barack Obama, receberam menções pouco elogiosas: Obama, por exemplo, foi criticado por ter firmado o acordo nuclear com o Irã em 2015, rasgado pelo republicano em 2018. Biden foi chamado de “o pior presidente da História”. No plenário, as declarações foram recebidas com aplausos.
Antes do discurso de Trump, o presidente do Parlamento israelense, Amir Ohana, prestou uma longa homenagem ao presidente americano, a quem chamou de “um gigante da história judaica” que será lembrado pelo povo judeu por “milhares de anos”. O premier israelense Benjamin Netanyahu discursou em seguida e se referiu ao americano como “maior amigo que o Estado de Israel já teve na Casa Branca”.
— Presidente Trump, o Knesset dá-lhe as boas-vindas assim como aos distintos membros de sua comitiva, na sua primeira visita a Israel desde que reconheceu Jerusalém como a nossa capital e transferiu a embaixada para cá. Existem muitos outros motivos para agradecer — disse Netanyahu.
Nas redes sociais, o premier israelense publicou um vídeo no qual aparece ao lado de Trump. “Orgulhoso de receber o presidente Trump no Knesset israelense. Este é um dia histórico para o povo de Israel”, escreveu Netanyahu.
Após o discurso, Trump seguirá para o Egito, onde participará de uma reunião com outros 20 líderes mundiais sobre o fim da guerra em Gaza.
Ao embarcar na Base Aérea de Andrews, Trump já havia dito que a guerra havia acabado. O tema não é pacífico, uma vez que o próprio Netanyahu colocou a paz em dúvida. Em um discurso no domingo, em que não citou o presidente americano, ele disse que o fim das atividades militares dependiam da entrega de armas do Hamas e desmobilização do grupo terrorista.
— Onde quer que tenhamos lutado, vencemos — disse Netanyahu no domingo. — Mas tenho de dizer a vocês, ao mesmo tempo, que a campanha não terminou. Ainda temos importantes desafios de segurança à frente. Alguns de nossos inimigos estão tentando se reagupar e nos atacar de novo. E, como dizemos aqui, estamos de olho.
Os líderes aliados ficaram juntos por cerca de 40 minutos, no trajeto do Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Tel Aviv, até Jerusalém. Trump foi recebido com honrarias de Estado, e foi recepcionado na pista de pouso por Netanyahu e pelo presidente Isaac Herzog. Ele e Netanyahu seguiram juntos de limusine até o Parlamento, o que pode ter dado tempo para os dois conversarem sobre os gargalos do acordo.
A chegada de Trump a Israel foi festejada, em meio à libertação dos reféns. Na Praça dos Reféns, onde uma multidão se reuniu desde a madrugada para acompanhar a libertação em um telão, um coro de “obrigado, Trump” ecoou quando as imagens do Air Force One pousando foram transmitidas. Na Knesset, bonés vermelhos, do mesmo modelo do movimento Make America Great Again, foram distribuídos, com os dizeres “Trump, o presidente da paz”.
Em uma mensagem no livro de visitas da Knesser, Trump escreveu: “esta é uma grande honra para mim – um grande e lindo dia. Um novo começo”. (Com AFP)

