Com bom humor, criatividade, simplicidade e orgulho, Victor Hugo Romais de Freitas, um adolescente negro de 15 anos de Rio Branco, tem inspirado outros jovens negros a aceitarem os cabelos naturais e a ter uma rotina de autocuidado para transformar a autoestima.
Victor tem quase 32 mil seguidores nas redes sociais e compartilha vídeos com dicas de lavagem, finalização, corte, hidratação caseira e cuidados para todos os tipos de cabelo, especialmente os cacheados e crespos.
“Nesse dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, tô aqui para te lembrar que seu cabelo não é feio. Mano [sic], do liso ao crespo, todo cabelo tem sua beleza. Eu sou a prova de como o cabelo pode transformar a autoestima e a pessoa. Então, se tu alisa o cabelo, dá uma chance pro teu cabelo natural. Não vai se arrepender”, diz em um dos vídeos postados em uma rede social.
Ele contou ao g1 que foi influenciado a deixar o cabelo crescer e a cuidar melhor dos cachos quando viu um amigo, que também é negro, com o cabelo grande. Na época, com 14 anos, ele revela que não não sabia como cuidar bem dos cachos e foi procurar informações na internet.
“Percebi que o cabelo do meu amigo tinha ficado muito bonito grande, então me inspirei e isso ajudou muito na minha autoestima, que não era boa. Resolvi pesquisar mais sobre autocuidado e cabelo e, a partir disso, nasceu um interesse enorme por esse assunto”, afirmou.
O primeiro vídeo postado em seu perfil viralizou e chegou a ter quase 6 milhões de visualizações. As imagens mostravam Victor exibindo a mudança após adotar um novo corte de cabelo, o chamado corte americano, um estilo de cabelo masculino que se caracteriza pelo degradê nas laterais.
“É incrível saber que me destaco, pois não é qualquer pessoa que tem tantos seguidores com essa idade, e o melhor é saber que eu sou inspiração para várias crianças e pessoas que querem deixam o cabelo crescer”, disse.
O jovem contou ainda que começou a gravar vídeos como forma de registrar os avanços que ia tendo com as novas possibilidades de uso de seu cabelo, que variam entre o uso de tranças ao estilo black power, com um formato arredondado e volumoso.
“Sempre tive essa vontade, acho que toda criança da minha geração gosta de gravar vídeos. Só que a maioria desiste, seja por não dar certo ou pelas críticas. Quando vi que deu certo os vídeos sobre o meu cabelo do jeito que ele é, foi incrível, minha autoestima melhorou muito”, relembrou.
Após perceber que o conteúdo gerava engajamento, o adolescente passou a estudar técnicas e produtos para entender mais sobre as curvaturas do fio do cacho, as técnicas de finalização, como economizar e garantir um bom visual.
“Estudei um pouco sobre como produzir vídeos na internet. Assim, entendi melhor sobre ganchos e retenção, como fazer uma pessoa continuar no vídeo nos primeiros segundos e até sobre o engajamento”, confirmou.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/e/V/2AAii7SDAmowkMjHpF8g/midia-de-distribuicao-g1-97-.jpg)
Planos para o futuro
O jovem afirma que pretende continuar produzindo conteúdo, aprimorar técnicas e transformar o conhecimento em fonte de renda, sempre mantendo o propósito principal, que é ajudar outras pessoas a se reconhecer e se orgulharem de sua aparência.
“Quero ensinar as pessoas a amar e cuidar dos seus cabelos, sejam eles lisos, ondulados, cacheados ou crespos. Isso mudou muito minha vida e quero que ajude mais pessoas a se amarem também”, destacou.
Victor Hugo estuda o 1º ano do ensino médio em uma escola pública da capital e afirmou que sonha em cursa direito para entender sobre as leis e os deveres na sociedade. O adolescente afirma que pretende continuar produzindo conteúdo, aprimorar técnicas e transformar seu conhecimento em fonte de renda.
Ele contou também que nunca sofreu discriminação nas rede sociais por ser um homem falando sobre os cuidados com os cabelos, passando dicas de cremes, que tipo de pente usar e como fazer uma boa finalização.
Entretanto, Victor relembra que já foi vítima de injúria racial e racismo ao andar na rua. “Um cara disse que meu cabelo parecia uma moita, mas também já me chamaram de cabeça de microfone. Embora eu não ligue, é chato ouvir essas coisas”, lamentou.
Apoio da família
A mãe de Victor, Marcela Queiroz de Freitas, revelou que no início estranhou a nova paixão do filho pelo trato aos cabelos, mas logo percebeu que mais pessoas poderiam se amar do jeito que são através do trabalho do filho.
Victor mora com a avó e o pai adotivo na capital, já que a mãe mora em Plácido de Castro, interior do estado acreano. Porém, mesmo distante, ela diz que acompanha e incentiva o filho na carreira como influencer dos cachos.
“Ele foi pesquisando sobre tipos de cabelo e tratamentos, e notei como isso transformou o humor dele. Ficou mais alegre e seguro. Quando viu que era algo legal, decidiu criar o perfil para mostrar a rotina dele e muita gente tem se aceitado mais através dos vídeos”, disse.