A Veja, marca franco-brasileira conhecida pelos tênis produzidos com materiais da Amazônia, utiliza borracha retirada por extrativistas do Acre para parte de sua produção. A informação foi destacada em uma reportagem do Estadão, que mostrou como funciona o modelo de trabalho criado pelos franceses Sébastien Kopp e François-Ghislain Morillion.
Conforme o jornal, a empresa movimentou € 280 milhões em 2024, cerca de R$ 1,72 bilhão, e vende seus calçados brasileiros para mais de 100 países. Mesmo com a expansão internacional, a marca afirma que continua priorizando investimentos diretos em seringueiros e agricultores familiares.
A própria Veja informou que, no último ano, comprou 900 toneladas de borracha nativa pagando R$ 18 por quilo, valor muito acima do preço comum. A matéria-prima vem de vários estados da região Norte, entre eles Acre, Amazonas, Pará e Rondônia.
Em entrevista ao Estadão, Sébastien Kopp destacou que o vínculo com comunidades amazônicas sempre foi essencial. Ele lembrou que a parceria com seringueiros acreanos começou ainda quando a marca estava se estruturando.
“Nós fomos para o Acre para encontrar seringueiros e conversar com eles para convencê-los a vender essa borracha para nós com um preço diferenciado, com 40% do pagamento antecipado”, afirmou. Segundo ele, a intenção sempre foi garantir estabilidade financeira aos trabalhadores locais.
Kopp também comentou sobre os desafios logísticos na Amazônia e disse não enxergar problemas nessa área.
“Nunca percebemos essa dificuldade de logística, porque quando começamos não sabíamos como as outras marcas faziam”, relatou. Ele explicou que a empresa criou seus próprios meios de transporte e que a convivência direta com os fornecedores faz parte da estratégia.
Além da borracha, a Veja compra algodão orgânico produzido no Brasil e no Peru, com valores bem acima da média do mercado. A cadeia sustentável da empresa inclui ainda couro rastreado e materiais reciclados.
A marca ganhou notoriedade internacional por seguir práticas fora do padrão: não investe em anúncios, trabalha com estoque reduzido e evita promoções. Para Kopp, isso reflete a visão de mundo da empresa.
“A Veja não é uma marca, é mais sobre o que pensamos do mundo”, disse. “E o que pensamos colocamos em uma marca que não faz promoções, que não está atrás do cliente da mesma maneira que outras estão.”
No Brasil desde 2005, a Veja produz hoje cerca de 4 milhões de pares por ano. A primeira loja física nacional foi aberta em 2023, em São Paulo. O plano é abrir outras unidades em diferentes regiões do país, além da América Latina e da Ásia, mas, como destaca o fundador, tudo será feito “sem pressa”.

